Rua nua, viu-se, até fechar o portão. Escuro, bem escuro, como ficam os bairros de gema anárquica e que já só com o luar podem contar. Por sua vez, como também preza a saúde, foi a poeira às toneladas alojar-se nos esguios galhos da árvore do meu quintal, de poeira tingida. Há água na torneira, finalmente, como sempre, só de noite, como se fugisse do sol de sanzala, ausências mais do que presenças, a mesma cobrança no final do mês. Menos pouco para meia-noite. Não guardes para amanhã o que hoje podes fazer. Mas o quê? Jactos de água com a mangueira, para devolver o verde às folhas da árvore, do lado de fora do quintal plantada. Do nada, qual fantasma, ouve-se um masculino protesto: “não, meu kota, assim também, não!” Que protesto mais fora de hora! “Agora que há água, estou a lavar a árvore. Aqui acumula-se muita poeira”. E segue o protesto apócrifo: “Está a nos molhar”. Caramba! “Vai você lavar a árvore?”. Ouve-se qualquer coisa e a voz desaparece. Já sei que me resta recolher pela manhã cacos de camisinha ou desses afrodisíacos chineses. E não é que tenha algo contra o dia dos namorados.
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