Corria a segunda
quinzena de Dezembro no distante 1999. O país vivia ainda os efeitos da crise
humanitária, resultante do fracasso eleitoral de 1992. Muita gente vende o que tem e ruma para o
exterior do país, mas há uma maioria que nem sequer um dólar por dia consegue
ter para sobreviver. Organizações da sociedade civil juntam-se às acções de
agências internacionais ao lado do governo. Grupo de estudantes de Ciências
Sociais do Centro Pré-Universitário (Puniv) do Lobito não se conforma com a
realidade à sua volta, idealiza uma associação que se comprometeria com a
integração de marginalizados (pela fome, drogas, etc.).
Concebida a ideia
e mobilizados alguns interessados a membro, rabiscou-se o primeiro exemplar de
estatutos. Tudo o que se possuía era uma máquina de dactilografar emprestada,
pelo que urgia solicitar a ajuda a alguém para informatizar o manuscrito. E foi
grande a ajuda da senhora Helena da Costa, que ficou várias vezes sem tempo
para almoçar, no seu gabinete da ENE. Saiu um compilado de quatro páginas. Mas
as expectativas viriam redundar em frustração, quando o funcionário do notário
disse que aquilo estava longe de ser um estatuto. Pelo menos mais quatro
rejeições notariais aconteceram, até finalmente arranjar um texto que mais
perto estava de responder ao exigido pela Lei das Associações. Isso incluía
aumentar o número de subscritores do manifesto, de quatro para 15. A escritura
legal sairia finalmente em Junho do ano 2000, quase seis meses após as
primeiras tentativas. Mas a verdadeira dificuldade estava ainda por chegar.
A comissão instaladora ganhava cada vez
mais noção das suas incapacidades. Para além do inconformismo cidadão e da
filantropia, faltava o essencial: o método, as parcerias, um conhecimento
sólido técnico-científico das áreas em que queríamos actuar. Tinha-se ido já
longe para desistir. As reuniões iniciais ora aconteciam no quarto de um dos
membros, ora no recinto da escola Rei Mandume, muitas vezes ao relento por
falta de chaves. Alguns membros começavam a desistir, não se vislumbrava para
cedo a estabilidade financeira da ONG. Sonhadores, outros continuaram a
acreditar, a maioria por sinal. Era desconforto reunir em “qualquer” lugar,
pelo que a direcção prometia resolver o problema da falta de escritório, sem
saber ao certo como!
Surgiu a ideia de
propor à ONG Okutiuka uma tele-estória (pretendia-se convencer a TPA).
Inteligente, José Patrocínio notou a fraqueza técnica dos proponentes, mas
sugeriu amizade institucional aproveitando a semente do teatro. Na ocasião, ele
coordenava a Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito.
E foi num
seminário sobre elaboração de projectos que se conheceu Bráulio Teixeira, da
ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente), que apresentou a AJS ao
seu líder (e pai), Joaquim Teixeira “Chombé”. Este abriu um espaço na ADAMA,
bairro da Caponte, Lobito, para servir de sede provisória da AJS. Ali a AJS
ficou até Dezembro de 2001, quando arrendou a sede actual. (Na verdade, a sede
na ADAMA era oficial, mas não funcional, o “Estado-maior” foi sempre na
Santa-Cruz).
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Conheça a AJS
A
AJS—Associação Juvenil para a Solidariedade é uma organização não governamental
angolana de
âmbito local, voluntária, apartidária, fundada em Dezembro de 1999, no
município do Lobito, província de Benguela –
Angola. Tem mais de 16 membros de ambos os sexos e baseada na Lei das
Associações vigente;
Missão
saída do último planeamento estratégico: “promover a
participação, o conhecimento, a dignidade humana, a responsabilidade e a
igualdade de oportunidades na província de Benguela, municípios do Lobito,
Benguela, Baía Farta, Caimbambo, Bocoio e Balombo, intervindo nos sectores de
saúde, educação e direitos humanos, através de acções de sensibilização contra
as ITS/SIDA, pressão social pelo acesso à gratuitidade e qualidade do ensino
primário, informação e formação sobre direitos humanos e cidadania, em
benefício de jovens dos 15 – 35 anos de idade, crianças dos 6-14 anos de idade
e respectivos encarregados de educação”.
In «Boletim “A Voz do Olho» (AV-O), Edição Especial—10º
Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
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