A
partir do momento em que se desperta em nós o interesse pelo jornalismo, passa
a existir a figura do editor, aquele ser da hierarquia técnica que mais se
identifica com o crivo. Daí que, por vezes, eu veja um pingo de redundância no
título de editor-chefe, não havendo editor-subordinado. Pronto, terminologias
são terminologias.
E
veio mesmo a ser com certa desilusão que voltei a ouvir, durante o curso
intensivo – ou básico – de jornalismo e técnicas de redacção, no ano de 2005, pelo
formador de telejornalismo, no caso Leopoldo Muhongo, que, no contexto de
televisão, editor é genericamente a pessoa faz a montagem das imagens. Tão
pouco!
Não
abrindo mão do “erro da primeira impressão”, concebo o editor como a figura que
cuida do alinhamento noticioso (rádio e jornal). Em alguns casos, suscita frustrações
de um repórter, quando corta, rectifica ou decide mesmo anular determinada
matéria (pondo o entrevistador em dívida moral para com a fonte) ou, ainda, quando
o “chefe” indica outra voz off (em
televisão) para narrar certa matéria, dispensando o autor desta. O editor é
soberano, diz o dogma jornalístico. Nesta acepção, parece que o editor é um
dispositivo electrónico, um não humano e, em consequência, não subjectivo.
Aí
entra o rol de complexidades que caracteriza as relações humanas. A par de
escolher o que é publicável, segundo a linha editorial e o intangível “interesse
público”, é ainda o editor quem faz os arranjos (ou “desminagem”, na gíria jornalística
angolana, para textos de principiantes e/ou com graves debilidades no uso da
língua). Ora, esse papel pressupõe que o editor tem aptidão superior aos demais
(ou pelo menos à maioria). Será isso uma verdade? Visto de outro modo, será que
o patrão leva isso em conta? Para as falhas do redactor-repórter está a “fiscalização”
do editor. E quem “caçará” as falhas do editor, nos casos em que ele tem também
matéria na banca?
Na
mais comum das vezes, o repórter entrega a matéria ao editor, só tomando
contacto com as “alterações de laboratório” quando o trabalho está já publicado,
goste ou não. Não há tempo a perder nas redacções, dirá o editor para justificar
o unilateralismo. Se o repórter se inquieta pelas “mexidas” (muitas vezes, com
razão), arrisca-se a ser rotulado pela falta de humildade, para não falar de
processos disciplinares por insubordinação. É certo que o editor não devia ser visto
com latente antagonismo, costumeiro no exercício do poder, que é sempre de uns
sobre outros. Que bons editores existem, existem.
Mas
com que bases um editor define o certo e o errado? Cultura geral apenas? Pela
legitimidade de ser o primeiro depositário das litigâncias? Não seria humildade
também consultar os subordinados onde a “falha” não fosse tão evidente? Qual seria
a saída?
Não
tendo para já as respostas, julgo haver um detalhe a não ignorar: sem desprimor
para o espírito de equipa, também não é menos verdade que o público não domina
os bastidores e atribui a quem assinou um trabalho seus eventuais erros e
incoerências.
Gociante Patissa,
Benguela19 Fevereiro 2014
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