Estava numa esplanada a matutar para terminar um conto que há um mês quer sair da mente para o papel, encomenda baseada na vida real de uma grande senhora. No momento de estagnação criativa, um desconhecido sentado atrás de mim está ao telefone soltando fragmentos, que é a ideia que se tem na impossibilidade de ouvir o outro lado: "oi, a-mor, tu-do b-em"? (é gago o moço). "Olha, é muito grande o amor que temos um pelo outro, nosso amor é imenso". E lá estou eu, já bem atento, na esperança de ouvir algo com literariedade e quê e tal... "Porque é que me distratas assim? Vais-me pôr em espera para atender outra pessoa? Está bom que a fila é grande, mas tens que saber escolher. Posso passar em tua casa para te dar um beijinho? Não vai dar, vais sair?". Eu disse para mim mesmo, não é desta que me safo; meus personagens são já de certa maturidade, o leitor não gostaria de ouvir num instante a certeza de haver imenso amor entre o casal, e volta e meia confrontar-se com o mendigar para ter um minuto de atenção. E fecho o dia com meio conto, amanhã quem sabe termino rsrsrsr
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Pois é, andamos por cá a brincar aos amores. A palavra despe-se do conceito e reinventa-se como moeda para leilão, passe eventual exagero.
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