“Bom, dia.”
“Bom dia, senhor Agente.”
“Documentos, por favor.”
“Meus ou da viatura?”
“Carta de condução e documentos do carro!”
“Aqui estão.”
“O senhor sabe o que fez?”
“Diga?”
“O senhor viu o que fez? Aquela ultrapassagem está correcta?”
“Não sei… quer dizer… não havia lá linhas contínuas, que seriam de
proibição.”
“Aié? Então o senhor acha que pode fazer ultrapassagem a dois veículos
longos?”
“Mas ali não é na curva e a visibilidade estava boa. E, ainda, buzinei.”
“Você acha que ele te consegue ver? Não vês mesmo que o camião é muito
alto? Vou-te passar uma multa. Lê ainda o artigo 18º desse livrito.”
“Pois, acabo de ler.”
“Isso é resumo de um decreto presidencial. A multa são 60 UCF’s, agora
você faz as contas: isso vezes o artigo 18º, são 10 mil kwanzas.”
“Mas não podemos ficar por uma advertência? Acho que os conselhos que
acaba de dar são mais educativos do que a multa…”
“O decreto presidencial não fala em advertências. Isso está claro,
condução perigosa, multa!”
“Está bom. Eu não vou desrespeitar o seu trabalho. Pode passar a multa. Mas,
é assim, eu estou em serviço.” – o motorista tinha uma máquina fotográfica, uma
bolsa e alguns jornais no carro, sem falar do colete de repórter..
“Isso não tem nada a ver.”
“Tudo bem. Pode passar a multa, o serviço depois vai resolver.”
“Vais p’ra onde?”
“Vou fazer uma reportagem a Malanji.”
“Estás a ver? E malanji é longe. Qual é a pressa?”
“Vou prestar mais atenção”.
“Toma lá. Mas, te falo mesmo, meu irmão, até carros zero quilómetro
acidentam. Na estrada não vale a pena se confiar só muito.”
“Obrigado, bom trabalho.”
(O motorista segue a viagem, salvo pelo bluff, por sua vez estimulado
pelo bluff do agente, para quem artigo 18º, multiplicado por 60 UCF, resulta em
10 mil kwanzas recebidos à beira da estrada).
Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela, 8 Fevereiro
2014
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