(…) Ferve chá ao lume. Pedir-te-ia o perdão, mas perdoar é entender. E não entenderias tu, bem sei, que eu tenha vivido a música, nossa eleita, sozinho. Indignar-te-á, penso eu, que tenha lavado uma taça somente na sublime rotina do serão. Que o tempo resvala, ao chão não se agarra, hoje, como ontem, percebo, mas não filtram perfis os afectos, como sabemos. Tu até és romântico, diz a vizinha, não sei porque segues só. É do mesmo que falamos? Rasteira aba de cera lembra o que foi vela. Faz-se escuro, malandramente escuro, leve aroma de fumaça. Outra música sucede, igualmente nossa, ao último gole da taça. Não há orgasmo que a cale. E amanhã, outro chá a ferver. A cama é a chaminé(…)
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