(Karl Marx (1818-1883), filósofo e revolucionário socialista alemão.
A
agenda política desta semana está a ser animada pela entrevista que o
empresário Bartolomeu Dias (BD) concedeu ao jornal Valor Económico, na qual dirige
duras críticas ao presidente João Lourenço (JLo), empossado há oito meses. Em
causa, o pronunciamento em termos bruscos do PR ao anunciar em entrevista à
Euronews que o consórcio Air-Connection, que apelidou de fictício, não irá
avançar.
O
controverso consórcio, alvo de críticas nas redes sociais e na imprensa
independente, entre ela o Correio Angolense e o portal Maka Angola, seria constituído
pela companhia de Bandeira, Taag, pela Empresa Nacional de Exploração de
Aeroportos e Navegação Aérea de Angola (Enana) e por operadoras
privadas angolanas, algumas delas com a licença cassada pelo Instituto Nacional
de Aviação Civil (Inavic) em virtude de não terem conseguido superar as
não-conformidades detectadas em auditorias. As acções estavam distribuídas assim:
Taag 30%, Enana 10%, Bestfly 8.57%, Air Jet 8.57%, Air 26 8.57%, Air Guicango
8.57%, Diexim 8.57%, Sjl 8.57% e Mavewa 8.57%.
Com
o chamativo título “Governar um país não é como gerir a nossa casa”, BD vê-se
aplaudido por ser o primeiro empresário “sem papas na língua” a opor-se às
medidas de corte que marcam a estratégia inicial de JLo. Reprova os modos com
que o veto foi a anunciado e lamenta o recuo naquilo que seria a criação de
mais postos de emprego, precisamente num capítulo em que o país não anda nada bem.
Para
os mais atentos, não é de todo a primeira vez que o empresário se posiciona na
imprensa em termos algo musculosos, sempre legítimos, para refutar uma posição
oficial. Diremos que é uma característica saudável de estar na mídia. Aquando do veto da sua Diexim
Express de operar nos céus angolanos por conta das não-conformidades, BD chegou
a ameaçar levar o Inavic às barras do tribunal, o que não se sabe se emperrou
na lentidão processual ou conheceu recuo. Mas é desta vez, ainda voltando à entrevista
ao jornal Valor Económico, que o empresário atingiria o fundo da baixaria, ao
empobrecer o seu argumento de razão usando uma narrativa digna de ambientes de
bar:
“Não estou a ver o ministro Augusto Tomás, um indivíduo
experimentado nas lides de governação, a cometer este erro. O surgimento desta
companhia já existe desde o anterior Governo, foi aprovado em Conselho de
Ministros e a TAAG não seria sócia maioritária, teria um volume de acções
inferior ao conjunto dos privados. Agora, além da especulação, há aquele negativismo
do negro porque nós, raça negra, enfatizamos tudo o que é negativo, não somos
indivíduos positivistas para desenvolver o nosso continente e país. Queremos
sempre destacar o erro dos outros por mais pequenos que sejam, esquecendo os
aspectos positivos”, disse BD.
Para bem da nossa democracia (vertentes de participação e
liberdade de expressão), seria realmente bom manter-se esta tendência (esperemos
que vire cultura) de a classe empresarial tomar posições contra medidas do
executivo. Mas muito melhor ainda para a utopia da moralização de uma sociedade
com um passivo considerável de promiscuidade, será se houver a mesma coragem de
contestar mesmo em dossiês em que não se tenham interesses ou dividendos.
Como
alertou Marx, “a história repete-se, a primeira vez como tragédia e a segunda
como farsa”. E a história parece repetir-se. Consta que quando o presidente José Eduardo
dos Santos assumiu o poder, viveu-se uma euforia de críticas e
"afrontas" por parte de entidades e sectores bem posicionados do
aparelho e lobby do presidente Neto (falecido prematuramente), herdeiros em
termos políticos de algum capital de poder e legitimidade para impôr pressão,
aquela de quem acredita ter uma visão mais assertiva do que a do presidente da
república, talvez mesmo mais autoridade do que este. Consta também que aos
poucos muitos destes "corajosos" foram ficando fora de foco,
criando-se com isso depois uma elite de descontentes e excluídos. Um dos grandes
desafios do presidente Lourenço será seguramente o de resistir à tentação
humana de repetir o que já sabemos. Ainda era só isso. Obrigado.
www.angodebates.blogspot.com |
Gociante Patissa | Benguela, 14 Junho 2018
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