Precisava
urgentemente de um computador portátil. O meu, a caminho de quatro anos, fartava-se
de emperrar. Já na aloja, chamou-me a atenção um computador, pela benevolência
do preço, poupança superior a trinta mil kwanzas, ainda mais em tempos de
crise. Com alguma sorte, fui a tempo de o não comprar. O rótulo dizia made in
Angola. É que se a pessoa leva em conta a qualidade do nosso ensino (ou a falta
dela), do ponto de vista do rigor, apostar na fiabilidade de determinados
produtos “nossos” leva a pensar duas vezes. É um voo complexo de embarcar.
Afro-pessimismo?
Não
se trata propriamente de amar mais ou menos a pátria. Trata-se, isso sim, de
assumir os defeitos que estamos com eles. Escusado é falar do ainda débil e não
representativo sistema de controlo de qualidade. Já se diz que o primeiro passo
para resolver um problema é assumir a sua existência. Se negamos, adiamos, e o
mal cresce.
Sou
dos que alimentam alguma “inveja positiva” relativamente àqueles que tiveram
oportunidade de se formar no exterior do país. Falo naturalmente de
instituições com boa reputação pela consistência. Como lá chegar daria outro
texto. Que tal vai o nosso ensino universitário? O desafio é grande, tanto mais
que temos professores licenciados nos cursos de licenciatura. Então devíamos
parar? Claro que não! O país precisa de aproveitar os recursos que tem,
potenciando-os de mãos em serviço, não cruzadas.
Até
lá, há que aproveitar de forma transversal momentos de enriquecer a cultura
geral, tirando proveito da imprensa convencional e das novas tecnologias de
informação e comunicação. E por falar nisso, dentro da fatia de contributo
social que lhes cabe, a TPA e a TV Zimbo têm na sua grelha de programação
espaços de partilha de ideias com um formato híbrido, entre o debate e a
mesa-redonda, se quisermos. E os intervenientes?
Ora,
já alguém repugnou a tendência da bipolarização, tanto das visões dos
convidados, como o debate pós-programa nas redes sociais, tendência que taxa a
coisa entre os pró e os anti-governo. Mas a rotulação, que agora assume um
nível mais mediático, não será na verdade o mesmo espectro que coarcta e não
sabe diferenciar adversário de inimigo no dia-a-dia? Ainda bem que já se
assumiu a necessidade de combater a intolerância.
Gostaria
de chamar à liça outro mal, o da megalomania. É natural que como cidadão,
algumas vezes me simpatizo mais com a ideia defendida por um do que pelo outro,
mas só posso esperar de todos elevação e contenção na forma. É com alguma
desilusão que “engolimos” alguns deslizes, a título de exemplo, de três compatriotas
formados na Europa: o jurista João Pinto, o sociólogo João Paulo Ganga e o
jurista Juvenis Paulo.
Depois de “ordenar” na TV Zimbo ao académico
Fonseca que lesse mais e que os livros não eram para se guardar em casa, Ganga
não se coibiu de esta semana usar do mesmo tom pouco cortês e afirmar que o seu
contendor estava a delirar. Já no debate de ontem na TPA, disse Juvenis, no
alto do seu podium em relação ao colega de painel e mais-velho: "temos de
dar prioridade a licenciados". Do jurista Pinto já se sabe o que vem …
Como diria Graça Machel, «temos de formar jovens
que saibam ter o sentido de humildade. Os nossos jovens, hoje, saem "muito
doutores"; doutores disso, daquilo.»
Gociante
Patissa. Katombela, 10 Dezembro 2015
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