(I)
“Quem mais que está ligar? É aquele
sobrinho da província, chato… Alô!”
“Alô, tio, muito teeeempo!!!
“Ah, sobrinho! É como a vida na
província?! Assim já sei. Você quando liga, é apoio na escola… Ó filho, quer
ser doutor até quando afinal?! Arranja um ofício, varre as ruas, faz negócio,
qualquer coisa, pá. Estudo já chega!”
“Ah, pois, tio. A escola por acaso já
concluí. Telefono para saber da tia, ouvi que está doente.”
“Não se preocupe, a tua tia já não
melhora nesta encarnação. Mas você ainda continua no meio de papéis como
cabrito? Isso você acha que é futuro de um macho?”
“O tio também… Ah, mas não. O tio já
sabe que a província tem um município novo?”
“Ai, a nossa província engordou?”
“Eu fui nomeado há um ano. Sou o
Administrador adjunto do município novo…”
“Não fala isso! Eu sabia! Sempre falei:
este meu sobrinho cheio de salitre, cabelo nunca viu pente até parece é pele de
ovelha, magro como a caneta, é só livros e mais livros no sovaco, um dia será
doutor. Está aí! Você é ALGUÉM, sobrinho! Pronto, desliga, até estou a
tremer.… Ó mulher, dá cá ainda um copo de
cisangwa. Aliás, cisangwa mais não. Só vinho. Ainda não ouviste que eu agora
sou tio de alguém?…”
(II)
“Alô, doutor!”
“Viva, tio! Mas, por favor, chama-me
mesmo pelo nome; isso de doutor eu dispenso.”
“Então, posso ir ali fazer uma visita de
molhar o cargo, não é?”
“Sim, tio. Pode vir amanhã, é só apanhar
o autocarro executivo inter-provincial, eu pago aqui.”
“Mas, ó marido, vais passear ou vamos?”
“Vamos com quem?! Eu vou em visita
protocolar, e não fica bem levar companhia.”
(III)
“Alô, sobrinho! Já chegamos. Estamos
aqui mesmo no terminal dos autocarros.”
“Ok, tio, já aí vou.”
“A viagem correu bem?”
“Oh, doutor, quer dizer, sobrinho!,
autocarro executivo é grande categoria! Vim a dormir.”
“Então, mas e este outro senhor?”
“Ah, é meu amigo. Jogamos juntos a bola
na primária, começamos a namorar juntos. Veio comigo passear. Sabes como é que
é…”
(IV)
“Dá licença! Bom dia. Mais-velho,
acorda! Comecem a fazer as malas!”
“Mas quem é você para me acordar?! Não
sabes que somos visitas protocolares?!”
“Eu sou do protocolo! O chefe deu ordem:
fazer as malas e voltar no autocarro das 05h30…”
“Mas nós chegamos ontem à noitinha. Eu
sou tio do chefe, ouviu bem?! Vou ligar para ele (...) Alô, doutor! Aqui é o teu tio. Um dos
nossos subordinados ficou maluco…”
“Não, tio, não está maluco. Madruguei
para visitar comunas distantes. Eu convidei o tio para me visitar. Eu ficaria
com a sopa e o tio com o prato principal. Agora, se acha que traz os amigos,
espera até eu ter a minha casa. Eu vivo na casa do Estado, não é para
festanças.”
“Mas então você é chefe no governo para
quê?! Se temos um pouco, não podemos mostrar?!”
Gociante Patissa. Benguela, 11 Maio 2016
www.angodebates.blogspot.com
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário