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O mercado capitalista, que se baseia no postulado da
liberdade de mercado, costuma no espírito e na forma acabar sendo o oposto do
que apregoa: a liberdade. Porque ela, a liberdade, é música dissonante quando
pelo seu lado da vontade individual parece pôr em causa o outro lado, o da obra
do sonho colectivo.
No nosso caso, a partir do momento em que uma marca
comercial, por força da sua publicidade e presença na vivência da maioria, se
torna representativa, ela passa a figurar no campo dos afectos telúricos. Passa
a ser um património de uma determinada sociedade, mesmo sem o ser
materialmente. A Unitel é nossa. Não devia valer, por esta lógica, o argumento
do "posso, logo faço", alheando-se de todo um conjunto de sistema de
valores do meio em que está inserida.
É certo que neste campo, há uma espécie de dois países em
um só, estando num lado um meio urbano ultra-liberalista (entretanto sem
pilares como tal) e noutro uma desesperada tentativa de salvar e resgatar
valores positivos de matriz identitária africana. As políticas de Estado, que
não tinham como ser acutilantes em épocas de guerra, seriam o necessário
capital de contra-poderes. Enquanto isso, o debate é insuficiente em quantidade
e profundidade. O espectro do medo e da conotação é omnipresente.
Como pensador não subscrevo a visão radical que
qualifica de bosta o que a academia convencionou chamar "arte
moderna/urbana", por ela representar uma montra de pura anarquia em termos
de conceitos estéticos e rigor, bastando apenas um pouco de ousadia argumentativa
para qualquer "nada" elevar-se ao estatuto de arte ou olhar estético.
Também não posso concordar com paralelismos relativistas
e descontextualizados, só para defender os deslizes que ocorrem na publicitação
de produtos. No outro dia, perante um outdoor (que suscitaria polémica pela
nudez explícita na imagem da modelo) em Luanda, não tardou alguém dizer que não
via diferença entre aquilo e a forma tradicional de vestir dos mucubais, no sul
de Angola, que se apresentam geralmente de tanga e peito desnudo. Mas seria
intelectualmente honesta a comparação que arranca uma etnia do seu contexto
cultural? Enfim.
Voltando ao título deste apontamento, parece que é à
Unitel que devíamos torcer o nariz em repulsa à imagem da sua convidada, a
americana Nicki Minaj, que entretanto não pode ser responsabilizada, uma vez
que o seu mercado encoraja aquela forma escandalosamente sensual de vender
música. Quem paga (e nestes casos nunca é pouco) pode sempre influenciar.
Consta que foi por isso que o nosso Yuri da Cunha (não que alguma vez apostasse
no culto ao corpo) teve de se vestir de maneira mais "comedida"
aquando da sua jornada com o italiano Eros Ramazzoti pela Europa, talvez para
não destoar a imagem de simplicidade em palco como marca.
Não fazendo apologia da censura, não podemos por outro
lado deixar de assinalar que grandes corporações influenciam opiniões e
modelos. Para uma juventude já com tão débil noção de distinguir fantasia de
vida real, talvez o soft porno não seja tanto o que mais ajuda enquanto modelo,
mesmo o conveniente, como parece ser o caso. Não reclamemos, pois, se amanhã as
nossas irmãs cantoras enveredarem pelo sof porno como forma mais frutífera de
conseguir um cachet alto em palco.
A Unitel, que tem a responsabilidade tanto de estar perto
dos seus clientes do meio rural como dos da cidade, tem outras formas de
encher os angolanos de orgulho, das quais sublinho a contínua melhoria da
qualidade e a expansão do seu serviço na conquista de outros países... com
Angola no coração.
Gociante Patissa, Benguela 20 Dezembro 2015
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