“Mas o vizinho? Por aqui? De alegria também não é. Ou é?”
“Adivinhou, vizinho. Coração está na mão. Podemos conversar?”
“Quer dentro ou quer fora?”
“Dentro mesmo! Me assaltaram quando saí para a
sentina. Isso até, a pessoa, se não é homem, chora… Tanto rico com carro de
casa e carro de saída; jogador a acender cigarro da vela p'ra boca com dólar...
vão roubar logo um filho do suor?!”
“AJUDANTE!”
“Pronto, mestre!”
“ANUNCIA!”
“Entrada é cinco mil, consulta é dez.”
“Está certo. Aqui estão os quinze mil Kwanzas."
“Roubaram o quê?”
“Roubaram duas escalças sociais de saída…”
“Escalças?”
“Sim, de vestir com a camisa.”
“Só?”
“Também maço de cigarros, dois pães com chouriço metido, litro de
quente e uma sexta de cerveja que era para o Natal, saiote da tua cunhada.”
“AJUDANTE!”
“Pronto, mestre!”
“ANUNCIA!”
“Se olha no espelho.”
“Já está!”
“O que acha do sonho?”
“O sonho tem alguma coisa a ver com o roubo?”
“Aqui é saber responder!”
“Bem, o sonho… são fantasias… geralmente erróneas…”
“CALA A BOCA, IRMÃO! O SANTO TOMÉ NÃO ADMITE FALAR MAL DO SONHO. O
SONHO É A MÚSICA DA VIDA!”
“Pronto, vizinho, deve ser isto mesmo!”
“AJUDANTE!”
“Pronto, mestre!”
“ANUNCIA!”
“O Santo Tomé está a ver o gatuno a correr no espelho. Passou mesmo com
tuas coisas.”
“Yaló! Obrigado, vizinho. Eu sabia, eu sabia que o mestre não
desconsegue nada! Mas diga, quem é o gajo? Qual o nome dele, que é p’ra lhe
partir já no focinho?”
“AJUDANTE!”
“Pronto, mestre!”
“ANUNCIA!”
“Ah, o Santo Tomé manda avisar que já sabemos quem foi, mas não dá para
falar nome. O mano sabe que isso, no bairro, costuma dar inimizades, não sabe?”
GP. Benguela, 20.12.15
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