Gociante Patissa (sobrinho) e Isaac Samuel (tio) |
Passei
a tarde de hoje em ambiente de óbito no bairro Pomba, zona Alta da cidade do
Lobito, pelo duplo tio Eurico Ângelo, primo da minha mãe, falecido na quarta-feira-feira.
Duplo, porque a viúva, a tia Suzana, é prima do meu pai. Este estatuto marcou a
nossa infância e adolescência com o à vontade redobrado de visitante que não receia
desagradar a parte oposta. Havia dois destinos na família assim, outro sendo o
do tio Higino (pai do Jacob Higino), primo da minha mãe, esposo da tia Inácia
Cândido, prima-irmã do pai.
Não
havendo nada que se possa gostar em circunstâncias do género, o óbito tem a
virtude de reencontrar membros da família dispersos um pouco por todo o país. As
apresentações ganham vez. No caso concreto de hoje, regressei com um sem número
de informações valiosas da história da parte materna da família, o que me expôs
(por culpa das minhas perguntas) à travessia de memórias emocionalmente fortes e
desgastantes, sobretudo porque os algozes estão vivos, bem localizados, numa sociedade
cujo fim do conflito armado não ensaiou uma espécie de Comissão de
Reconciliação e Verdade.
Há
um assunto geralmente evitado, o das circunstâncias do assassinato do político
José Samuel, no fervor da rivalidade entre Unita e Mpla no ano de 1975, o patriota que
dá nome a três instituições no município do Lobito, nomeadamente, a praça José Samuel,
adjacente ao BFA da Zona Comercial (também conhecida por Terreiro do Pó), e na mesma
zona o Comité de Acção do partido Mpla, bem como a Escoa José Samuel, sita na
Lixeira Kandimba.
Soube
da existência do herói da família em meados de 1985, quando chegamos ao Lobito, fugidos da guerra do Monte
Belo, do Município do Bocoio, interior da província de Benguela. Sabíamos que
fora filho do avô Samuel Manuel Ferramenta, primo-irmão de Gociante Kapiñala, meu
avô materno (falecido em finais da década de 1970). O avô Samuel, de um
português rebuscado, fruto do convívio com a comunidade colonial, deu o máximo
que pôde para suprir a ausência do primo. Íamos passear à sua casa do bairro da
Kambembwa, também na Zona alta. Recebemo-lo várias vezes em casa (tanto na Bela
Vista, como no Bar Africano).
Fosse
por sermos menores, fosse pela dor de revisitar memórias do ente querido, não
me lembro de a minha mãe alguma vez ter entrado em pormenores das circunstâncias
das ausências de Gociante ou de José. Em 1992, adolescente, fomos ao Monte Belo
para dar vida ao projecto agrícola do meu pai. Nessa altura o avô Samuel
decidira fixar lá residência (onde por ironia veio a ser abatido alguns anos
mais tarde). Era nosso vizinho. Velho simpático, trabalhador, afectuoso, mas
também reticente e de certa forma enlutado.
Os
filhos do avô, o Benjamim, o Enoc, o Isaac e o Fernando, que viviam na
Restinga, foram sempre desgarrados do resto da família. A referência que retenho
era a de um camião Isuzu cinzento de transporte e revenda de lenha e carvão,
que morava ali pelos edifícios circundantes ao Centro de Formação Comandante Nzaji,
à subida da Bela Vista.
Hoje
fiquei a saber é que o avô Gociante, acossado por uma doença indomável no
município da Ganda, veio ao Lobito para junto do seu primo Samuel Ferramenta,
que vivia em casa do seu filho Isaac Samuel (na foto), professor de profissão, onde acabou por perder a vida. Soube também que José Samuel teve um filho de
nome Apolo, que faleceu por doença na província da Lunda-Norte, onde desenrascava
como motorista.
Gociante
Patissa | Lobito, 17 Julho 2017 | www.angodebates.blospot.com
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foi bom poder ler um puco sobre essa história, gostaria se possivel da vossa parte saber mais sobre a história do terreno vulgarmente chamado de terreno do pó (praça josé samuel), subsidios para matéria escolar, disciplina de paisagismo.
o brigado.
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