Jacinto Faustino "Lito" (à esquerda.) e Amândio Serviço |
Um inusitado problema contabilístico
marcou os primeiros anos de vida efectiva da ONG. As saídas eram superiores às
entradas. Explico-me. Se o elementar paradigma da contabilidade é ver quanto
entrou, quanto saiu e ver quanto sobra, no caso da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), havia muito mais gastos
do que permitiria a existência resultante das quotizações dos membros. É que
levávamos a coisa de um modo tão “romântico” que despendíamos do próprio bolso
sem prestar atenção a registos e/ou facturações para posterior devolução. A
justificação técnica depois consistia em qualificar a diferença como “doações
indirectas”.
A matriz cooperativista da AJS é suis generis. A sua composição deriva da coligação de afinidades, que vem do parentesco, de amizades prévias, de irmandade religiosa em alguns casos e, sobretudo, de colegas de escola. Daí que se defenda a existência de uma vida interna responsável pela contenção diante de conflitos internos, vida interna esta que soçobra a partir do ano de 2007, com a “desactivação” das assembleias gerais (ordinárias e pacíficas) de membros, fórum ideal de socialização e reinvenção do sentimento de pertença. Vamos à história.
Em finais de 1998, espalha-se pelo bairro do São João e arredores a fama da APDC (Associação de Promoção do Desenvolvimento Comunitário), liderada por Jacinto Faustino “Lito”. A par das noites dançantes, levavam a cabo campanha de construção de latrinas “melhoradas”, por via da distribuição de lajes, com o apoio da Save The Children UK, representada pelo (belga) Jean. Na segunda quinzena de Dezembro do ano de 1999, aproximamo-nos ao Lito (colega na Sonamet) para obter pistas de como constituir uma ONG e este deu-nos também a Lei das Associações.
Determinado, Daniel Gociante Patissa convence o seu amigo Edmundo da Costa Francisco, que conhecera na escola do 3.º nível dos Bambús da Catumbela por volta de 1995, onde este último se destacava pelo nível de inteligência e índole calma. Incluem a Flora Domingas da Costa Francisco “Mirita”, uma dinâmica escuteira e poço de simpatias. O último a entrar é Simão Marques, um motivador carismático ligado à igreja Católica no Bairro da Santa Cruz.
Na tentativa de legalizar a AJS, fazendo-se acompanhar de um manifesto/estatutos de quatro páginas, digitalizado pela senhora Helena da Costa, mãe de Edmundo e Mirita, somos “rechaçados” pelo oficial do Cartório Notarial do Lobito (Sr. Abraão), que por sua vez recomenda uma leitura melhor da Lei das Associações. Sugeriu "imitar", ali mesmo, os estatutos da ANABOC (Associação dos Naturais e Amigos do Bocoio) que, curiosamente, nunca saiu do papel.
Mobilizam-se três novos membros, a Arminda Kanjala Gociante Patissa, o Amós Chitungo Gociante Patissa e o Amândio Serviço, optando pelo valor mínimo na exigência de sete a 14 assinaturas. Postos no Notário, mais um chumbo. Tivemos de acrescer mais sete assinantes. Assim entram os irmãos Malaquias Catanha Fernando e João Jorge Fernando, o César Menha (colegas de escola de Edmundo no Puniv), bem como o Jaime Caliongo, o Avelino Kambomba, o Henrique Chissapa Januário, o “Chimangá” e a Delfina Kandolo.
Os mais novos (22 anos em média) dedicam-se a tempo integral à Coordenação Executiva. Até 2002, data da inauguração da sede própria no bairro da Santa Cruz, funcionávamos provisória e oficialmente nas instalações da ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente) no bairro da Caponte, do Sr. Tshombé. Nessa altura, recruta-se o Henrique da Silva Pascoal, pela inteligência e pela vantagem de ser vizinho da sede. A "caça" de cérebros leva-nos a incluir o Aquiles Chicapa Daniel, os irmãos Bungo Dumbo Casseque e Maria Dumbo Casseque, assim como a Mariana Pascoal Manuel. Mas como o caminho se faz caminhando, ocupações profissionais de uns e o desencanto pela chegada tardia dos frutos do projecto, por outra, foram ditando chegadas e partidas.
Por incompatibilidade de horários com o seu emprego, o membro Amós passaria a contabilidade para o Malaquias, de quem a Coordenação Executiva da AJS ficaria “órfã”, depois que um concurso público ao professorado o “atirou” para o distante município do Balombo. O César (formado em ciências sociais) virava o herói da Administração e contabilidade, graças à assessoria da consultora australiana Susan Dow. Privados também ficamos da Mirita, que se mudou para a província do Bié.
A partir de 2004, ensaia-se um pacote de capacitações internas para diminuir o fosso em conhecimentos entre a Coordenação Executiva e os demais membros da linha de sucessão. A assembleia geral de membros autoriza o recrutamento, em 2006, de mais “reforços”, entre os quais o Júlio Lofa, a Mariana Teixeira, o Ricardo Calengue “Amado”, a Celma Canduli.
De 2007 para cá, com a “hibernação” das assembleias gerais de membros, abrandou igualmente a cultura da quotização, pelo que a AJS sobrevive apenas de financiamento externo e, provavelmente, do bolso do pessoal da Coordenação Executiva que for assalariado de projectos. Ainda era só isso. Obrigado.
AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade” | Benguela, 12 Dezembro 2017
Daniel Gociante Patissa (membro fundador) www.angodebates.blogspot.com
A matriz cooperativista da AJS é suis generis. A sua composição deriva da coligação de afinidades, que vem do parentesco, de amizades prévias, de irmandade religiosa em alguns casos e, sobretudo, de colegas de escola. Daí que se defenda a existência de uma vida interna responsável pela contenção diante de conflitos internos, vida interna esta que soçobra a partir do ano de 2007, com a “desactivação” das assembleias gerais (ordinárias e pacíficas) de membros, fórum ideal de socialização e reinvenção do sentimento de pertença. Vamos à história.
Em finais de 1998, espalha-se pelo bairro do São João e arredores a fama da APDC (Associação de Promoção do Desenvolvimento Comunitário), liderada por Jacinto Faustino “Lito”. A par das noites dançantes, levavam a cabo campanha de construção de latrinas “melhoradas”, por via da distribuição de lajes, com o apoio da Save The Children UK, representada pelo (belga) Jean. Na segunda quinzena de Dezembro do ano de 1999, aproximamo-nos ao Lito (colega na Sonamet) para obter pistas de como constituir uma ONG e este deu-nos também a Lei das Associações.
Determinado, Daniel Gociante Patissa convence o seu amigo Edmundo da Costa Francisco, que conhecera na escola do 3.º nível dos Bambús da Catumbela por volta de 1995, onde este último se destacava pelo nível de inteligência e índole calma. Incluem a Flora Domingas da Costa Francisco “Mirita”, uma dinâmica escuteira e poço de simpatias. O último a entrar é Simão Marques, um motivador carismático ligado à igreja Católica no Bairro da Santa Cruz.
Na tentativa de legalizar a AJS, fazendo-se acompanhar de um manifesto/estatutos de quatro páginas, digitalizado pela senhora Helena da Costa, mãe de Edmundo e Mirita, somos “rechaçados” pelo oficial do Cartório Notarial do Lobito (Sr. Abraão), que por sua vez recomenda uma leitura melhor da Lei das Associações. Sugeriu "imitar", ali mesmo, os estatutos da ANABOC (Associação dos Naturais e Amigos do Bocoio) que, curiosamente, nunca saiu do papel.
Mobilizam-se três novos membros, a Arminda Kanjala Gociante Patissa, o Amós Chitungo Gociante Patissa e o Amândio Serviço, optando pelo valor mínimo na exigência de sete a 14 assinaturas. Postos no Notário, mais um chumbo. Tivemos de acrescer mais sete assinantes. Assim entram os irmãos Malaquias Catanha Fernando e João Jorge Fernando, o César Menha (colegas de escola de Edmundo no Puniv), bem como o Jaime Caliongo, o Avelino Kambomba, o Henrique Chissapa Januário, o “Chimangá” e a Delfina Kandolo.
Os mais novos (22 anos em média) dedicam-se a tempo integral à Coordenação Executiva. Até 2002, data da inauguração da sede própria no bairro da Santa Cruz, funcionávamos provisória e oficialmente nas instalações da ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente) no bairro da Caponte, do Sr. Tshombé. Nessa altura, recruta-se o Henrique da Silva Pascoal, pela inteligência e pela vantagem de ser vizinho da sede. A "caça" de cérebros leva-nos a incluir o Aquiles Chicapa Daniel, os irmãos Bungo Dumbo Casseque e Maria Dumbo Casseque, assim como a Mariana Pascoal Manuel. Mas como o caminho se faz caminhando, ocupações profissionais de uns e o desencanto pela chegada tardia dos frutos do projecto, por outra, foram ditando chegadas e partidas.
A sustentabilidade foi sendo um problema, o que levaria a Coordenação Executiva
a delinear estratégias de incentivo ao pagamento regular da quota, quesito no
qual passaria com distinção o membro Amândio Serviço, a quem foi atribuído o
prémio “AJS UM OLHAR POR DENTRO”, no valor de USD 20, angariados dos subsídios
pessoais que recebíamos enquanto membros de projectos da Rede Municipal da
Criança de Rua do Lobito ou da Coligação Ensino Gratuito, já!”
Por incompatibilidade de horários com o seu emprego, o membro Amós passaria a contabilidade para o Malaquias, de quem a Coordenação Executiva da AJS ficaria “órfã”, depois que um concurso público ao professorado o “atirou” para o distante município do Balombo. O César (formado em ciências sociais) virava o herói da Administração e contabilidade, graças à assessoria da consultora australiana Susan Dow. Privados também ficamos da Mirita, que se mudou para a província do Bié.
A partir de 2004, ensaia-se um pacote de capacitações internas para diminuir o fosso em conhecimentos entre a Coordenação Executiva e os demais membros da linha de sucessão. A assembleia geral de membros autoriza o recrutamento, em 2006, de mais “reforços”, entre os quais o Júlio Lofa, a Mariana Teixeira, o Ricardo Calengue “Amado”, a Celma Canduli.
De 2007 para cá, com a “hibernação” das assembleias gerais de membros, abrandou igualmente a cultura da quotização, pelo que a AJS sobrevive apenas de financiamento externo e, provavelmente, do bolso do pessoal da Coordenação Executiva que for assalariado de projectos. Ainda era só isso. Obrigado.
AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade” | Benguela, 12 Dezembro 2017
Daniel Gociante Patissa (membro fundador) www.angodebates.blogspot.com
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