(Abre-se bruscamente a porta da cozinha. Com ela vem, tomada pela
euforia, vestida de garça, obviamente, a copeira baixinha. Não cabendo em si,
anuncia)
“A fulana nasceu! Um rapaz e uma menina!”
(A copeira altinha corresponde)
“Wau! Queria [entenda-se devia] ter festa aqui na [secção de]
gastronomia… Quando?”
“De manhã”.
(contagiada, uma cliente toma a liberdade de intervir na conversa)
“É vossa colega que teve?”
“Sim, gémeos, casal”.
(De inveja positiva, a cliente dá-se a revelar)
“Eu também queria gémeos. Como é que se faz?”
“Né…?! Ela trabalhou aqui connosco ontem. Teve hoje”.
(Da secção de take-away, junta-se, algo inconveniente, um moço)
“Não é teve, pariu!”
“Hôko!”
“Sim. Qual é o problema? A palavra está no dicionário”.
“Que pari é animal, pessoa teve, dá à luz”.
(As duas copeiras desaparecem porta adentro, aos saltos e abraços. O micro-ondas,
a quem foi confiado um prato de sopa da cliente que gostaria de ter gémeos
também, vai a caminho da rouquidão com o beep de missão completa. São já quase três
da tarde, e sinceramente começo a temer pelo desfecho do meu peixe,
literalmente esquecido na grelha ao lume, pior ainda por ser a última posta
daquela tarde. E já morna a emoção da notícia, as copeiras voltam.)
“Até dava para fazer hovya…”
“É verdade, barriga bem grande a trabalhar até meia-noite”…
Registado por Gociante Patissa, em algum mercado do Lobito, 26 Julho 2013
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