“É
aquela, meu!… E convosco?”
“Ya…
Vamos fazer mais como?…”
“Como
é, velho, ali no multi-caixa tem papel?”
“Qual
papel? De letras finas ou o que tem as caras dos pais dos outros?”
“Este
mesmo, o de um morto e um vivo.”
“Nada.
Também fui picar, a ver se aquela sujeira já caiu, e nada!”
“Vosso
fim do mês continua a atrasar muito?”
“Isso
até…”
“É
o que te falei naquele tempo: tira voado desse empate profissional de figura
pública que apanha poeira na fila do banco quando o salário cai, ainda estavas
a mandar vir. Sócio, eu esses mambos de esperar salário no bolso do patrão,
tipo mulher doméstica que depende do marido, já descalcei há bwé. Hoje, faço
meus business, hã!, empresário por conta própria é outra coisa. A vida
minimamente vai...”
“Nessa
conversa já estás a ir com água, mô wi! Você já assim também é empresário?! Ó
meu, baixa ainda a velocidade do sonho…”
“E
vais dizer que não sou um empresário?!”
“Estás
sempre a ir com água, ó pai! Empresário vem de empresa, estás as ver, né?
Alguém que faz importação, que tem parceiros lá fora. Você tem empreendimento,
és um pequeno empreendedor só ainda praticamente. Ou já pagas imposto nas
finanças, no banco tens garantia de crédito e eu ainda não sei?!”
“Mas
eu pago salários, ouviste?!”
“Hum!
Fazes pagamento por biscato, mano, não vamos só se entrar na mente, engordar as
ideias. Tipo assim: se é na classe dos carros, você ainda é só um kaleluya,
rapaz! Não acabaste bem de ser mota, apesar da carroçaria. São vocês! Só viu
uma esquina com seis galinhas, ah porque projecto no sector aviário com vista à
diversificação da economia. Xê, você!!! Vai à escola, homem!”
“Sei
ler e escrever. Contas é comigo. Assim vais dizer que estás melhor que eu?!”
“Em
Setembro o salário dos professores já vai tomar anabolizantes, está no ginásio
das finanças a ganhar músculos…”
“Tcha!!!”
“O
novo estatuto de conversão da carreira docente é uma promessa! Aquela greve do
Sinprof fez alguma coisa. O cágado da justiça vai chegar, lentinho, mas vai… Os
outros que ainda abandonaram o estudo e o estado, isso já é com eles…”
“Só
agora que vais conhecer dinheiro parece, né? Tudo o que vais comprar eu tenho
ou já tive…”
“Será?”
“Eu
vivo bem, sócio! Já dei grande passo. Quero resolver a minha vida. Quando
atingir os quarenta e cinco anos, não preciso mais trabalhar. Aquilo é só
comer, beber do bom e do melhor, muitas miúdas estão à espera. Agora, vens com
essa conversa, ah porque tens de estudar?! Depois dos trinta e cinco anos, o
tal estudo vou mais levar aonde?!”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 04.06.2018
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário