Se dependesse da mãe,
ele teria outro nome de registo, qualquer um que não fosse Virgulino
Kaendangongo. A mulher sabia minimamente a função gramatical de uma vírgula,
aquele pontinho arqueado para trás, que a tudo torna inconclusivo.Entrava
também nos debates do casal o presságio em Kaendangongo, que na língua Umbundu
significa eterno sofredor. Que mãe auguraria isso para o próprio filho? Seu
marido, porém, tinha outra tese proverbial, a qual defendia com
efusiva contumácia: «ka mwinle ongongo ka kolele» (quem não sofreu não
amadureceu). Assim sendo, filho seu, porque talhado a singrar, faria do
sofrimento parte de sua identidade.
Gociante Patissa, in
FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS, 1ª edição, 2014
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