sábado, 4 de novembro de 2017

(arquivo) Diário | Vou ao Dombe Grande, não sei se conhece

(I)
“Bom dia, vizinho Notícia.”
“Bom dia, vizinho Candeeiro. Como é lá em casa?”
“Bem, mas, ainda, passamos. Somente.”
“Aqui, também, de queixar não temos. Saúde ainda há.”
“Queria só um remendo aqui entre as pernas.”
“É da bicicleta, não é?”
“Trabalho-casa-trabalho. Pedalar, pedalar. As escalças só rasgam só no meio das pernas.”
“É só deixar. Passa daqui a duas horas.”
“Duas horas tudo, para um remendo?! Ene! Na burocracia os outros mba estão lá…”
“Mas assim o mano queria como afinal?”
“Está bem. E o preço assim é quando é?”
“Só depois do trabalho. Pode ficar calmo. O mano Candeeiro é de casa.”

(II)
“Bom dia outra vez, vizinho Notícia!
“Bom dia, irmão amado…”
“Está pronta aquela nossa coisa?”
“Sim, quase. Só falta engomar…”
“Até que não era preciso. Mas como já começaste, né?… E qual é a importância?”
“Se o remendo tem qual valor ou se tem importância engomar? Não entendi bem…”
“Ah, importância é o mesmo que perguntar o valor da obra. É precisamente quando?”
“Ah, então é isso?… É só ler a fartura…”
“Xé! O vizinho Notícia me surpreendeu, ya?... Até bloco de factura sai da gráfica por causa de um karremendo?! Assim então não fala só na boca porcádequiê?”
“Oh meu benquisto irmão Candeeiro, essa coisa da fartura aprendemos outrora no tempo do branco – sabe que naquele tempo, tudo funcionava na linha, a palavra ou a chicote. Porque os nossos mais velhos já diziam: no trabalho, não há pequeno. Ou falo mentira?”
“Por acaso, a organização do branco era outra coisa, as coisas andavam p’ra frente…”
“Bloco, bloco, não temos, mas folha do caderno mesmo dá para farturar. É só ler…”
“Hoko! Ficou maluco ou quê?! É que você me leve a mal se quiser, mas também não é assim que se fica rico, ó vizinho Notícia, sinceramente!!!”
“O que é isso, irmão Candeeiro? Essas palavras amargas hoje já porquê?”
“Possas, pá! Por causa de um remendozinho, você vai pedir logo três mil kwanzas?! Mas esse valor dá para uma escalça nova!… Já para não dizer a boutique inteira…”
“Falaste o quê, meu querido irmão?!”
“Não tenho tudo isso que cobraste, não venho preparado. Acho que vamos a prestações.”
“Ah, a situação é essa, né?... Mas até isso era uma coisa normal... O problema é que tenho uma viagem assim mesmo hoje. Vou resolver um assunto aqui perto, no Dombe Grande, não sei se o meu irmão conhece…”
“Ah, olha só!… Desculpa, mestre Notícia, afinal tinha mesmo aqui no bolso de kafokolo o dinheiro. Nem dei conta… Mba esse esquecimento, o esquecimento?…”
 www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | 14 de Novembro de 2015
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