Pode-se
dizer que a única forma com que me drogo, depois de largar a “chupeta” de
cerveja há dois anos, é somar distâncias. Alguém diria: e amor não se faz? Então
não conta? Conta, é certo, mas é noutra categoria, do que não pode ser contado,
pelo menos não como droga, de tão elementar, fisiologicamente falando. Para ser
droga, teria pois de ter outra opção. E neste quesito a humanidade ainda não achou
concorrência à altura.
Pois,
continuando. Os dias de ócio são uma tentação para fazer “reset” ao tempo de
vida, viajando. E mais ainda nesta época de chuvas, de verdejantes paisagens… sabe
tão bem sair por Angola dentro, enfim vestir a vida de razões para continuar
por cá… Com a folga a calhar ao sábado, mochila feita para uma noite na sede do
município da Ganda, aproximadamente 200 km de Benguela, onde resido. Na verdade
eram duas mochilas, uma para o computador e acessórios da máquina fotográfica,
outra para o uniforme de serviço, pois só uma directa me safaria da falta ao
serviço no domingo.
Já
às seis e meia da manhã se tinha ido embora o sono. Há quem lhe chame tensão
pré-viagem. Asseguro apenas que não seria a primeira vez, talvez nem a última
em iguais circunstâncias. Bom, escusado será falar da higiene matinal. A passagem
pelo café faz-se rápido, mais umas águas e refrigerantes para a jornada. Ah,
música? Bebe-se bem, obrigado, de preferência variada. O pote chama-se Pendrive
MP3.
Toma
conta de mim a estrada nacional 260 às oito da matina. Com alguns solavancos
pelo meio, o bom dia Ganda é às dez e meia. Travão de mão. O Hotel é homónimo à
vila. Não se fazem reservas em antecipação. Ao primeiro contacto, nenhuma alma ao
balcão que parece ser a recepção, desculpa, não parece, é.
Sim,
bom dia! Ah, bom dia. Vocês têm quartos disponíveis? Sim, solteiro dez mil,
casal doze. Pela diária, mediana no padrão do sector, a expectativa é grande. Ok,
queria ver os dois para poder escolher. O senhor quer dois quartos? Não, queria
ter ideia das condições antes de optar. Está bem. MANA FULANA! DÁ AINDA A
CHAVE! Pode vir. E ainda a meio dos degraus para o primeiro andar: como é a
questão da energia? Mas aqui, a energia é mesmo geral. Vem às dezoito, vai às zero.
Ah, sim? Então não há uma fonte alternativa? Tem o gerador, mas só ligam de
manhã por uns minutos, que é para as pessoas tomarem banho. Neste caso, o dia
todo é sem energia? É isso.
Faz-se
escuro no corredor, enquanto não se abrem as portas da varanda dos quartos. É um
escuro incompleto, valha-nos a verdade, não fosse o heroico papel da lanterna
do telemóvel, algumas vezes apoiado entre os lábios. O hóspede, que por sorte
ainda tem as mochilas por desfazer no porta-malas do carro, agradece a atenção
e promete voltar dentro de instantes, para não sair mal na fotografia. Por acaso,
o almoço come-se bem.
Até
percebo que se esmerem para a hospedagem aproximar-se ao ambiente de casa. Só
que talvez se tenha levado a originalidade ao excesso nisso de servir aos apagões.
Por fim, temos um HG com nome, configuração e diária de hotel. Mas sem o básico
pressuposto da era industrial, a electricidade… o exercício não passa de hotelaria
em forma tentada.
Gociante
Patissa. Ganda, 30 Janeiro 2016 www.angodebates.blogspot.com
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário