«Eu lhe liguei mesmo. Falei: ‘mor, marido não é
só de boca. Tens que me levar no réveillon. Compra roupa e paga ingresso, quero
estar bem bonita ao teu lado. É tarefa do marido. Tens de me levar. Se falta
combustível no carro, eu vou meter. Enquanto ainda o tal amor está na parte
doce, temos que aproveitar. Deixa-me só viver a minha felicidade. Quando chegar
a fase das pancadas, já sei que não vamos dar conta que há passagem de ano'. É
verdade, meu irmão, vocês, homens – vai-me desculpar –, não prestam. Você pode
dar mesmo tudo, sempre já vai ter pancada na relação. Homem não é raça. O amor
é mesmo assim, sempre já vai ter mesmo os dias de pancada. Eu falo mesmo. O
amor não presta!» (monólogo de uma senhorita balconista de supermercado de
Benguela). www.angodebates.blogspot.com
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
domingo, 30 de dezembro de 2018
Resenha | Minha reação ao “Homem Que Plantava Aves”, de Gociante Patissa, por Banny de Castro
| Banny de Castro |
Muito além da criatividade e da
crítica humorística subjacente, cá para nós, que vivemos próximos da realidade
trazida para esse livro, vale muito a atenção que o Gociante Patissa dedicou não apenas à cultura, mas à própria
história da nossa gente. Claro que, por estar composto de textos literários,
não se deve imputar ao livro algum carácter técnico-histórico.
Mas a literatura, em diversas
circunstâncias, tem tido um papel interventivo muito forte, principalmente no
que tange ao despertar fazedores de outras ciências para assuntos que lhes
teriam passado despercebidos… Esse livro é interessante porque carrega o poder
de instigar e provocar aqueles historiadores preocupados não somente pela cultura,
mas também pela história de Benguela e dos Ovimbundu; aliás, já é conhecido o
engajamento do autor na investigação da nossa tradição oral, o que de uma ou
doutra maneira desemboca no seu interesse pela própria história das nossas
gentes.
Por existirem ainda raros
escritores a fazerem o que ele faz por Benguela, sem o envolvimento dele nessas
questões muita da nossa tradição estaria ameaçada a perder-se sem deixar
resquícios de sua existência, e a posteridade estaria impedida do prazer de conhecer
esses detalhes importantes do seu passado; graças à essa intervenção, a sorte
bate a porta e as pequenas comunidades abrangidas pela pena do Patissa ganham o
privilégio de verem a transmissão de suas idiossincrasias para as cidades e
para o futuro, o que não é algo de somenos importância para as suas vivências e
o seu orgulho.
Para um futuro que se apresenta
hostil à tradição oral, esse contributo, de um escritor que regista episódios
do passado e do presente de uma comunidade que durante bastante tempo viveu apenas
da oralidade, é de extrema importância. Para mim não é o folclore que me
interessa, mas fundamentalmente a historicidade desse povo que não teve a sorte
de fazer registos escritos do seu passado. Como mais novo que sou, aprendi
muito nesse livro. Há textos que me deixaram comovido porque retratam questões
intimamente ligadas ao meu passado, como é o caso da mitologia envolvendo o
substantivo “Ndumba”, nome de meu avô materno.
Os rituais de saudações, os atambos, os cerimoniais de julgamentos, a
“Lenda do Soba Ndumba”, o feminismo e as ousadas políticas de natalidade da
Camarada Vice, e mesmo as cenas da guerra pós-independência, representam não somente
aspectos mitológicos ou tradicionais da nossa gente, mas também suas crenças, suas
esperanças, suas derrotas, suas vitórias, suas descobertas, suas ideias e
aspirações, em suma, são sua história; uma história que tem sido feita e
contada na escuridão e/ou à sombra de mulembas. Que essa história seja
bem-vinda à luz da ciência e das novas tecnologias!
Benguela, 30 de Dezembro de 2018.
sábado, 29 de dezembro de 2018
VÍDEO| Lançamento livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa
VÍDEO TPA | Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, a edição angolana da mais recente colectânea de contos do escritor angolano Gociante Patissa, que foi lançada nos dias 14 e 15 de Dezembro na província de Benguela, numa reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA) 2018. Narração de Angelino Samuel (Angélico Samuel Anjo), imagens de Cardoso Muhongo
(reprodução feita em directo por telefone a partir da página TPA online)
(reprodução feita em directo por telefone a partir da página TPA online)
Comunicado
Aos interessados em ganhar o livro O HOMEM
QUE PLANTAVA AVES, a edição angolana da mais recente colectânea de contos do escritor angolano Gociante Patissa, que foi lançada nos dias 14 e 15 de Dezembro na província de Benguela, os serviços de apoio a sua excelência eu comunicam que o autor (já) não tem exemplares em sua posse, pelo que deverão adquirir a obra (2.500 kz) directamente no quiosque do Movimento Shalom, sito no recinto do Mercado Municipal de Benguela, ou e contactando a editora Acácias (Rua Reverendo Agostinho Pedro Neto, Prédio nº 20, 1º andar - 2.ª porta à esquerda. Contactos: 991123209 / editora.acacias@g mail.com). Mais se informa que em Luanda, a obra está disponível na rede de livrarias Mulemba, também presente na Cada da Juventude em Viana. Ainda era só isso. Obrigado. Continuação de boas festas.
www.angodebates.blogspot.comsexta-feira, 28 de dezembro de 2018
Justino Handanga e Banda FM animam confraternização de fim de ano na Rádio Benguela
Neste momento estamos a viver o ponto mais
alto da confraternização de fim de ano no jardim da Rádio Benguela. O músico e compositor Justino Handanga, acompanhado pela Banda FM, revisita o repertório que é já desde o ano de 2002 uma prateleira cheia de clássicos da música produzida na região centro e sul de Angola e com forte pendor de crítica social, sem perder de vista a recolha etno-musical. Temas como "ndatekateka", "Paulina", "Abílio", "Olonamba", para só citar alguns, fazem as delícias da assistência, com a transmissão em directo do show na frequência dos 92.9 FM. O palco foi montado num conceito intimista, permitindo deste modo uma interacção sem barreiras com quem entende tirar uma foto ou sussurrar elogios (merecidos, por sinal) ao pé do ouvido do artista que viajou da província do Huambo. Sua excelencia eu agradece com todas as letras ao director da estação e produtor do evento, Adao Emanuel Filipe, pelo convite. Ao Gilceu, à Lena Sebastião Sebastião e a todo o colectivo, por todo o carinho neste convite que nos chegou na condição de amigo da rádio. A feijoada e o cabrité estiveram no ponto. Ainda era só isso. Obrigadoquarta-feira, 26 de dezembro de 2018
Citação
Olá caro autor [Gociante Patissa.
Foste citado por várias vezes, numa tese de doutoramento de uma personalidade angolana, devido ao teu trabalho literário e de pesquisa cultural.
Senti-me feliz e orgulhosa de ti.
E por ter lido a tua primeira obra " O Consulado do Vazio ".
Força e sucessos.
[Isabel Ferreira, escritora angolana residente na diáspora]
Citação
"Os autores usam os personagens para falarem de si mesmos" (discurso de personagem do filme Istambul Vermelho. Netflix)
Citação
"Amigo, por vezes, pode ser um contrário, que parecendo confrontar o outro, visa apenas alertá-lo sobre o cometimento de erros e o trilhar de caminhos sinuosos, na sua acção diária."
(William Tonet, Folha-8, 25.12.2018)
Citação
"A parte suja, às vezes muito suja, da segurança mundial fica na responsabilidade dos EUA" (Daniel Conh Bendit, Euronews)
[Oficina literária 52] NA CARRINHA, UM DESERTOR DA VIDA– crónica de José Cumandandi
Terça-feira, 04 de Setembro de 2018, período matinal. Estava eu na parte de frente de um táxi a caminho da Mutamba, saindo das imediações da Muliperfil. Já no Morro da Luz, por razões que dizem respeito ao acaso, direcciono o meu olhar para a outra faixa de rodagem do mesmo sentido ao que transitávamos e vejo três senhoras com semblantes amarfanhados, numa carrinha, em volta de algo que parecia uma pessoa adulta enrolada em panos.
Livro de contos O HOMEM QUE PLANTAVA AVES (do escritor angolano Gociante Patissa) à venda... EM BENGUELA à venda 2500 kz no quiosque do Movimento Shalom, mercado Municipal de Benguela || EM LUANDA à venda 2500kz nas livrarias MULEMBA. Contacte Editora Ed Acácias Acácias, Rua Reverendo Agostinho Pedro Neto, Prédio nº 20, 1º andar - 2.ª porta à esquerda. Contactos: 991123209 / editora.acacias@gmail.com
RESENHA
“Com um conjunto de 14 contos e uma fábula, Gociante Patissa
constrói suas histórias explorando um enredo criativo, único. Na história que
dá nome à obra O Homem Que Plantava Aves, a ficção constrói-se sobre a história de um
povo rural devoto à natureza. A narrativa de Patissa marca-se como uma escrita
crítica, que pela construção de um humor fino destila suas críticas contra os
paradigmas do homem. Ainda na história, este povo rural citado enrijeceu-se
sobre a crença de que as pessoas portadoras de deficiência não podiam ter os
seus direitos igualados aos das ditas pessoas sadias; a ficção do escritor irá
desenvolver-se no sentido de desconstruir a barreira de preconceitos levantados
pela sociedade. Esta acidez singular de Patissa também se mostra na história A Meia-Viagem do Senhor
Serviço, na qual
a narração denuncia a hipocrisia inerente aos status sociais, através da
elaboração do humor. Com isto, astutamente o escritor marca o seu ponto de
vista, trazendo ao final dos seus contos a comicidade dos desconexos
preconceitos humanos, que quase sempre recaíam sobre a mesma população que os
criou e sustentou. Com a característica de um escritor-parodista, Gociante
Patissa cria as suas histórias com uma escrita concisa e leve, porém
estruturada pelas palavras de um homem que enxerga além da construção social,
tão aceita, mas tão necessária de ser repensada…”
(Caroline Eulália, Brasil, Abril de 2018)
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
[Oficina literária 51] A DEGRADAÇÃO – poema de Armando de Sousa
Dou-te o que mais precisas quando te encontras sobre os lençóis dos
hospitais
Mas destróis o que demais sou
Quando te firmas com o Machado
As vezes dizes que fazes parte de mim
Enquanto incendeias com ambição o meu chão
Para segregares a Madeira e o Carvão
Outras vezes ainda fazes-me renascer
Quando te reúnes para irrigares os meus estrumes
Meus recursos também são fontes
De beleza nas cidades
E a essência da sua vida
Ainda assim dás cabo da minha flora e fauna
Estou a morrer e é por isso que
Os meus olhos choram
Quando te firmas com o Machado
As vezes dizes que fazes parte de mim
Enquanto incendeias com ambição o meu chão
Para segregares a Madeira e o Carvão
Outras vezes ainda fazes-me renascer
Quando te reúnes para irrigares os meus estrumes
Meus recursos também são fontes
De beleza nas cidades
E a essência da sua vida
Ainda assim dás cabo da minha flora e fauna
Estou a morrer e é por isso que
Os meus olhos choram
Gravados de angústia desmedida
Sem uma gota de esperança
SOBRE O AUTOR
Armando Dias de Sousa nasceu em 1991 na província (e município) de Benguela, bairro da Lixeira, actualmente residente no bairro 71. Desde 2010 que se interessa pelo mundo da literatura, apaixonado pela poesia. Um dos primeiros livros lidos o “Consulado do Vazio”, livro que lhe foi ofertado pelo mano Silivondela.
[Oficina literária 50] O SEGREDO DO MEU SILÊNCIO – poema de Octávio “O Caquissi”
Onde desaguam
pensamentos
E formam-se ondas de conhecimentos
Cada suposição minha é um grão de areia
Quando me ausento de
qualquer reflexão,
Passo a viver de mitos das sereias.
Na ausência do silêncio,
O meu segredo faz-me verter lágrimas,
Lágrimas que se tornam um mar de angústia
Onde eu navego impacientemente
A fim de matar todo pensamento insolente
Que do silêncio me torna
um crente.
O meu silêncio é uma mala
Que pode estar vazia ou cheia
O meu silêncio pode ser respostas
Que me fazem procurar
perguntas
nunca feitas,
É refugio para minha aflição
E resultado de uma difícil equação,
O silêncio é o
segredo de todos meus segredos.
Octávio “O
Caquissi”
SOBRE O AUTOR
Octávio Darwin
Domingos Caquissi, nasceu aos 17 de Março de 1996 na província de Benguela, município
de Benguela. Reside do bairro Vila das Acácias. Estudante universitário da
Universidade Katyavala Bwila, no Instituto Superior de Ciências da Educação de
Benguela, na especialidade de Linguística Inglês, frequentando o quarto ano.
Também professor de Inglês como segunda língua no Iº ciclo do ensino
secundário.
[Oficina literária 49] VOU DEIXAR MINHA ALMA FALAR – poema de Marta Teixeira Lopes
Hoje enxergo melhor que ontem
Não vou dramatizar
Vou deixar minha alma falar
Vou sincronizar as antenas
Da minha estação
Sentimental
Vou dar a notícia matinal,
Não vou xinguilar,
Vou-me equilibrar.
Vivemos como se tivéssemos
Donos
Nossas vidas são expostas
Como fardos
Estendidos nos cabides das
Praças.
Somos despidos.
Levam nossas esperanças
Os nossos assaltantes
Usam fatos e
Gravatas
Ai de quem reclamar lhe
avançam
A verdade dói.
Ai de quem falar demais!
Há gente grande querendo
Calar a nossa voz
Até parece que nascemos
Para sofrer!
Quem nos vai acudir?!
Temos medo de sucumbir.
Vivemos de esmolas,
Comemos migalhas
O lema é chorar por dentro
E sorrir por fora
Hora bolas…
Estamos a engordar com
Mentiras,
E promessas jamais cumpridas
Clamamos por justiça
Queremos justiça…
Grita o povo sofrido!
Aonde vamos parar?
Vou deixar minha alma falar…
Nem tudo eu vivi
Meus antepassados viveram com
Medo da
Guerra
Da fome
Da miséria
E alguns até morreram.
Meus irmãos
Eram chamados
De refugiados
Procuravam abrigo em cada
Cubico.
A vida era correr com as
Crianças no dorso
E viteles nas cabeça
Falavam sobre esperança
Nos discursos banais
Que sabiam a bálsamos
O terror espalhava-se
O caos aumentava
E perder foi virando rotina
E os gritos de dor!
Ah! esses eram ouvidos
Não dava para ignorar
A miséria assolou
A nossa terra
A dor envelheceu o rosto
Dos jovens e também
O das crianças
Os olhares eram o puro reflexo
Do sofrimento sofrido
Veio a paz,
Agora vivemos a kitota
Da igualdade
Que maldade!
A história não acabou,
Está escondida no olhar,
Nas cicatrizes,
Na alma e também no
Silêncio
Nem tudo eu vivi,
Mas senti, nas histórias que ouvi.
Marta Teixeira
Lopes
SOBRE A AUTORA
Marta Teixeira Lopes, de Nacionalidade Angolana, tem 29 anos de idade, residente em Benguela, município da Catumbela. Licenciada em psicologia da educação, pela universidade Katyava Bwila. Professora, palestrante e formadora de opinião pública.
domingo, 23 de dezembro de 2018
[Oficina literária 48] ÚTERO DA VIDA – poema de Armando de Sousa
Firma-te sobre um silêncio ignóbil
Quando nos olhos fundamentas com lágrimas
O báratro de um sonho febril
Que amarga o percurso das suas lágrima
E sob o vazio escuro e azulado
Percorres pelas ruas cantando aos choros
Descalça e com o coração baratinado
Seguras nos braços a fealdade dos destinos
No amanhecer e morrer do dia
No amanhecer e morrer do dia
Acordas com os olhos grávidos de desespero e dor
Mas Deus a ressuscitará algum dia
Antes… Forjar a alma com fé e amor
SOBRE O AUTOR
Armando Dias de Sousa nasceu em
1991 na província (e município) de Benguela, bairro da Lixeira,
actualmente residente no bairro 71. Desde 2010 que se interessa pelo mundo da
literatura, apaixonado pela poesia. Um dos primeiros livros lidos o “Consulado
do Vazio”, livro que lhe foi ofertado pelo mano Silivondela.
[Oficina literária 47] ASSIM ACABOU O MUNDO – poema de Nelson Maurício
Quando o fôlego Deus
Coube - Lho tirar - te,
A bradar fiquei ao céu
Inconsolável, qual réu
Por comigo querer-te
*
Pois, partir sem adeus
Recitar aos entes teus
Machucou o coração.
É a triste sensação
Que não quero aos meus.
*
Turvou - se - me ao redor
O mundo, tudo e todos.
O riso em rio de lágrima
Rumando me sobejou
Pálidas mágoas seculares
*
E, então, à memória minha
Vivenciei Jó, questionando:
Como Deus pode a um anjo
Sem ter os mares velejado
Feliz, encurtar - lhe a sina?
*
Por ora, coube-me o vazio
No proceder de bom amigo
Um ombro me amplificar,
Muito embora quisesse o frio
Péssimo também me acalmar.
*
E, após essa tempestade
Que quase todo tudo levou
E só de ti em mim deixou
Um riso teu de felicidade,
Réplica ainda não achei.
|
|
ASSIM ACABOU O MUNDO
by: Nelson Maurício
Folgares/Huíla, 16/Out/2018 00:10
SOBRE O AUTOR
Coube - Lho tirar - te,
A bradar fiquei ao céu
Inconsolável, qual réu
Por comigo querer-te
*
Pois, partir sem adeus
Recitar aos entes teus
Machucou o coração.
É a triste sensação
Que não quero aos meus.
*
Turvou - se - me ao redor
O mundo, tudo e todos.
O riso em rio de lágrima
Rumando me sobejou
Pálidas mágoas seculares
*
E, então, à memória minha
Vivenciei Jó, questionando:
Como Deus pode a um anjo
Sem ter os mares velejado
Feliz, encurtar - lhe a sina?
*
Por ora, coube-me o vazio
No proceder de bom amigo
Um ombro me amplificar,
Muito embora quisesse o frio
Péssimo também me acalmar.
*
E, após essa tempestade
Que quase todo tudo levou
E só de ti em mim deixou
Um riso teu de felicidade,
Réplica ainda não achei.
|
|
ASSIM ACABOU O MUNDO
by: Nelson Maurício
Folgares/Huíla, 16/Out/2018 00:10
SOBRE O AUTOR
Nelson Maurício Francisco, pseudónimo de Nelson Maurício é
natural de Capelongo, município de Matala, província da Huíla. Nascido aos 22
de Março de 1992. Filho de Amílcar Francisco (Poeta e Artista Plástico) e de
Paulina Ngueve (Padeira). Desde cedo começou a enamorar - se pela arte por meio
de desenhos e versos de amor. É co-fundador da escola de dança
"Escola de Arte Show de Toques", na comuna de Capelongo; Publicou o caderno do poeta "CANTOS DA MINHA ALMA". Participou na Antologia poética "A GENTE QUE EU CONHEÇO
"; É poeta, Declamador, Coreógrafo, Artista Plástico e
coordenador do Movimento Lev'Arte/Subsector Capelongo.
[Oficina literária 46] IMPERFEITO – poema de Inocêncio Cambwe
Sou criatura, criador não
O desejo nunca foi criar dor
Nunca fui amor, mas amador
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...
O desejo nunca foi criar dor
Nunca fui amor, mas amador
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...
Perseguido por ser filho do
Pai
Condenado por ser um filho da mãe
Bom para uns, mau para outros
"Bon bon" para amigos
Jindungo para inimigos
Faço muita gente sorrir
Mas posso ferir
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...
Condenado por ser um filho da mãe
Bom para uns, mau para outros
"Bon bon" para amigos
Jindungo para inimigos
Faço muita gente sorrir
Mas posso ferir
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...
Tudo para todos...
Este sou eu
Creio que leste
Ora norte... Ora sul
Sou quente para frios
Frio para quentes
Trago café para branco
Branco que detesta leite
Leite para negro que detesta café
Este sou eu
Creio que leste
Ora norte... Ora sul
Sou quente para frios
Frio para quentes
Trago café para branco
Branco que detesta leite
Leite para negro que detesta café
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos perfeição.
e todas as coisas, menos perfeição.
SOBRE O AUTOR
Inocêncio Manuel Sapalo Cambwe nasceu aos 04 de Maio
de 1996. Natural da Santa Cruz-Lobito, província de Benguela e de nacionalidade
angolana. Responde pelo nome artístico de Inocente Sente. Técnico Médio formado em Educação
Primária (Magistério Primário). Jovem declamador e apreciador da arte. Não é especialista em literatura, porém amante da mesma. Gosta de escrever de tudo um pouco, principalmente poemas.
[Oficina literária 45] PORNO FONIA – poema de Pedro Kamorroto
que jazem toda nossa a (s) simetria
queria o dobro de 50 tons de cinza
e tu: porno fonia
como é possível degustares do erótico som e tom das palavras?
e renunciares toda nata de prazer do meu corpo esguio?
alimenta a minha libido com as mesmas mãos
que constróis cada sílaba, cada palavra ferida
recorre
a todos sortilégios que existem por aí
deixa-me sôfrega e ofegante
não há grandeza que meça a intens(a)idade e a extensiv(a)idade
do prazer do meu prazer
alimenta a minha libido mais uma vez
perco-me em ti tal como te perdes nestas palavras que dizes
dominar
palavras estas que são ilusões,
que são o tudo, que são o nada
que fingem não ouvir o gorjear da minha fatalidade
roubadas pela madrugada
Pedro Kamorroto ou talvez Pedrospectivo
SOBRE O AUTOR
Pedro Kamorroto ou Talvez Pedrospectivo é um dos alter-egos de Pedro Nascimento Francisco, eterno viajante, cidadão do mundo, de nacionalidade angolana. Nasceu no vigésimo segundo dia do décimo mês do ano civil 1988. É licenciado em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Lanzhou, China, teve também uma passagem curta pela ISCED de Luanda ex unidade orgânica da Universidade Agostinho Neto.
[Oficina literária 44] ACTA – crónica de Rodino Sapateiro
No
passado mês de Novembro, o escritor angolano Gociante Patissa abriu uma oficina
literária que visava ajudar a limar potenciais talentos no mundo da escrita.
Apesar de ter nascido em Benguela, província onde reside o escritor e mentor do
projecto, através do seu blog, a iniciativa foi abraçada e dela participaram
não só ‘‘mecânicos’’ da cidade de Ombaka, mas também de outras
províncias como Luanda e Huila.
A
oficina, a terceira organizada pelo escritor, permitiu limar potenciais
talentos revelados através de contos, crónica e poemas, sendo este último o
género mais explorado. A oficina, sendo uma
oportunidade de capacitação e lapidação de talentos,
foi marcada por uma ausência arrepiante de mulheres. Para atraí-las a
participar, o coordenador da oficina ofereceu até uma sessão fotográfica
gratuita, mas o silêncio tumular ainda assim bramiu alto. Outra ausência que
não passou-me despercebida e contrasta com a existência de movimentos
literários com expressão na nossa urbe, é a de muitos jovens que se identificam
e têm ligação com os referidos movimentos. Entre o medo e a disciplina
partidária que proíbe participações em actividades semelhantes fora do seu
âmbito, prefiro crer que tenha vencido a primeira hipótese.
Tenho
certeza quase absoluta que se Patissa tivesse convocado jovens para uma drena
básica, uma chupeta básica, uma farra básica e mais sei lá o quê, a adesão
seria quase insuportável por si. Uma revelação clara da consciência pobre e
infeliz que temos sobre cultura. Limitamo-nos ao básico. Tudo básico e baixo.
Invertemos tudo. Lá se foram os tempos em que aquilo que alimenta o espírito, a
imaginação, a inteligência era o fundamento da existência. Hoje é fundamental
aquilo alimenta só o corpo. Talvez por isso tenhamos corpos sarados a transpirarem
catinga como: «Tenhem, divede, etc». Já
não mete vergonha, chegar-se ao nono ano sem saber ler e escrever, sem saber
fazer uma redação, sem saber fazer uma interpretação. Já não entristece
terminar o ano civil sem ler um único livro. Lá se foi o tempo em que os
concursos de poesia e de cultura geral entre os jovens e adolescentes eram
realmente cheios de significado.
Agora
vocês percebem por que motivo o Patissa, na sua benevolência, tenta ajudar e
até oferece um bónus, mas tem uma adesão precisando de mais abraço!? Vocês
percebem por que motivo um escritor aqui na banda precisa quase de ir a uma
vigília religiosa ou mesmo ir banhar-se nos quimbandas para vender seus livros
e cantor de futilidades, alienador de mentes ou organizador de eventos de
vagabundagem terem sempre incontáveis discípulos atrás de si?
É
preciso resgatar a nossa consciência de conceber a cultura.
Sem
outro assunto de momento, encerra a oficina da qual se lavrou a presente acta-crónica
que destapou até certo ponto a nossa alergia com as letra e os talentos não tão
lentos e que será felizmente assinada por aqueles que dela participaram e
infelizmente não assinada pelos que dela não participaram.
Rodino Sapateiro
SOBRE O AUTOR
Rodino Satelo Ngumbe, natural do Lobito. Professor, licenciado pela UKB, faculdade de Ciências da Educação. Exercita-se, há já alguns anos, escrevendo sobretudo crónicas e poemas.