Numa
noite em que os candidatos do «Benguela Gentes e
Músicas» são tão-só três vencedores e sete finalistas de edições
anteriores, todo o nervosismo parece estar explicado. O relógio marca 21h40.
Para espairecer, entra o primeiro convidado especial, Célsio Mambo, também ele
revelado em concursos, que proporciona momentos sublimes de canto lírico! No
Cine Kalunga, o público é irrepreensível a vibrar, contrariando o lugar-comum
de que só nos empolgamos em sons dançantes.
Aberta
a sessão, os mestres de cerimónia, Santos Júnior e Gilcéu de Almeia, acomodam o
jurado de luxo, presidido por Maneco Viera Dias, proeminente figura da União
Nacional dos Artistas compositores, ladeado de Ricardo Lemvo, músico e
compositor do berço do Kongo e radicado nos EUA, Kyaku Kyadaff, exímio trovador
e compositor, Manuel Gonçalves, jurista, e o célebre Rey Webba, músico e
produtor.
Moisés
Pregado foi o primeiro concorrente e interpretou ‘Nga Sakidila’ (em Kimbundu, obrigado), com o qual tinha ficado em
2º lugar na segunda edição.
Seguiu-se Manuel Pedro, com o tema ‘Luzingu
Lukau’ (em Kikongo, a vida é uma dádiva). Tatiana Jordão interpretou ‘Wasala’ (em Umbundu, ficou). Neusa Sessa cantou ‘Ngecenu’ (em Cokwe, larguem-me), da
autoria de Gabriel Tchiema, com o qual tinha vencido a terceira edição.
Martinho Kangala trouxe ‘Olila’ (em
Umbundu, está a chorar), vencedora da primeira edição. Auxílio Morais cantou ‘okucita kuvala’ (em Umbundu, não é
fácil ser mãe). Frederico Tiago propôs ‘O semba do amor’, da autoria de Adão
Filipe, vencedora da segunda edição. Adriana de Carvalho trouxe ‘Linguiaki’, ao passo que Sabina Dinis
interpretou ‘Vosi, Vosi’ (em Umbundu,
todos, todos). José Lupassa desfilou ‘Tunda
kofela yange’ (em Umbundu, sai mais é da minha vista), da autoria de César
Kangwe, locutor da editoria Umbundu na RNA.
À
parte o atraso de duas horas e meia, o espectáculo teve um nível que não fica
em nada a dever aos outros de dimensão internacional. A Banda FM, que tem à
cabeça o guitarrista Tony Lázaro, contou com o reforço de Livongh, no
sintetizador, bem como a prestação do produtor Yeyé Júnior, que assumiu o papel
de contra-regras.
RicardoLemvo, Kyaku Kyadaff e Livongh enobreceram a noite também enquanto cantores,
sendo o ponto mais escaldante a actuação do cabo-verdiano Jorge Neto, que
revisitou memórias do grupo Livity. Neto, que prometeu para finais deste ano o
seu novo CD, arrancou do público palmas de empatia ao revelar que sofreu um
grave acidente cardiovascular (AVC), o qual sobreviveu sem sequela aparente.
Com
204 pontos, Neusa Sessa foi a terceira classificada e recebeu do Director
Provincial da Cultura, Mário Kajibanga, o diploma de participação. Arsénio
Morais ficou em segundo lugar com 225 pontos e foi-lhe o título entregue pelo
Administrador Municipal de Benguela, Leopoldo Muhongo. Frederico Tiago, o
grande vencedor que se destacou dos demais pelo entrosamento com a banda, desenvoltura
em palco, dicção e harmonia, obtendo do júri 229 pontos, recebeu o galardão do
membro do Conselho de Administração da RNA, Carlos Gregório. O prémio revelação
foi para Adriana de Carvalho e o de melhor interpretação para Manuel Pedro.
«Estou
muito contente, é uma alegria muito forte, porque já participei em vários
concursos», ouviu-se um Tiago emocionado, não deixando de mencionar a
materialização da meta que é colocar um disco no mercado.
Perfil de Frederico Tiago, o vencedor (na foto)
Nasceu
na cidade de Benguela há 24 anos, onde reside actualmente no bairro da Kamunda.
Frederico Tiago, que agora prefere o diminutivo Fredy, tem sobre os ombros uma
responsabilidade muito grande, a expectativa dos benguelenses que o viram
vencer em Fevereiro último a segunda edição e, agora, a grande final do «Benguela Gentes e Músicas».
Mas
apesar de só agora ser conhecido pelo grande público, Fredy não é de todo um
novato. Tendo começado, ainda em pequeno, a dar os primeiros passos num
ambiente cristão, mais concretamente no grupo coral da igreja Adventista do 7º
Dia, lidera a Banda Tropical, que se dedica à música de bar num estabelecimento
do centro da cidade, com predominância para a interpretação de temas brasileiros, cabo-verdianos e
angolanos, dos clássicos aos contemporâneos, aqui a destacar Matias Damásio.
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