quarta-feira, 13 de junho de 2018

Em linhas tortas (53)

O mal-estar na UEA (União dos Escritores Angolanos), que motiva dos membros – uns mais expressivos, outros mais reservados – a exposição dos erros de gestão (com colagem depreciativa ao perfil do Secretário-geral), obriga, no mínimo, apontar também qualquer coisinha de positiva que se tenha registado ao longo do seu mandato. Qualquer referência favorável em relação a alguma decisão de que como membros tenhamos beneficiado, ainda que seja só para legitimar a narrativa do desalinhamento. Terá sido tudo erros e incompatibilidades? O escritor e confrade Carmo Neto, que sucedeu o confrade Adriano Botelho de Vasconcelos, está há oito anos à frente da nossa UEA, até então a mais representativa agremiação de escribas, no penúltimo dos três ciclos de três anos que deverá conhecer o seu termo em 2019. Sai com a grande nódoa de não se terem feito démarches atempadas que salvassem a vida do nosso funcionário Zacarias Falso, detido por suspeita de negligência em vandalização de viatura no recinto da UEA e mais tarde morto por tortura nas celas da polícia em Luanda. A lição que fica é que mandatos longânimos em instituições cooperativistas não se recomendam, quer pelo desgaste da imagem, quer pelo comodismo do líder em relação às obrigações estatutárias e, fundamentalmente, na consolidação da vida interna das organizações. Como sempre defendi internamente, um dos problemas é (já) não haver assembleias intermédias, estando a regularidade reservada só para as assembleias eleitoralistas, que como é de imaginar não dão espaço para abordar de forma conciliadora os recalcamentos e alguma falta de transparência na gestão da coisa pública. Talvez tivesse ouvido a voz interior quando a sua candidatura ao terceiro mandato se viu bastante protestada, tendo entretanto ganho o pleito à tangente, em se tratando de mandato de continuidade, à pala da grande obra demonstrada pelo antecessor. Tornei-me membro em 2009 e é realmente a primeira vez que vejo insatisfação de membros evoluir para desvinculação (formal). O que vem a seguir não está claro. Seja como for, estando distante de Luanda e das fontes mais próximas do "turbilhão", não sendo, ainda assim, de me calar perante circunstâncias em que a consciência obriga a uma tomada de posição, deixo um abraço de compreensão aos que saem, aos que ficam e aos indiferentes. Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa, Benguela, 13.06.2018
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