(I)
“Pai,
há uma visita que quer falar o pai. Vem da minha parte…”
“Filha!
A visita não tinha uma hora melhor para vir?! São 20 horas, pá! Vai começar o
espaço de antena na campanha, um gajo quer acompanhar bem as propostas de
governo de cada partido. Ainda não viste que estamos naquela fase em que todo o
mundo é TPA?"
"Mas
ó pai!…”
“Filha,
apreendam a alfabetizar politicamente os vossos amigos!”
“Fica
só fanático com os partidos, vais acabar sozinho no teu funeral. Quero ver
depois do dia 23 qual é o candidato que te vai procurar, a ponto de desprezar
visitas…”
“Pronto,
manda entrar. Você saiu a boca da tua avó. Controladora esta miúda, pa!…”
(II)
“Boa
noite, senhor…”
“Senhor,
quando não está no céu, tem guardas, carros e aviões pessoais. Me trata só já
por pai, ou não vens por causa da minha filha primogénita? Pode ir directo ao
assunto.”
“Eu
venho a mando do amor. A vossa filha disse que não conversa com homem que não é
conhecido em casa. Então como lhe gosto muito, venho…”
“Isso
chama-se educação de berço, meu rapaz. Não me gabo. Aqui educa-se…”
“Sei
que a juventude é mal falada, mas sou sincero. Por isso conto com o apoio do
pai.”
“Apoio.
Sim senhora. Estamos mesmo na tal época. Por falar nisso, vai votar aonde?”
“No
meu bairro…”
“Não
sejas tonto, filho. Vota no partido qual? Pronto, já sei. Você é estrelado. Mas
isso não surpreende. Porque, te falo mesmo, meu filho: quando o bebé nasce,
naquele momento mesmo que está a chorar ‘kwim, kwim, kwam, kam’, é da OPA. Estás
a ver né? Quando a barba começa a aparecer, voz tipo comeu esferovite, ou nas miúdas
aquelas maminhas e período, é quê? É da Jota! OMA. Estás a acompanhar, né? Que idade
tem?”
“Tenho
28. Mas na verdade, ainda não escolhi…”
“Como
não?! Pensas que sou burro, né? Quem fala assim, é porque é do partido da
cabidela. Mas também, te falo como amigo, não está mal. Os grandes são assim
mesmo. Maquis contra Muangai. Tudo nacionalista. Concluindo, o voto é galo,
certo?…”
“Também
não, pai…”
“Ah,
o filho é feneloso, aliás vota Fnla?”
“Bem,
quer dizer, também não é mais ou menos por ali…”
“Então
vota federalismo, falo pereiésse?”
“Ora…”
“Sendo
assim, estou a ver que ou entra em Casa ou está com o marginal…”
“Marginal?
Não entendi…"
“Eu
lhe chamo só já assim dada a ideia de montar marginal de Luanda a Malanji. Apn.”
“Por
acaso também não…”
“Isso
é grave, rapaz! Indecisos e duvidosos, como o Tomé da bíblia, é perigo. E falo
mais! Na vida, a pessoa tem que tomar posições. Quem está sempre bem com todos
é traidor.”
“Estou
a tentar dizer que não posso revelar em quem votar, que o voto é secreto…”
“Mas
que falta de respeito é essa?! Então você vem pedir o meu voto para namorar a
minha filha, e agora diz que o voto é secreto?! Assim o meu voto é que não
vale?! Acha que é o único pretendente que me procurou?! Secreto, secreto, hum! Sai
só daqui, ouviu?”
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Gociante Patissa | Benguela, 26.07.2017
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