Hoje
voltei a sentar-me ao computador para conceber um programa de rádio. De 2002
para cá, é pela quarta vez que o faço no quadro de um amor platónico que me
liga à rádio. Penso num esteio entre o livro e a tradição oral, um pouco de informação
do mundo cultural e meter entrevistas no barulho. Vão perguntar se a minha
utopia de criar uma a rádio avançou ou se recebi convite para colaborar em uma
e assim alargar as fontes de receitas, certo? A resposta é não. Então para quê
matar a cabeça no vazio?
Ora,
pode ser uma "pancada" de família, afinal o meu pai chegou a
mobilizar um motorista e o seu cobrador antes de chegar o carro, uma camioneta impingida
com catálogos e factura pró-forma da Cosal por um burlesco correligionário a
pretexto de reconhecimento do Comité/Governo Provincial de Benguela, pelo sacrifício
consentido.
Foi
em 2002 que estruturei o primeiro programa, muito cru ainda em cultura geral,
habilidades ao microfone e gestão de tensão de estúdio. Apresentei-o à Rádio
Morena Comercial (RMC), foi depois encaixado como rubrica quinzenal de meia
hora no "Tarde Viva", de Ekumbi David, estrela do entretenimento. Ficcionei
cenários difíceis para discutir desfecho com ouvintes ao telefone. Tal
aventura resultara da insatisfação pelo facto de, em finais da década de 1990 na
Rádio Lobito, a locutora Kieza Silvestre deixar de citar os autores das estórias
que lia no seu programa, João Paulo Segundo e eu.
O
espaço e o estagiário auto-didacta acabaram por não acrescentar valor à grelha,
pelo que a sua duração foi curta. Mas foi suficiente para lançar a semente de
uma relação cordial com o colectivo da RMC, dirigido por José Lopes. Na
verdade, anos antes já havia tentado no casting, em resposta ao anúncio
comandado por José Cabral Sande, não tendo na ocasião o mínimo de potencial para
sobreviver ao crivo documental.
Em
2003, estruturei para espaço de antena pago na RMC o programa "Palmas da
Paz". Era Coordenador Executivo e mentor do sistema de comunicação
institucional ao serviço da ONG AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade). Uma
hora semanal de debate sobre reconciliação, cidadania e prevenção de conflitos
no contexto pós-guerra, às vezes “incómodo”, dada a pluralidade e temas
candentes. Nessa altura, para além de "devorar manuais", trazia na
bagagem um curso básico de jornalismo do centro do padre Passagem.
Em
2006 criamos o "Viver para Vencer", também da AJS, desta vez com a
dicotomia cidadania e saúde preventiva. Introduzimos o drama radiofónico e uma
rubrica de homenagem com entrevistas de perfil a pessoas anónimas que são pela
sua vivência um exemplo de persistência e motivação. Alargamos igualmente o
tempo para hora e meia.
Em
2012, submeti um projecto à Rádio Benguela, que foi inserido como rubrica
semanal de meia hora no “Geração Viva”, do conceituado jornalista Gilceu de
Almeida. O “Espaço Literatura - Entre o Livro e a Tradição Oral Africana” foi
ao ar quatro vezes em Abril, sem gravar indicativo. Reunia informação cultural,
entrevista (com os escritores David Capelenguela e José Luís Mendonça foi ao
telefone), resenha de obras literárias e sabedoria popular. Tive de interromper
a experiência para reavaliar alguns pressupostos.
E
pronto, programa concebido! Mais um sonho. Para quando e onde a emissão? Não faço
ideia. Que se mantenha ao menos a tradição dos directos. Ainda era só isso.
Obrigado.
Gociante
Patissa, Benguela | 23 Dezembro 2017 | www.angodebates.blogspot.com
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