...Noite inquieta. Um salto no
escuro. As luzes iluminando as avenidas da cidade enigmática. Um salto de um
humano negro que pela noite fria trafega. Um homem negro vestido de preto. Um
homem na imensidão da solidão da cidade. A cidade sem uma viva alma. Fria e
esquecida ao menos naquela noite. O homem negro caminhava durante longas horas
percorrendo ruas e avenidas a procura de uma saída. Acordara no meio da noite.
Descera de sua morada e percorrera a cidade como se não tivesse motivo certo.
Mas percorrera. Aos poucos suas lembranças foram tomando um rumo mais provável
ao destino que o esperava. Deste modo continuava seu percurso e pelas ruas vazias
lembranças vinham a sua mente através de raios vindos dos espelhos da cidade.
Passara horas caminhando. A cidade era imensa. Uma cidade de espelhos. Moderna
e tecnológica. Não precisara de carro. A pé era um percurso certo. Cada ser
humano tinha sua hora. E nesta hora seguiria caminhos a principio confusos. Mas
que aos poucos iam se encaminhando conforme os raios vindos dos espelhos
atingissem sua mente moldando as lembranças ao destino que seria contemplado. E
foi assim que o homem negro neste momento se encontrava. A cada passo. A cada
rua. A cada avenida percorrida, raios de lembranças invadiam sua mente a ponto
de se encaixarem de forma sincronizada o levando para o lugar ideal dentro da
cidade. Quanto mais se aproximava do seu destino mais suas lembranças se
fortaleciam. Ao chegar ao local,
um prédio de espelhos de cerca de uns
cinquenta e oito andares foi incentivado pela sua mente a subir até o trigésimo
sexto andar. Entrou no prédio e começou a subir através do elevador
transparente. Chegou ao trigésimo sexto andar. Havia neste andar sete portas. O
homem negro esperou alguns segundos. Raios de lembranças não mais o invadiam a
mente. Lembrava-se que deveria fazer uma escolha de qual das portas deveria
abrir. Eram sete portas que seguiam uma seqüência de números que iam de 361 a
367. Fechara os olhos para acalmar-se. Pensara nas possibilidades que sua mente
poderia apresentar como o melhor portal a abrir. Estava em estado de alfa e seu
corpo flutuava no corredor do prédio em levitação plena. Dentro de sua mente
feixes de raios azuis percorriam todo seu cérebro. E com ele as lembranças mais
agradáveis. A velocidade dos impulsos elétricos ficara cada vez mais veloz até
descer seu corpo ao solo e abrir repentinamente seus olhos. Dera seis passos e
deparava-se de frente com a porta de número 367. Abrira a porta e encontrara um
apartamento vazio. Estava completamente vazio sem móveis algum. Andara pelas
dependências do apartamento a procura de algo que parecia importante. Da sala
passara por todos os ambientes e não encontrara nada. Pensara que sua intuição
o havia enganado e escolhera por infelicidade o portal errado. Mas preferiu
ficar calmo. Voltara novamente à sala. Ao voltar deparara-se com um imenso
espelho na parede ao lado da lareira. Pensara ser uma miragem, pois ao entrar
na sala não encontrara nada no primeiro momento. Mas como costume do povo da
cidade deveria acreditar. E foi o que fez. Dera alguns passos e ficara frente a
frente com o imenso espelho. Olhara sua imagem e gostara muito do que via.
Fechara os olhos. Suas lembranças o levaram para um imenso lago com uma casa
campestre onde seus pais moravam. Fora para ele o momento mais precioso de sua
vida. Tinha a certeza de que a felicidade plena era aquela imagem. Havia
naquele filme imagético a lembrança de amor familiar e da confiança que não
mais possuía. Possuía na verdade uma confiança que diferia da que tinha naquela
lembrança juntos aos pais na casa do lago. Resolvera abrir seus olhos e olhar o
espelho. Seus moravam muito longe em uma cidade ao sul de onde se encontrava.
Mas não era mais a casa do lado. Mesmo assim sua felicidade estava naquela casa
simples com um lago pueril. Olhara o espelho como se fosse sua última vida.
Neste momento inúmeros raios partiam de sua mente e se confundiam com o
ambiente do apartamento 367 no trigésimo sexto andar do edifício de espelhos.
Raios de luz azul que foram se compondo durante seu percurso através da cidade
indo de encontro a seu destino. E agora fluíam livres de sua mente para dentro
dela em sintonia com o ambiente. O espelho começara a ficar com um aspecto vivo
como o movimento de uma lagoa de espelhos. Erguera sua mão direita e com os
dedos seguia em direção ao espelho como a tocar. Sentia que seus dedos
atravessavam o espelho o sugando para dentro. Seu braço direito e seu corpo
inteiro atravessara o espelho até sumir da cidade de espelhos. Sua lembrança
fora atendida...
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Com lançamento previsto igualmente para Abril, sai pela editora Armazém Digital e possui três eixos importantes divididos na “A Profecia dos Mundos”, “O Mestre das Sombras”e o “Talismã de Unjon”. Juntos, esses três temas contam de forma espetacular e fantástica a história de Luanda, filha de um casal de proprietários rurais e comerciantes da era medieval que nascera durante um raro eclipse lunar em pleno dia da comemoração do festival da colheita, obtendo a proteção mística da Deusa Lunna. Ewerton Faverzani nasceu em Campo Grande-MS em 1976, atualmente radicado em Rio Branco-AC. ewertonfaverzani@gmail.com
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