segunda-feira, 13 de outubro de 2014

‘Benguela Gentes e Músicas’| Victória justa para «O Semba do Amor»

Texto e foto: Gociante Patissa

Numa noite em que os candidatos do «Benguela Gentes e Músicas» são tão-só três vencedores e sete finalistas de edições anteriores, todo o nervosismo parece estar explicado. O relógio marca 21h40. Para espairecer, entra o primeiro convidado especial, Célsio Mambo, também ele revelado em concursos, que proporciona momentos sublimes de canto lírico! No Cine Kalunga, o público é irrepreensível a vibrar, contrariando o lugar-comum de que só nos empolgamos em sons dançantes.

Aberta a sessão, os mestres de cerimónia, Santos Júnior e Gilcéu de Almeia, acomodam o jurado de luxo, presidido por Maneco Viera Dias, proeminente figura da União Nacional dos Artistas compositores, ladeado de Ricardo Lemvo, músico e compositor do berço do Kongo e radicado nos EUA, Kyaku Kyadaff, exímio trovador e compositor, Manuel Gonçalves, jurista, e o célebre Rey Webba, músico e produtor.  


Moisés Pregado foi o primeiro concorrente e interpretou ‘Nga Sakidila’ (em Kimbundu, obrigado), com o qual tinha ficado em 2º lugar na segunda edição. Seguiu-se Manuel Pedro, com o tema ‘Luzingu Lukau’ (em Kikongo, a vida é uma dádiva). Tatiana Jordão interpretou ‘Wasala’ (em Umbundu, ficou). Neusa Sessa cantou ‘Ngecenu’ (em Cokwe, larguem-me), da autoria de Gabriel Tchiema, com o qual tinha vencido a terceira edição. Martinho Kangala trouxe ‘Olila’ (em Umbundu, está a chorar), vencedora da primeira edição. Auxílio Morais cantou ‘okucita kuvala’ (em Umbundu, não é fácil ser mãe). Frederico Tiago propôs O semba do amor, da autoria de Adão Filipe, vencedora da segunda edição. Adriana de Carvalho trouxe Linguiaki, ao passo que Sabina Dinis interpretou Vosi, Vosi (em Umbundu, todos, todos). José Lupassa desfilou ‘Tunda kofela yange’ (em Umbundu, sai mais é da minha vista), da autoria de César Kangwe, locutor da editoria Umbundu na RNA.

À parte o atraso de duas horas e meia, o espectáculo teve um nível que não fica em nada a dever aos outros de dimensão internacional. A Banda FM, que tem à cabeça o guitarrista Tony Lázaro, contou com o reforço de Livongh, no sintetizador, bem como a prestação do produtor Yeyé Júnior, que assumiu o papel de contra-regras.

RicardoLemvo, Kyaku Kyadaff e Livongh enobreceram a noite também enquanto cantores, sendo o ponto mais escaldante a actuação do cabo-verdiano Jorge Neto, que revisitou memórias do grupo Livity. Neto, que prometeu para finais deste ano o seu novo CD, arrancou do público palmas de empatia ao revelar que sofreu um grave acidente cardiovascular (AVC), o qual sobreviveu sem sequela aparente.

Com 204 pontos, Neusa Sessa foi a terceira classificada e recebeu do Director Provincial da Cultura, Mário Kajibanga, o diploma de participação. Arsénio Morais ficou em segundo lugar com 225 pontos e foi-lhe o título entregue pelo Administrador Municipal de Benguela, Leopoldo Muhongo. Frederico Tiago, o grande vencedor que se destacou dos demais pelo entrosamento com a banda, desenvoltura em palco, dicção e harmonia, obtendo do júri 229 pontos, recebeu o galardão do membro do Conselho de Administração da RNA, Carlos Gregório. O prémio revelação foi para Adriana de Carvalho e o de melhor interpretação para Manuel Pedro.

«Estou muito contente, é uma alegria muito forte, porque já participei em vários concursos», ouviu-se um Tiago emocionado, não deixando de mencionar a materialização da meta que é colocar um disco no mercado.

Perfil de Frederico Tiago, o vencedor (na foto)

Nasceu na cidade de Benguela há 24 anos, onde reside actualmente no bairro da Kamunda. Frederico Tiago, que agora prefere o diminutivo Fredy, tem sobre os ombros uma responsabilidade muito grande, a expectativa dos benguelenses que o viram vencer em Fevereiro último a segunda edição e, agora, a grande final do «Benguela Gentes e Músicas».

Mas apesar de só agora ser conhecido pelo grande público, Fredy não é de todo um novato. Tendo começado, ainda em pequeno, a dar os primeiros passos num ambiente cristão, mais concretamente no grupo coral da igreja Adventista do 7º Dia, lidera a Banda Tropical, que se dedica à música de bar num estabelecimento do centro da cidade, com predominância para a interpretação de temas brasileiros, cabo-verdianos e angolanos, dos clássicos aos contemporâneos, aqui a destacar Matias Damásio.
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