O
comunicado da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe),
que surge para acalmar os ânimos no desentendimento entre a sua Rádio Ecclesia (RE)
e o patrocinador que é a União Europeia (UE), tem gerado controvérsia, claro
para alguns e ambíguo para outros, com realce para os seus pontos dois e três.
Tudo
começou quando em entrevista ao Jornal de Angola por ocasião do Dia Mundial da
Liberdade de Imprensa, 03/05, o padre Quintino Kandandji (QK) partiu para o contra-ataque.
O prelado tem sido alvo de crítica generaliza por “matar” a vertente
interventiva na linha editorial da RE (retirando da grelha programas tidos como
críticos ao governo, despedindo jornalistas de referência em Luanda, ou
liderando uma eventual censura a programas de organizações da sociedade civil
com espaço de antena pago).
Kandandji
encheu a boca para acusar organizações internacionais (alinhadas com angolanas)
de tentarem impor agendas na linha editorial da rádio que dirige, visando uma
hipotética desestabilização do governo angolano, a coberto da promoção dos
direitos humanos. Garantiu ter devolvido 149 mil euros à UE, apoiado pelos
Bispos da CEAST para que “não se vendesse”. Tais acusações apanharam meio-mundo
desprevenido, pelo conteúdo e pela musculatura do tom, que só lembravam, para certos
observadores, as intervenções de outra figura da igreja Católica, o cónego Apolónio.
No
dia seguinte, a reacção da UE em comunicado qualificou de infundadas as
acusações, pois, contrariamente ao que gabou o padre Kandandji, os aludidos 149
mil euros eram remanescentes de um projecto de fortalecimento da rádio e da voz
das comunidades, proposta apresentada pela própria RE no âmbito de um concurso público
de financiamento em 2011. E mais, que a devolução do valor é aguardada desde
2014.
A CEAST difundiu no sábado, 07/05, um comunicado de cinco
pontos, também alvo de burburinho. Se no segundo ponto refere que as
Direcções da RE (que defende a fé, a liberdade de imprensa, o pluralismo, os
direitos humanos, a justiça e o patriotismo) vêem buscando parcerias, “embora
algumas delas se tenham revelado menos adequadas ao perfil da linha editorial
da rádio”, a leitura que se faz é a de alinhar com o padre. Mas já no ponto
três, diz que na reunião de Março em Ndalatando, os bispos foram comunicados
do remanescente a devolver à UE, só que “nunca foram informados nem menos
alertados que tais financiamentos tinham como fins os anunciados pelo director
da rádio”. O comunicado lamenta o aproveitamento político feito em torno do
caso.
Se
ao fim deste estardalhaço todo o director acaba sem o apoio dos patrões, vai renunciar
ao cargo ou nem por isso? Pondo por hipótese “evidências” conspiratórias do financiamento,
que tal devolver não só o remanescente, mas o valor integral? Algum plano para reparação
por danos morais aos integrantes das anteriores direcções da RE? Sendo que o
diferendo vai além da gestão administrativa da rádio, por ser propriedade da
igreja Católica (também de matriz europeia), que mudanças estará a CEAST a
ensaiar na sua organização interna, nas parcerias com o Estado angolano e doadores
históricos, entre eles a UE? Enfim, o quadro é de mais perguntas que respostas.
Gociante Patissa, Benguela, 9 Maio 2016
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