terça-feira, 28 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (4) | ESTES FORAM OS PRIMEIROS PASSOS DA ASSOCIAÇÃO JUVENIL PARA A SOLIDARIEDADE (AJS)

Corria a segunda quinzena de Dezembro no distante 1999. O país vivia ainda os efeitos da crise humanitária, resultante do fracasso eleitoral de 1992.  Muita gente vende o que tem e ruma para o exterior do país, mas há uma maioria que nem sequer um dólar por dia consegue ter para sobreviver. Organizações da sociedade civil juntam-se às acções de agências internacionais ao lado do governo. Grupo de estudantes de Ciências Sociais do Centro Pré-Universitário (Puniv) do Lobito não se conforma com a realidade à sua volta, idealiza uma associação que se comprometeria com a integração de marginalizados (pela fome, drogas, etc.).

Concebida a ideia e mobilizados alguns interessados a membro, rabiscou-se o primeiro exemplar de estatutos. Tudo o que se possuía era uma máquina de dactilografar emprestada, pelo que urgia solicitar a ajuda a alguém para informatizar o manuscrito. E foi grande a ajuda da senhora Helena da Costa, que ficou várias vezes sem tempo para almoçar, no seu gabinete da ENE. Saiu um compilado de quatro páginas. Mas as expectativas viriam redundar em frustração, quando o funcionário do notário disse que aquilo estava longe de ser um estatuto. Pelo menos mais quatro rejeições notariais aconteceram, até finalmente arranjar um texto que mais perto estava de responder ao exigido pela Lei das Associações. Isso incluía aumentar o número de subscritores do manifesto, de quatro para 15. A escritura legal sairia finalmente em Junho do ano 2000, quase seis meses após as primeiras tentativas. Mas a verdadeira dificuldade estava ainda por chegar.

A comissão instaladora ganhava cada vez mais noção das suas incapacidades. Para além do inconformismo cidadão e da filantropia, faltava o essencial: o método, as parcerias, um conhecimento sólido técnico-científico das áreas em que queríamos actuar. Tinha-se ido já longe para desistir. As reuniões iniciais ora aconteciam no quarto de um dos membros, ora no recinto da escola Rei Mandume, muitas vezes ao relento por falta de chaves. Alguns membros começavam a desistir, não se vislumbrava para cedo a estabilidade financeira da ONG. Sonhadores, outros continuaram a acreditar, a maioria por sinal. Era desconforto reunir em “qualquer” lugar, pelo que a direcção prometia resolver o problema da falta de escritório, sem saber ao certo como!

Surgiu a ideia de propor à ONG Okutiuka uma tele-estória (pretendia-se convencer a TPA). Inteligente, José Patrocínio notou a fraqueza técnica dos proponentes, mas sugeriu amizade institucional aproveitando a semente do teatro. Na ocasião, ele coordenava a Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito.

E foi num seminário sobre elaboração de projectos que se conheceu Bráulio Teixeira, da ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente), que apresentou a AJS ao seu líder (e pai), Joaquim Teixeira “Chombé”. Este abriu um espaço na ADAMA, bairro da Caponte, Lobito, para servir de sede provisória da AJS. Ali a AJS ficou até Dezembro de 2001, quando arrendou a sede actual. (Na verdade, a sede na ADAMA era oficial, mas não funcional, o “Estado-maior” foi sempre na Santa-Cruz).
 _____________
Conheça a AJS
A AJS—Associação Juvenil para a Solidariedade é uma organização não governamental angolana de âmbito local, voluntária, apartidária, fundada em Dezembro de 1999, no município do Lobito, província de Benguela –   Angola. Tem mais de 16 membros de ambos os sexos e baseada na Lei das Associações vigente; 
Missão saída do último planeamento estratégico: “promover a participação, o conhecimento, a dignidade humana, a responsabilidade e a igualdade de oportunidades na província de Benguela, municípios do Lobito, Benguela, Baía Farta, Caimbambo, Bocoio e Balombo, intervindo nos sectores de saúde, educação e direitos humanos, através de acções de sensibilização contra as ITS/SIDA, pressão social pelo acesso à gratuitidade e qualidade do ensino primário, informação e formação sobre direitos humanos e cidadania, em benefício de jovens dos 15 – 35 anos de idade, crianças dos 6-14 anos de idade e respectivos encarregados de educação”.

In «Boletim “A Voz do Olho» (AV-O), Edição Especial—10º Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
Share:

0 Deixe o seu comentário:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas