J. Patrocínio |
Nota: Este é o texto vencedor da primeira edição do Concurso “NÃO TEM PERNAS O TEMPO”
O meu kamba Patissa atirou para o tempo que não tem pernas, o espicaçar de se estar. Não li o Não tem Pernas o Tempo, nem acompanhei as dikas do meu manão. Acompanhei, isso sim, o comentário da Cristina, divulgado pelo próprio Patissão. Tal como o “Tempo”, também a “Liberdade”, enquanto um é a outra e a outra sendo o um, sem pernas nem existência, me atirei livre para aqui, asas soltas embriagadas:
O meu kamba Patissa atirou para o tempo que não tem pernas, o espicaçar de se estar. Não li o Não tem Pernas o Tempo, nem acompanhei as dikas do meu manão. Acompanhei, isso sim, o comentário da Cristina, divulgado pelo próprio Patissão. Tal como o “Tempo”, também a “Liberdade”, enquanto um é a outra e a outra sendo o um, sem pernas nem existência, me atirei livre para aqui, asas soltas embriagadas:
Assim
começo!
O
tempo, preso a si, se mutila, curtindo-se, no infinitamente pequeno do
permanentemente imutável. O tempo não passa, nem se recorda, não vive saudades
nem sonhos futuros. Não se há passados nem se constroem amanhãs, nas florestas
que se brotam nos desertos à beira-mar. Se desgasta tão-somente, na sua ditada essência.
Faz-se
inventá-lo e deixa-se usar, que nem inocente, como dogma de medida, de
percurso, de processo. Sorri tonto para nós, que nem poema de Fernando Pessoa
na boca de Maria Bethânia. “Vivemos juntos os dois como a cor do íntimo”.
E
ele se desliza nas histórias e embala o ser criança. Dá corpo a bichos e a
rainhas, dá força a guerras e a revoluções. Se tinge de cansaços e se camufla
de ilusões. Se aberra de importância, se enche de números, letras, frases e
constelações. Se faz pai de si próprio e se transforma em espaço, em distância,
e em sua própria medida.
Enquanto
ele se faz, se é, efemeramente presente, se debota de murcho, nas pétalas que
se coloram castanho, enchendo o redor duma jarra qualquer, num canto, por cima
dum naperão bordado por mãos que ansiavam tocar na imagem sempre sonhada, de
seu príncipe encantado.
Transforma
o aveludado da delicadeza das mãos em rugas profundas dum rosto que se esquiva
do espelho, imaginando-se abstrair dos sonhos apunhalados, espezinhados, mas
mal enterrados em alguma parte do eu.
Domina,
que nem sombra, do cimo da sua inexistência, sociedades, reinos, economias e
mercados, aprisionando as almas aos anseios e à peça que sempre se mantém em
cena, onde todos são actores, figurantes e cenários, acreditando que dirigem
seus indomináveis roteiros. No vazio da sua presença se engrandece no controlo
da rotina do embriagado da noite numa ruela qualquer. Monta artimanhas, no
egoísmo de um banqueiro que se engole pelo cheiro do dinheiro, fazendo-se
estratagemas, iludindo-o em prazeres. Cria confrontos à beleza que nem limbo
que se cola e descola na actriz que passeia sua peruca loira dentro de saias e
vestidos, flashes e entrevistas, sorrisos tão bem treinados, escândalos e
noivados, entre ser grande e o seu próprio desaparecer. Dilui-se como maldade
nas leituras dos curiosos, das vidas do alheio.
Sem
pernas, o “Tempo”, enfeita-se dum sorriso, duma lágrima, dum palrear de
criança, dum chilrear longínquo, dum sentimento profundo, dum corpo no corpo
perfeito, no corpo duma mulher. E assim, sem pernas, o “Tempo”, se enterra no
próprio tempo em que ele mesmo se existiu, onde ele mesmo se nasceu!
Por
José Patrocínio, Lobito 16 Agosto 2013
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