Faz-me confusão esta confusão envolvendo a União
Europeia (UE) e a Rádio Ecclesia (RE), projecto ao qual já estive ligado na iminência
do início de emissão em Benguela, há doze anos, apurado entre os quatro
redactores-repórteres-noticiaristas ao fim de três meses de estágio intensivo. Não
sou católico nem cheguei a efectivar o vínculo com a RE, que entretanto acabou
por não arrancar, mas estou afectivamente ligado à marca.
Embora o polémico financiamento da UE tivesse sido directamente alocado para formação, com base numa proposta da RE em resposta ao anúncio público de financiamentos, julgo que o pacote não foge muito do que é comum com as demais rádios privadas espalhadas por Angola. A comercialização de espaços de antena agrega(va) valor às grelhas de programas, considerando o factor diversidade (hoje parece que as igrejas monopolizam). Quanto aos “excessos ao microfone”, são da natureza humana e contornáveis mediante supervisão e avaliação contínuas.
Pelo que até ver eventuais documentos com propostas
secretas da UE de desestabilização do país, conforme alega a direcção da RE, e
como quem entende um pouco de gestão e governação (em organizações não
governamentais), bem como de acesso a financiamentos, custa um pouco imaginar
que a meio do projecto se faça inversão dos famosos termos de referência e se imponha
o derrube de um governo. Da UE como tal, o único dinheiro que usufruí foi 2006
enquanto quadro do projecto de Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC), da
Handicap International.
Mas apoiado por outros parceiros, liderei e influenciei
a espinha metódica da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), ONG, com projectos
em prol do jogo democrático. Entre 2003 e 2010, altura em que saí, estive nos
bastidores e ao microfone dos programas "Palmas da PAZ" e "Viver
para Vencer", ambos em directo, veículos de interacção intersectorial e
interdisciplinar. Governantes, sociedade civil organizada, actores políticos,
comerciantes e cidadãos comuns debatiam ideias sobre questões da nossa
sociedade (via espaços de antena pagos à Rádio Morena Comercial), acreditando
que "a cidadania é resultado de um exercício permanente de educação e
comunicação”.
Consta da minha experiência de gestor programático de projectos a frustração que é chegar-se ao fim do ciclo sem atingir o "saldo zero", posto que revela incapacidade da instituição financiada em planificar e executar as acções que alistou no quadro lógico. Lembro-me da pressão que uma vez a AJS sofreu por parte do Fundo Global/PNUD, creio eu por ter a devolver vinte kwanzas. É um expediente passível de gerar tensão, mesmo que não existam desconfianças em relação à honestidade dos signatários.
Gostaria muito sinceramente que esta polémica cessasse logo, claro está, com a RE a devolver à UE a centena e meia de milhares de euros que não conseguiu gastar, o que se arrasta, pelo que dizem as partes, desde 2012. Aposto a minha ingenuidade.
Gociante
Patissa, Benguela, 5 Maio 2016
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