sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Opinião: A minha sugestão para o pensar científico na universidade Katyavala Bwila

Tenho recebido convites para dar aulas, e recuso-os. Custa-me, por virem dos meus mestres na licenciatura em Linguística, especialidade de Inglês, do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), na Universidade Katyavala Bwila (UKB).

Antes de avançar, impõe-se uma contextualização. O curso de Linguística/Inglês foi instituído, na província de Benguela, no ano académico 2005, feliz ousadia de um grupo de licenciados, três dos quais formados pelo ISCED do Lubango, designadamente Botelho Jimbi, José Sasoma e Mateus Cavala. Outro pilar é Domingos Makumbi. Eu entro no ano 2006, no curso regular (diurno), o qual viria a suspender, já a frequentar o 2º ano, para optar pela Sociologia, numa universidade privada, que acabei também por desistir. Regressado ao ISCED, optei pelo pós-laboral (nocturno), para conciliar com o emprego. Concluído o plano curricular em 2010, defendi a tese de licenciatura em 2012.

Seria a licenciatura qualificação suficiente para a docência? Bem, a nossa realidade desaconselha o mérito dessa discussão, que equivaleria, convenhamos, à sugestão de parar e recorrer-se à importação massiva de mestres e PhD. Não é por aí. O país precisa de aproveitar os recursos que tem, potenciando-os de mãos em serviço, não cruzadas.

Tornando aos convites para dar aulas de literatura. Será a recusa uma falta de compromisso em relação à UKB? Não há maior prestígio no título de docente universitário do que numa simples ocupação de oficial de tráfego aéreo, de que até não gosto nem há perspetiva de ascensão? Não, para a primeira; sim, para a segunda.

As razões, para não me alongar nos detalhes, resumem-se na minha noção de não ter vocação para dar aulas, que seria remediável, se não fosse agravada pela percepção inegável das interferências no poder de decisão de um professor, um pouco por todo o sistema de ensino. Enquanto o substracto do estudante for o que insulta o professor, por este “o ter reprovado”, mesmo que não tenha tido bom rendimento e/ou que faltasse às aulas, não me vejo motivado. Houvesse um sector ligado à produção de conteúdos, à pesquisa, à promoção cultural, à tradução, eu colaboraria imediatamente.

A cada ano que passa, o país lança licenciados ao mercado. Ora, se isso não servir para melhorar a qualidade de vida da sociedade (a par da vertente económica decorrente do aumento salarial), se isso não se reflectir no aumento de uma massa crítica, com pensamento capaz de se sistematizar, capaz de questionar paradigmas, desafiar degenerações (como o atalho que é o suborno, onde qualquer um de nós é, volta e meia, vítima e carrasco), então, talvez não valha a pena uma qualificação, porque alegórica.

Outra insistência tem a ver com as teses. O que fazer para que as universidades tirem proveito de suas pesquisas e recomendações? Bem, alguém dirá: as nossas teses têm rigor científico? Eu replicaria: será isso um problema ou consequência?

A sugestão é repensar o papel dos Conselhos Científicos, de modo que as teses que sobrevivessem no crivo acabassem publicadas em livro. No lançamento dos livros de L. Benvindo, Z. Capoco e P. Lukamba, ficamos a saber da existência de acordo entre a UKB e a  portuguesa Escolar Editora. Que tal escrutinar as teses existentes?

Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela, 7 Fevereiro 2014
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