quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

[Oficina] Crónica | Quando o calar ilude

Texto de Felisberto Ndunduma
Sakutchatcha
Calar só por calar não basta quando a batata quente estiver na boca, pois sem querer ela tem de se abrir para lançar fora o prejudicial;

Somos coroados de acção e força para agir e nos tornarmos mais tarde donos dos nossos próprios actos, assim é a vida dentro de uma sociedade, meramente quando se envereda pela defesa da humanidade;

Existe momentos em que o discurso público muda para uma única folha, todos protestam, todos contendam, porque querem vencer;

Quanto mais se ignora o pequeno chilrear da criança, não tarda, um grande choro vem por detrás e não será pacífico, pois perturbará até o vizinho que ora não terá sono e será obrigado a agir contra nós;

Calar nunca basta quando as palavras existirem para actuar e tecer considerações que possam ajudar;

Nós muitas vezes pintamos o nosso rosto com a marca do silêncio, mas estejamos conscientes de que isto é uma traição fatal ao nosso desejo de ser e servir: A Pátria chama, a família quer de nós, por isso não há equívocos para oferecer a voz para grande intervenção;

A voz é sagrada e nunca deve ser poupada para coisas necessárias e também sagradas, pois, nada nos pode devolver a dignidade senão o uso das nossas próprias palavras desenhadas sob a lúcida arquitectura da nossa causa;

Não basta calar quando a razão nos obriga a falar, porque o calar ilude e não mostra ao lado oposto o nosso posicionamento actual.

Não se cale nunca em altura desnecessária; e não é pessimismo quando se admite popularmente que “quem cala consente” pois, muitas vezes somos condenados pelo nosso rugoso silêncio e que parecendo silencioso, afinal diz mais que as palavras, apesar de serem escondidas. Fale e mostre que entendes, cale e nada mostre, pois, a abstinência é perigosa e nunca se sabe o que soa dentro do calado.

Nota do Blog Angodebates: No ano em que completa o 10.º aniversário, o nosso Blog lançou um desafio de crescer junto com os seus leitores, abrindo para o efeito uma oficina para a divulgação de contos, crónicas e poesia de autores com ou sem livros. Como é natural, teremos colaboradores principiantes, pelo que lá onde for necessário, a gestão editorial do Blog fará ou sugerirá arranjo. O que esperamos é no futuro olhar para o primeiro texto de cada colaborador e festejarmos o progresso que for alcançando. 
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