Os
escritores - na lógica de estar a pagar o justo pelo pecador - são uma
"raça" não poucas vezes chata. Imaginam tanto, inventam tanto que volta e meia se acreditam possuidores de
uma dimensão messiânica. Espero que não a tenha, mas, sendo uma vaidade negar
defeitos, tentem ao menos perdoar-me, caso não me consiga livrar de tal
tentação. A mim, na qualidade de espectador, chega quase a enojar o narcisismo
que se desfila nas entrevistas avulsas ou na imposição do auto-valor em função
de um acumular de prestígio desses "deuses de fumo". Há quem entre em
quase ataque de nervos, não se poupando de apelar à saúde da sua próstata, pelo
simples facto de, em casual circunstância, encontrar-se na mesma linha do
equador em termos de receber e-mail de agremiação com algum nome de autor
recém-revelado, por exemplo. Não faltam ainda aqueles que se arrogam o direito
de qualificar poemas de outrem, desde que não se encaixem nos seus gostos ou
escola, como simples diários ou letras de kizomba. Há vaidades para todas as
despesas, incluindo transformar menores de idade em críticos de arte, se tal
contribuir para publicitar o núcleo familiar como celeiro de intelectualidade.
No outro dia, certo escritor, que vive as suas ideias e voz no mais veemente e
recorrente êxtase, tentava convencer-nos de que a sua escrita era auxiliada por
búzios. Dizia aquele "deus de fumo" que, em situação de tragédia na
trama, ele jogava o búzio ao chão, cabendo a este artefacto decidir se o
personagem morre ou sobrevive. Quer dizer, como se uma narrativa fosse um
amontoado de pequenos desfasamentos. Tanto show off! A gente escreve, sim;
dedica-se mais do que o cidadão comum, sim; tem imaginação provavelmente mais
fértil, sim. Mas, por favor, isso é um trabalho como qualquer outro. Não é por
mal, mas bem que podíamos poupar a sociedade de carregar para nós tão pesado
palco imaginário.
Gociante Patissa, Benguela,
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