
Pedi para calibrar “de 35”, por influência dos três anos de convívio
com o velhito rabo-de-pato, anterior ao que tenho há oito meses. “De 35 é muito”,
advertiu um senhor que podemos tratar por gerente, na ausência da certeza de
ser o dono. Ante a minha expressão corporal de dúvida, o profissional disse que
o próprio carro trazia a indicação, informação que, para ser sincero, eu não
sabia como localizar no meu próprio bem. Lá abriu a porta e mais dúvidas não
restaram. “Obrigado, por acaso não sabia”, declarei.
A calibragem foi feita por um jovem com ar de mestre,
tendo depois entregado a mangueira a outro que regressava de uma breve ausência,
arriscaria em dizer que não passava de ajudante. Concluído o trabalho, e com o
porta-malas ainda aberto, procurei saber o custo da mão-de-obra, ao que o
ajudante prontamente respondeu: “150 kwanzas”. Pareceu-me mais barato do que em
outras recauchutagens (de rua), que cobram cinquenta kwanzas por roda, o que portanto
daria 250, incluindo a de socorro. No momento em que contabilizava as moedas em
nota e outras metálicas, sendo estas várias de um kwanza e alguns centavos de
que me procuro livrar nos últimos dias, o rapaz que acho mestre disse, com ar
de reprovação: “pode ir, isso aqui não se paga”. Virou-se para o colega e ouvi…
“como é então você”?!
Satisfeito por notar mais um gesto de honestidade,
abri de novo o porta-malas e saquei um dos dois mosquiteiros impregnados com inseticida
que ganhei no serviço. “Por teres sido honesto, dou-te este mosquiteiro”.
Alegre, o que não garante à partida que o vá usar e derrotar a malária, pôs-se
a fazer troça ao colega desonesto.
Sem deixar de considerar o lado discutível de
frases feitas e clichés, recordo certo personagem de uma telenovela
infanto-juvenil brasileira, que refutava o axioma segundo o qual “a
oportunidade faz o ladrão”. Para ele, “a oportunidade faz o furto/o ladrão
nasceu feito”.
Termino como da outra vez. Neste Facebook dominado
pela indignação (legítima) diante da corrupção e má conduta, seria injusto não
homenagearmos gestos de honestidade, já que, multiplicados, dar-nos-iam
certamente uma sociedade melhor.
Gociante Patissa, Lobito 6 Julho 2013
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