Entre 2002 a 2005, três vezes ao ano e mais de três dias por semana, se não me engano, servi voluntariamente como inquiridor de indicadores de qualidade nas jornadas de vacinação contra a poliomielite. Na prática, foi um trabalho de campo de vários quilómetros a pé no Lobito, Baía Farta, Katombela, Dombe-Grande, Benguela e Kanjala, sob coordenação da CRS. A nossa missão de fiscais não podia ser mais desapreciada pela outra parte, no caso os próprio vacinadores. O ponto de maior tensão consistia em flagrar vacinadores, também eles voluntários, sobretudo em zonas montanhosas (e periferia), a entornar a gota ao chão e ficticiamente preencher a estatística, o que representava a exclusão de moradias de relativamente difícil acesso. Fartávamo-nos de reportar à entidade parceira do Ministério da Saúde, mas o quadro se repetia ano após ano. As causas para tal sabotagem, se me permitem o termo, resumiam-se na desmotivação, depois de esfriada a emoção de receber a T-shirt, o boné, e algum lanche à base de gasosa, sandes, maçã importada e frango frito. Para quem andou nos bastidores durante este tempo, fica difícil soltar-se do cepticismo quanto à erradicação da poliomielite em Angola.
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