A tragédia recente na localidade da Kapupa, município do Cubal, interior da província de Benguela, onde uma delegação parlamentar da Unita foi atacada com armas brancas (segundo a polícia por populares não identificados), saldando-se em três mortos e alguns desaparecidos, volta a levantar dúvidas quanto aos mecanismos de preservação da paz efectiva, alcançada em 2002. Pode-se falar em paz sem coabitação?
Os angolanos têem sido elogiados sob o ponto de vista sócio-histórico pela sua grande capacidade de pôr fim às três décadas de guerra civil, por si mesmos, depois de fracassadas tentativas de mediação da comunidade internacional.
A Unita acusa a polícia (que escoltava a delegação) de conivência, apontando o dedo a simpatizantes do seu arquirrival e partido no poder, o Mpla. Por seu turno, a polícia desmente, sublinhando a desproporcionalidade de forças, tanto mais que entre as vítimas está um oficial da corporação.
Como observador leigo em ciências políticas, entendo que não há populares que atacam uma acção partidária sem serem impulsionados por alguém. Neste como noutros casos, é preciso identificar quem agita tais atitudes e qual a sua motivação. E entendo ainda que perdemos muito tempo quando optamos no discurso por negar a existência do espírito de intolerância, logo que se manifestaram os primeiros casos de violência entre simpatias partidárias fora das cidades. Foi preciso o presidente da república pronunciar-se há coisa de dois anos no sentido de combater a intolerância para que fosse reconhecida a sua existência.
Deploro, como é óbvio, uma certa tendência da Unita em politizar questões e brigas por vezes familiares, mas sempre me pareceu pouco construtivo negar um fenómeno social sem investigar rigorosamente em termos de causa-efeito, defendi isto mesmo num debate radiofónico que moderei sobre o balanço dos cinco anos de paz em Angola.
Como se explica que continuem angolanos a morrer pela simples razão de militarem neste ou naquele emblema político, logo num país que de constituição é democrático e de direito? O que falta fazer afinal para que os frutos da reconciliação reinem em todos os cantos desta Angola?
O que falta, a meu ver, é a multiplicação de exemplos e diminuir a lacuna que existe entre as elites e as massas. Por exemplo, a memória que tenho do fim dos confrontos de 1993 podia ser retomada. Era fazer delegações conjuntas, integradas pelas principais forças políticas, levá-las a fazer comícios no interior, onde a tónica ponha de parte ainda a militância e o crescimento dos partidos, focando só na união.
De outro modo, teremos ciclicamente mais do mesmo: uma reconciliação ao nível das cidades, uma paz do discurso, enquanto no meio rural, o de pouca escolaridade e abertura mediatica, a rivalidade perdura assente nas feridas e cicatrizes do passado. Os líderes têem de andar juntos.
Gociante Patissa. Bocoio, 29 Maio 2016
Os angolanos têem sido elogiados sob o ponto de vista sócio-histórico pela sua grande capacidade de pôr fim às três décadas de guerra civil, por si mesmos, depois de fracassadas tentativas de mediação da comunidade internacional.
A Unita acusa a polícia (que escoltava a delegação) de conivência, apontando o dedo a simpatizantes do seu arquirrival e partido no poder, o Mpla. Por seu turno, a polícia desmente, sublinhando a desproporcionalidade de forças, tanto mais que entre as vítimas está um oficial da corporação.
Como observador leigo em ciências políticas, entendo que não há populares que atacam uma acção partidária sem serem impulsionados por alguém. Neste como noutros casos, é preciso identificar quem agita tais atitudes e qual a sua motivação. E entendo ainda que perdemos muito tempo quando optamos no discurso por negar a existência do espírito de intolerância, logo que se manifestaram os primeiros casos de violência entre simpatias partidárias fora das cidades. Foi preciso o presidente da república pronunciar-se há coisa de dois anos no sentido de combater a intolerância para que fosse reconhecida a sua existência.
Deploro, como é óbvio, uma certa tendência da Unita em politizar questões e brigas por vezes familiares, mas sempre me pareceu pouco construtivo negar um fenómeno social sem investigar rigorosamente em termos de causa-efeito, defendi isto mesmo num debate radiofónico que moderei sobre o balanço dos cinco anos de paz em Angola.
Como se explica que continuem angolanos a morrer pela simples razão de militarem neste ou naquele emblema político, logo num país que de constituição é democrático e de direito? O que falta fazer afinal para que os frutos da reconciliação reinem em todos os cantos desta Angola?
O que falta, a meu ver, é a multiplicação de exemplos e diminuir a lacuna que existe entre as elites e as massas. Por exemplo, a memória que tenho do fim dos confrontos de 1993 podia ser retomada. Era fazer delegações conjuntas, integradas pelas principais forças políticas, levá-las a fazer comícios no interior, onde a tónica ponha de parte ainda a militância e o crescimento dos partidos, focando só na união.
De outro modo, teremos ciclicamente mais do mesmo: uma reconciliação ao nível das cidades, uma paz do discurso, enquanto no meio rural, o de pouca escolaridade e abertura mediatica, a rivalidade perdura assente nas feridas e cicatrizes do passado. Os líderes têem de andar juntos.
Gociante Patissa. Bocoio, 29 Maio 2016
www.angodebates.blogspot.com
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