Seguia eu com zeloso olhar os passos de M. Era última semana do nosso encontro em Miami. Nunca nos aproximamos um pouco mais ou menos relativamente aos demais. Vinte almas no grupo, cada representando os irrequietos do seu país, que é por ora a palavra que me ocorre para caracterizar activistas cívicos. Era mais de sorrir, dando a ver seus dentes um pouco desencontrados, do que de falar. Outra utilidade que dava à boca fazia-lhe descer as escadas para ter com o bafo de inverno que a rua cuspia, fumar no hotel não podia. Nessa noite ela estava de saia e uma blusa com a sobriedade que eu muito aprecio. Cantavam-se parabéns de improviso pelos anos de um colega de grupo. Não era eu. A música era colombiana. M. dançava, seus pés descalços, brancos e delicados, realçando-se sobre o veludo roxo da alcatifa. Até hoje não sei porque me envolveu tão estranho deleite, como se de uma descoberta nova se tratasse, um acontecimento. Só pode ser tolice, já que ela não podia ter nascido com sapato nos pés.
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