"Eu tenho um bocadinho de medo de
conversar com os mais novos, porque tenho um azar muito grande quando converso.
Talvez a minha exigência, essa minha cara de indivíduo mau e duro obrigue o
mais novo a acabar de ouvir, escapa e nunca mais escreve. Vou contar um
episódio: um dia fui a EAL e o Carlos disse-me: olha, esta moça está a me
chatear para publicar umas coisas. Li, a menina tinha muito jeito e até lhe pedi se me autorizava a tirar uma parte e eu
utilizar. Ela autorizou, saiu daí muito satisfeita e nunca mais apareceu!
Quando estava no Instituto Nacional do Livro e do Disco, apareceu lá um jovem,
que trabalhava na fábrica de sabão, trazia uma estória para a gente publicar.
Li, a estória estava muito boa. Telefonei-lhe imediatamente, o homem ainda não
tinha chegado ao local onde trabalhava. Disse-lhe que publico esta coisa e
volte porque preciso de conversar umas coisas sobre você. Ele veio, disse-lhe
que a única coisa que me parece errada era o título. Se aceitar ponho este
título, se não quiser publico como está. Disse-me que sim, senhor, vou pensar.
E até hoje! Portanto, o meu medo de ajudar as pessoas é que depois elas
desapareçam.
(…)
"O problema da literatura infantil é este:
quero um cartão-de-visita para pôr lá escritor. Depois arranjo mais outros dois
livros de quatro folhas e vou para a União dos Escritores Angolanos"
(…)
"Eu gostaria de continuar a fazer as
minhas crónicas, porque julgo que ponho alguns pontos nos is. Simplesmente já
estou em idade de não andar a pedir nos jornais para as minhas crónicas."
(Dario de Melo, escritor, in jornal O País. Luanda, 17.10.14)
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