Tenho
recebido convites para dar aulas, e recuso-os. Custa-me, por virem dos meus mestres
na licenciatura em Linguística, especialidade de Inglês, do Instituto Superior
de Ciências da Educação (ISCED), na Universidade Katyavala Bwila (UKB).
Antes
de avançar, impõe-se uma contextualização. O curso de Linguística/Inglês foi
instituído, na província de Benguela, no ano académico 2005, feliz ousadia de
um grupo de licenciados, três dos quais formados pelo ISCED do Lubango,
designadamente Botelho Jimbi, José Sasoma e Mateus Cavala. Outro pilar é Domingos
Makumbi. Eu entro no ano 2006, no curso regular (diurno), o qual viria a
suspender, já a frequentar o 2º ano, para optar pela Sociologia, numa
universidade privada, que acabei também por desistir. Regressado ao ISCED,
optei pelo pós-laboral (nocturno), para conciliar com o emprego. Concluído o
plano curricular em 2010, defendi a tese de licenciatura em 2012.
Seria
a licenciatura qualificação suficiente para a docência? Bem, a nossa
realidade desaconselha o mérito dessa discussão, que equivaleria, convenhamos,
à sugestão de parar e recorrer-se à importação massiva de mestres e PhD. Não é
por aí. O país precisa de aproveitar os recursos que tem, potenciando-os de mãos
em serviço, não cruzadas.
Tornando
aos convites para dar aulas de literatura. Será a recusa uma falta de compromisso
em relação à UKB? Não há maior prestígio no título de docente universitário do
que numa simples ocupação de oficial de tráfego aéreo, de que até não gosto nem
há perspetiva de ascensão? Não, para a primeira; sim, para a segunda.
As
razões, para não me alongar nos detalhes, resumem-se na minha noção de não ter
vocação para dar aulas, que seria remediável, se não fosse agravada pela
percepção inegável das interferências no poder de decisão de um professor, um
pouco por todo o sistema de ensino. Enquanto o substracto do estudante for o
que insulta o professor, por este “o ter reprovado”, mesmo que não tenha tido
bom rendimento e/ou que faltasse às aulas, não me vejo motivado. Houvesse um
sector ligado à produção de conteúdos, à pesquisa, à promoção cultural, à
tradução, eu colaboraria imediatamente.
A
cada ano que passa, o país lança licenciados ao mercado. Ora, se isso não
servir para melhorar a qualidade de vida da sociedade (a par da vertente
económica decorrente do aumento salarial), se isso não se reflectir no aumento
de uma massa crítica, com pensamento capaz de se sistematizar, capaz de
questionar paradigmas, desafiar degenerações (como o atalho que é o suborno, onde
qualquer um de nós é, volta e meia, vítima e carrasco), então, talvez não valha
a pena uma qualificação, porque alegórica.
Outra
insistência tem a ver com as teses. O que fazer para que as universidades tirem
proveito de suas pesquisas e recomendações? Bem, alguém dirá: as nossas teses têm
rigor científico? Eu replicaria: será isso um problema ou consequência?
A
sugestão é repensar o papel dos Conselhos Científicos, de modo que as teses que
sobrevivessem no crivo acabassem publicadas em livro. No lançamento dos livros de
L. Benvindo, Z. Capoco e P. Lukamba, ficamos a saber da existência de acordo
entre a UKB e a portuguesa Escolar Editora. Que tal escrutinar as teses existentes?
Gociante
Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela, 7 Fevereiro 2014
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