Investi metade da
tarde de ontem no centro da cidade do Lobito, deambulando como exercício de
"queimar tempo", um pouco por incompetência de certa agência bancária, onde suportei
longa fila até ouvir que "o colega que atendia Western Union saiu para
almoçar, passa mais logo ou então amanhã". Procurei saber daquela
simpática senhora que me atendeu se o banco fecharia caso o colega estivesse
doente, ao que respondeu, a contra-gosto, que não. Bem, como discutir não me
resolveria o problema, saí ao encontro da celebração da vida que é no fundo o
quotidiano, os diálogos fortuitos e a observação de imprevisíveis fenómenos
sociais. Numa rua da Zona Comercial, passo por duas senhoras, nessa mania muito
angolana de estorvar o passeio. Uma era funcionária (em pé e de passagem), a
outra mendiga (sentada, encostada entre a árvore e a parede). Era grande a
empatia. A funcionária elogiava a bebé da mendiga, num registo de diálogo
coloquial e terno, na língua Umbundu, que a seguir reproduzo, ciente embora da
poesia que se perde com a tradução:
“Avoyo, mba wakula!” – Vejam como está grandinha!
“Oco, wakula!” – É, está mesmo grande!
“Omõlã mba ka vala!” – A criança não custa!
“Ocili, omõlã ka vala, civala ño imo” – É verdade,
o que custa mesmo é a gravidez.
E lá continuei a caminhada com a certeza de que algum troco a funcionária deixaria para a mãe da bebé, sem deixar de especular que o pai da criança, algures na cidade, aguardava pela esposa que faz da mendicidade o posto de ganha-pão.
E lá continuei a caminhada com a certeza de que algum troco a funcionária deixaria para a mãe da bebé, sem deixar de especular que o pai da criança, algures na cidade, aguardava pela esposa que faz da mendicidade o posto de ganha-pão.
Gociante Patissa, Benguela,
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