“Mas assim outra vez?!”
“Nem um beijinho ao teu esposo que Deus te deu?”
“Senta só, faz favor, vamos conversar. Uf, que
bafo!”
“Tudo para o teu bem, meu bem…”
“Achas?! Eu quero separação…”
“Ai, é? Separação de quem?”
“Nós, amor. Não suporto mais…”
“Como assim?!”
“Levei tempo para perceber mas depois que fui à
marcha de repúdio à violência contra a mulher, cheguei à conclusão que a vida
que me dás e levas é isso mesmo. Violência doméstica…”
“INJUSTIÇAAA!!! Eu sabia que nessa marcha tinha algo
escondido. Se calhar era para ver as pernas das esposas dos outros no desfile e
depois conquistar, pá! Onde é que já se viu dar sexo a um problema social como
a violência?! Por caso também não há homens que sofrem na mão das companheiras,
hã?! Olha, vou-te falar. Eu tinha um amigo que não precisou de ir ao ginásio,
ouviste? Cada ofensa que saía da boca da mulher, o homem perdia mil e tal calorias.
Até chegou a morrer anoréctico, coitadinho…”
“Não vale a pena desviar do tema, amor. A violência
ainda que falamos é de cá no nosso lar…”
“Mas alguma vez te levantei a mão?”
“Aí é que está. Falaram mesmo lá na marcha que violência
é transversal, não é só bater…”
“Ai, é? Por acaso faço amor contra a tua vontade?”
“Ultimamente nem contra nem a favor dela, né? Se estás
sempre bêbado…”
“Mas é a pensar no teu bem…”
“E não é só isso. Hora de jantar à mesa com os teus
filhos para os educar, o pai está aonde? Ou nos copos da rua ou a babar no
sofá…”
“Mas eu bebo para o teu bem, amor… É a pensar na
saúde…”
“Que desculpa mais sem pés nem cabeça, homem?!”
“Lembras-te da vez que fiquei doente e tive de internar? Viste a estafa de conciliar o lar, o teu emprego,
a actividade doméstica com as idas e vindas para me visitar? Achas que foi
fácil?”
“Mas para quê lembrar isso agora?”
“Tenho que lembrar, amor, para você entender bem e
tirar essa confusão da cabeça…”
“Hum…”
“O médico, que foi muito bem formado e é
competente, me perguntou: você tem algum vício? Eu respondi que sim. Bebo. Ele perguntou:
bebe? Eu, como não gosto de mentir, falei mesmo: CERVEJA! Aí ele salientou:
olha que a cerveja tem pouco benefício para a saúde.”
“Pois também acho…”
“Então, meu amor! Segue a lógica comigo: se a
cerveja tem pouco benefício para a saúde, e como tu mereces um marido saudável,
concluí que quanto mais beber, mais o benefício aumenta. Assim vais querer
contrariar o médico?!
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| Gociante Patissa | Benguela, 26.11.2017
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