(…) Eventualmente havia imenso trabalho acumulado, a julgar pela ininterrupta percussão apipocada da máquina de dactilografar, que prodigiosamente preenchia as pausas entre as palavras.
— Mas, senhor Delegado, uma vez que estamos aqui, não podíamos falar já do assunto? — Perdido contestou.
— Delegado, nós viemos de comboio do Lobito, tem que pensar nisso… — António Veremos acrescentou.
— Alto aí! Tu não me mandas, eu sou superior hierárquico! Aliás, vê-se bem que nunca foste tropa mazé, senão batias a pala antes de me dirigires a palavra. Não entendes de disciplina militar e me apareces aqui com passe de desmobilizado de gabinete?
Veremos olhava o Delegado e via as infernais troças de Zé do Norte. E ali, — tomas! tomas! tomas! tomas! — quatro valentes muletadas da cabeça. Quando a guarnição entrou, já o chefe estava desmaiado, a sangrar. O agressor era levado à cadeia. Grito Perdido foi direitinho à Rádio Morena desabafar a injustiça da detenção de um diminuído físico. Uma corrente de solidariedade tomou corpo, levando a cabo campanha de advocacia social pela libertação e humanização do cidadão. E foi com satisfação que, na manhã seguinte, Veremos se surpreendeu com a claque de luxo pela sua causa.” (…) pág. 72, cap. 9
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