“Amor, eu queria assim – sabes, né?… – falar uma coisa importante…”
“Deixa ver se adivinho. Será necessário reconhecimento pelo notário?”
“Também não precisa exagerar…”
“Um pouquinho de humor é a vitamina do amor, né? À espera do desenvolvimento e da conclusão. Só estamos na introdução. Quando penso que no fim de tudo, ainda resta a etapa de arranjarmos um título sugestivo para esta composição que tentas lançar…”
“Pára! Parvo…”
“Ok. Era só um aquecimento básico a ver se te rasgas logo em palavras. Deixas-me nervoso quando accionas o teu ar muito sério… será que te ofendi e não dei conta?”
“Até, não. Foste já logo ali?! Tu és atencioso, fofo. Dá cá ainda um beijo…”
“Será que sentes que vais reprovar outra vez na escola?”
“Ainda não sei bem, mas não é por aí…”
“Então, dama? Fala logo…”
“É assim: se não fizer maquilhagem, acho que não vou voltar aqui no teu quarto…”
“Como?! Acho que não percebi bem…”
“As minhas amigas me deram assim umas dicas que com a maquilhagem a pessoa fica radiante. Por onde passa, deixa…”
“Quer dizer que posso não pagar o pré-pago da ENDE, na casa toda escura vai bastar a tua maquilhagem para iluminar?”
“O que é que tem a ver?! Deixa falar. Não reparaste como elas agora estão tipo divas?”
“Ai, é? Por acaso, não me saltou à vista… Falam dos mesmos assuntos, moram onde sempre moraram, vestem as mesmas roupas…”
“Homem mesmo não entende, ya?… Afinal vos fizeram como?! Oh, raça de distraídos! Escuta uma coisa: maquilhagem é tudo… Uma mulher até se sente outra…”
“Ai, sim?… Estou a ver…”
“Estás a ver este cravo na cara?”
“Foi das características que me fizeram te conquistar; te torna diferente…”
“Estás a me ofender!”
“Amor, estamos a namorar há quatro anos, certo?”
“Assim mesmo!”
“Então só hoje é que estás à procura de brilhar? Queres-me convencer que durante estes anos todos, me apaixonei por uma pessoa fusca?! Não faças isso, por amor de Deus!”
“Também não precisa falar assim!!! Isso ofende, sabias?!”
“Mas a mulher angolana é assim porquê, que uma simples moda é suficiente para comprometer a auto-estima?!”
“Hã?…”
“Aparências, sempre as aparências! Sabe o quê? Eu dou razão ao governo quando decidiu dar a produção dos novos BI aos chineses. É tanta crise de identidade e máscaras sociais que simbolicamente até faz sentido colocar a nossa identidade nas mãos dos maiores falsificadores de mundo… Depois é só esperar chineses adultos naturais de Angola…”
“Já vi que não queres pagar o tratamento de beleza. Ó coiso, vamos só mudar de assunto, ya?”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 12 Junho 2018
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