Tive hoje o grato prazer de sobrevoar parcialmente a cidade de Saurimo, capital da província da Lunda-Sul, no leste de Angola, onde durante duas horas estive a trabalhar (embora sem sair do Aeroporto Deolinda Rodrigues). A rota foi CBT-VHC (uma hora e quinze minutos), VHC-LAD (hora e meia de vôo) e LAD-CBT (45 minutos). Para quem vem de realidades cosmopolitas, como Benguela e Luanda, a ideia inicial que ocorre, à medida em que o voo perde altitude e se torna nítida a visão panorâmica, é de um relativo choque, tendo em conta a predominância da típica cor castanha em casas de adobes (blocos de barro maciço) em praticamente o bairro todo. De longe contrasta com a realidade dos bairros emergentes na periferia, que se confunde com o cinzento dos blocos de cimento e areia de que são erguidas as alvenarias. A mais imediata hipótese, sociologicamente falando, é de estarmos em presença de um meio com pouco poder de compra ou, no mínimo, parado no tempo e desajustado às novas tendências estéticas de construção sobretudo no litoral. Esta visão negativa entretanto dissolve-se, como que em sobreposição de imagens, diante da invejável arborização, do alto vista como malha perpendicular. Como se ao pormenor projectado, Saurimo parece ter mais tectos verdes do que outra coisa, e nem estou a falar de condóminos. Uma ou mais árvores de generosa fronde em cada cada parece ser a regra. É de facto um retrato drasticamente contrastante, neste caso ainda bem, com o rosto seco, poeirento e aquele caos de zinco e parabólicas que geralmente nos invade a vista ao aterrarmos em Benguela e/ou Luanda. À primeira vista, Saurimo é da maior ecológica vista aérea que em Angola há.
Gociante Patissa. Saurimo, 30.05.2016
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