Quente e húmido, o vento que entra pelas janelas do todo-o-terreno desmente os 27º C que o software androide do telemóvel indica. Os poros estão a ponto de chover amoníaco, enquanto o ar condicionado há meses que tira um defeso sabático. A propósito, é sábado, e não há quarto vago pela centena de pensões e hotéis, não antes das duas da tarde. O tráfego é lento, às vezes pelo semáforo, outras vezes pelo engarrafamento em si. Está aí o posto de trabalho de quem até já fede à combustão do tubo de escape, de tanto serpentear de jornal à mão. São diversos os títulos do fim-de-semana, mas esse meio adolescente e meio chefe de família tem a lição bem estudada. “Tá aqui jornal”. À reacção inócua ele logo contorna: “DUAS IRREVAIS SE MATAM NO MUNICÍPIO DO CAZENGA” anuncia, telegráfico, sem esclarecer se morreram ambas, ou não. Tempo é dinheiro para o ardina também, de tal ordem que não insiste, e some serpenteando pelo Largo 1º de Maio em sua panaceia. Surge outro na esquina mais próxima, e como tal mais um título chamativo no pregão. Luanda confunde-se com a sociologia.
Gociante Patissa, 23.03.13
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