(I)
“Bom dia, vizinho Notícia.”
“Bom dia, vizinho Candeeiro. Como é lá em casa?”
“Bem, mas, ainda, passamos. Somente.”
“Aqui, também, de queixar não temos. Saúde
ainda há.”
“Queria só um remendo aqui entre as pernas.”
“É da bicicleta, não é?”
“Trabalho-casa-trabalho. Pedalar, pedalar. As escalças só
rasgam só no meio das pernas.”
“É só deixar. Passa daqui a duas horas.”
“Duas horas tudo, para um remendo?! Ene! Na burocracia os
outros mba estão lá…”
“Mas assim o mano queria como afinal?”
“Está bem. E o preço assim é quando é?”
“Só depois do trabalho. Pode ficar calmo. O mano
Candeeiro é de casa.”
(II)
“Bom dia outra vez, vizinho Notícia!
“Bom dia, irmão amado…”
“Está pronta aquela nossa coisa?”
“Sim, quase. Só falta engomar…”
“Até que não era preciso. Mas como já começaste, né?… E
qual é a importância?”
“Se o remendo tem qual valor ou se tem importância
engomar? Não entendi bem…”
“Ah, importância é o mesmo que perguntar o valor da obra.
É precisamente quando?”
“Ah, então é isso?… É só ler a fartura…”
“Xé! O vizinho Notícia me surpreendeu, ya?... Até bloco
de factura sai da gráfica por causa de um karremendo?! Assim então não fala só
na boca porcádequiê?”
“Oh meu benquisto irmão Candeeiro, essa coisa da fartura
aprendemos outrora no tempo do branco – sabe que naquele tempo, tudo funcionava
na linha, a palavra ou a chicote. Porque os nossos mais velhos já diziam: no
trabalho, não há pequeno. Ou falo mentira?”
“Por acaso, a organização do branco era outra coisa, as
coisas andavam p’ra frente…”
“Bloco, bloco, não temos, mas folha do caderno mesmo dá
para farturar. É só ler…”
“Hoko! Ficou maluco ou quê?! É que você me leve a mal se
quiser, mas também não é assim que se fica rico, ó vizinho Notícia,
sinceramente!!!”
“O que é isso, irmão Candeeiro? Essas palavras amargas
hoje já porquê?”
“Possas, pá! Por causa de um remendozinho, você vai pedir
logo três mil kwanzas?! Mas esse valor dá para uma escalça nova!… Já para não
dizer a boutique inteira…”
“Falaste o quê, meu querido irmão?!”
“Não tenho tudo isso que cobraste, não venho preparado.
Acho que vamos a prestações.”
“Ah, a situação é essa, né?... Mas até isso era uma coisa
normal... O problema é que tenho uma viagem assim mesmo hoje. Vou resolver um
assunto aqui perto, no Dombe Grande, não sei se o meu irmão conhece…”
“Ah, olha só!… Desculpa, mestre Notícia, afinal tinha
mesmo aqui no bolso de kafokolo o dinheiro. Nem dei conta… Mba esse esquecimento,
o esquecimento?…”
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