quarta-feira, 30 de abril de 2014
terça-feira, 29 de abril de 2014
Diário: olhando da vidraça
Sentado naquilo que se concebeu como esplanada
do Aeroporto da Catumbela, salta à vista algo que seria de se ver como um
desafio à racionalidade humana. Há sempre algum tipo a ser multado pelo agente de
trânsito a cada meia-hora, ou menos até, por exceder os três minutos
permitidos para se parar/estacionar no espaço de partidas/chegadas. É o que as
placas de sinalização se encarregam de informar. A multa, certamente, vai passar dos 2 mil
kwanzas por exemplo, contas redondas. É aí que reside o paradoxo, pois no
parque convencional, que muita gente resiste em levar em conta, o que se cobra
é apenas 200 kwanzas por hora. Neste momento, está alguém a assinar a multa e
o agente retém a carta. Eu, que por acaso também tenho o meu apurado génio
rebelde, estacionaria só já no parque. Cooperar, enfim...
NOVIDADES NA TABACARIA GRILO: livro NÃO TEM PERNAS O TEMPO, de Gociante Patissa, tem disponível o segundo lote. E o que é melhor, você adquire o livro ao preço da editora, mil kwanzas apenas
Depois de sucessivas notificações de pessoas
amigas e amigos de seus amigos, cuidamos de reforçar o stock na Tabacaria
Grilo, no rés-do-chão do edifício do Mercado de Benguela. Edição da União dos Escritores Angolanos, 2013. Obrigado!
segunda-feira, 28 de abril de 2014
Nota positiva à jornalista Sílvia Samara
À parte a agenda oficial, gostei, do ponto
vista estritamente técnico, do desempenho da jornalista Sílvia Samara, TPA, no
apontamento em directo a partir de Paris para o telejornal. É no rodapé que a
profissional deu o cunho pessoal, com um feliz improviso sobre a agenda do dia
seguinte, pincelada meteorológica e um comedido sorriso. Sim, senhorita Samara,
os meus mestres haviam de lhe dar uma positiva!
Para quem não sabe ou não se incomoda com a vivência profissional de outrem, vale dizer que fui um dos quatro redactores-repórteres-noticiaristas, seleccionados ao longo de três meses de estágio entre várias dezenas e que assegurariam a Rádio Ecclesia em Benguela, se se efectivasse o seu arranque em 2004, pupilos de Ze Manel e do padre Sammy de Jesus. GP
domingo, 27 de abril de 2014
Oratura: ONDUKO YOLONGONJO YAFETIKA NDATI? - Qual é a origem da toponímia Longonjo?
Há uma localidade chamada Longonjo, na província do
Huambo. Segundo uma fonte oral entrevistada recentemente pela Televisão Pública
de Angola, o nome vem de "olongonjo", que é o plural de
"ongonjo", utensílio que se resume em desbastar o tronco seco de uma
árvore até ter uma cavidade. O uso daquele instrumento está directamente
associado à era da escravatura ou a do trabalho forçado na Angola colonial,
uma vez que se caracterizava pelo seu transporte ao ombro, o que representava
um peso enorme (o do instrumento e o do material para obras de construção,
podendo ser sólido ou líquido). Há inclusivamente uma canção de revolta na
língua Umbundu, a qual destaca: "kombya, kongonjo, konungi yovava;
ndicambata ndati? (Dão-me a panela, o ongonjo e o reservatório de água; como
querem que leve tudo isso de uma vez?) Hoje, o "ongonjo" é usado para
outros fins, geralmente feito bandeja para a comida de animais domésticos
(porcos e outros) em criações de baixa renda. Resumindo, devia haver um tipo de
obra que deu a impressão de uso excessivo de "olongonjo", pelo que a
região ficou conhecida como "pimbo lyolongonjo" (aldeia dos
"olongonjo"). A fotografia foi captada em 2010 na fazenda de uma
pessoa amiga no município do Caimbambo, província de Benguela.
Gociante Patissa, Benguela, 27 Abril 2013
Fragmento
— Meus camaradas, com muito
respeito e sinceridade, facultem-me só a documentação!
— Como assim, chefe?! A paz
trouxe a livre circulação de pessoas e bens…
— Os senhores sabem que não se
pode transportar assim um cadáver, como saco de carvão. Há toda uma burocracia
e procedimentos médicos e funerários…
— Sim, mas como vamos só aqui
perto já, chefe… No Kicombo mesmo…
— Ainda mais! Kicombo é
Kwanza-Sul, outra província. Vocês estão detidos! Tentativa de furto de cadáver
não tratado! Até provas em contrário. Eu escolto até na Investigação Criminal
da província. — dito isto, a viatura fez inversão de marcha para Benguela, à
mesma velocidade de trinta e cinco quilómetros horários que o troço aconselhava.
— Chefe, nós até entendemos a
lei. Mas podemos conversar como irmãos. Até porque Kicombo é já aqui perto,
mais longe fica Benguela. — insistiu um deles.
— O vosso caso é grave. Imaginem
o que diriam os colegas da outra província…
— Chefe, tudo se conversa, não
precisa ser assim tão tóxico…
(Gociante
Patissa, in «Não tem pernas o tempo», pág. 96-97. União Dos Escritores
Angolanos, 2013. Luanda)
Excerto
«Certa vez, e já na defensiva ante o jogral de
mendigos à porta da pastelaria, só depois de dizer “não tenho nada!”, notou que
ainda nada lhe haviam pedido. Às vezes, a gente foge a miséria, não sabe
porquê, mas evita cruzar com ela pelas avenidas. E ela caminha e se perpetua,
como a própria indiferença.» (Gociante Patissa, in «Não tem pernas o tempo»,
pág. 51. União Dos Escritores
Angolanos, 2013. Luanda)
sábado, 26 de abril de 2014
Conto: OCIPAKUPAKU [otsi-páku-páku] - A INSÓNIA
Vivências, não há como fazer delas uma espécie
de tábua-rasa. E quando o tempo é anterior a 1992, é grande a presença dos
efeitos da guerra civil no meio rural do território de Benguela, sublinhando-se ali e acolá pequenos diálogos hilariantes.
Indo ao ponto, na comuna do Monte Belo, do município do Bocoio, que dista aproximadamente 100 quilómetros a leste do Lobito, muitos dos adultos passavam a ideia de que tinham insónia, ou no mínimo exibiam pela manhã um aspecto de terem tido poucas horas de sono. Para quê? Para cada um mostrar-se em prontidão permanente, já que os ataques de guerrilha se davam na calada da noite, geralmente fazendo-se coincidir com datas festivas, circunstâncias típicas de os armazéns, como os próprios lares, estarem recheados de comida e agasalho.
A par do rico cultivo de abacaxi, a comuna tem a vantagem de estar plantada ao longo da estrada que liga o litoral ao centro-sul do país, sendo o Huambo o mais directo vizinho. Isso fazia do local (sob tutela da administração do Estado) boa fonte de logística para quem procurasse alimentar, por via da força, o seu exército (Unita, tida na época como movimento armado).
Havia então uma senhora (a qual trataremos por kumasini A- corruptela de comadre) que, ao ser cumprimentada ("walale?"), respondia invariavelmente: "Sa lale, ndalale locipakupaku" (não dormi bem, dormi com insónia).
Assim, uma sua comadre (chamemo-la de kumasini B) não conseguia sossegar, preocupada com o risco à saúde da outra, pelos alegados vários dias sem dormir. Numa bela oportunidade, não planificada, passaram a noite uma ao lado da outra. Foi então que a kumasini B encheu o peito de alegria, pois a outra atravessara a noite em doce sono de recém-nascido, roncando a noite inteira como motor com manutenção em dia. E pela manhã...
"A kumasini, walale?" (Dormiste bem, comadre)
"Sa lale, a kumasini, ocipakupaku
cindilonga" (não dormi nada bem, comadre, a insónia dá cabo de mim) --
respondeu, com o habitual semblante de desgaste.
"A kumasini, ove pwãi uhembi. Ove mwenle,
walale lokwõlã, okalinga eti kwa lale?" (Ó comadre, és afinal uma mentirosa. Então tu,
que passaste a noite a ressonar, dizes que não conseguiste dormir?)
Sem esperar que a dona da insónia se justificasse, foi a kumasini B cuidar de outros afazeres. Eu cá julgo compreender a kumasini A, posto que "Vigilância!" era a palavra de ordem. Ora, se os homens tinham de assegurar a defesa, era normal as mulheres contribuírem com a produção agrícola... e um pouco de insónia. Ou não?
Gociante Patissa, Benguela, 26 Abril 2014
sexta-feira, 25 de abril de 2014
RECORDANDO: Rio Jordão, Fev 2013, fronteira entre Israel e Jordânia, lugar (hoje turístico) onde, de acordo com a história cristã, Jesus Cristo recebeu de João Baptista o baptismo. Esses tropas puseram-se em sentido logo que viram a minha postura de general na reserva. Não era necessária tanta deferência mas, pronto, há puxa-saco (lambe-botas) em todo o lado. Bastava dizer "à direita volver!", eles obedeciam… hahaha
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Diário nada célebre
Em 1988/9, a frequentar quarta classe, passamos
boa parte do nosso tempo a assistir aos treinos da equipa de futebol da
Académica do Lobito. Isso permitia ter uma ideia precisa do valor das estrelas.
Havia um atleta (cujo nome não cito, por respeito à sua alma) que representava
a chama da festa, tal era o faro de golos. E no final de cada jogo, nós, sem
dinheiro para sentar na bancada, descíamos o morro
aos montes para dentro do campo, eufóricos para lhe abraçar e fazer do seu nome
uma espécie de hino. E não faltavam casos de adolescentes que voltavam para a
casa com dores das cotoveladas do atleta. Aplicado o paradigma em
diversificados contextos, dá para assinalar que hoje, como ontem, cá, como lá,
as celebridades costumam ser, no seu mais clássico reflexo, indivíduos que nós,
o povo, escolhemos em função de suas habilidades, publicitamos ao ponto de
fazerem parte dos nossos orgulhos colectivos e pessoais, o que dá lugar ao direito
de nos tratarem com desprezo e agressões morais diversas. Tal paradigma não
seria, todavia, certo se não houvesse excepções. Bom dia.
Gociante Patissa, Benguela, 24.04.2014quarta-feira, 23 de abril de 2014
O Facebook (sabe-se lá ao serviço de quem) insiste na absurda pergunta, "Quais são os teus atletas favoritos?" Eu cá julgo que tais "recenseadores" de gabinete não estão preparados para ouvir "out of box", pois a minha atleta preferida continua ainda sendo a zungueira... que por acaso não consta nos palpites baseados em holofotes industriais.
Zungueira, ocupação “feminizada” cujo conceito
remete a uma imagem vívida. O termo é de "fabricação" angolana, vem
do kimbundu "kuzunga" (andar depressa), assim rezam os mais
consentâneos relatos.
Crónica: QUANTA DISTÂNCIA NOS SEPARA DO QUE NOS FALTA?
O
bar perdeu parte de sua graça sem a Edna, a atendedora mais experiente. Cansou-se.
Há lá empregadas novas. Alguns clientes vivem a falta de rapidez e domínio dos seus
hábitos de consumo. Só mesmo um livro para atenuar a impaciência, ou então ter Internet
no telemóvel. Pois é, o móvel anda cada vez mais armado em que «pode tudo».
E
por falar no super poder do telemóvel, fomos abordados – mais a mim do que ao colega
de serviço com quem fui almoçar – por uma moça que queria ajuda para emprego. Não
que lhe faltasse trabalho, mas essencialmente porque, em suas próprias
palavras, não aguenta mais. Dentre os vários factores para a ruptura,
destacou-se o facto de não ser permitido falar ao telefone durante as oito horas
de serviço, de segunda à sexta-feira. Você já imaginou?, indagava, incrédula da
sua própria sorte, a rapariga.
Por
acaso, não me posso queixar. O meu emprego, longe do gosto e vocação, não proíbe
o uso de telemóveis, exceptuando a tácita deontologia nas horas de pico. E de
facto, o telemóvel dá para o tudo inenarrável em termos criativos e de
comunicação. Só não deixei de sentir um choque – ingénuo, reconheço – ao confirmar
como, à velocidade do banal, o telefone do bolso evoluiu para instrumento de
escuta. Se antes receávamos que alguém, algures nas telecomunicações, ou contra-inteligência,
monitorava a nossa privacidade, hoje basta um simples software compatível ao sistema andróide para gravar telefonemas. Enfim…
Se Benguela é a segunda capital (de facto) angolana, e como tal tão exposta à «era
digital», o típico citadino com um aguçado «bicho» de se exprimir não escapa à
tendência de alistar a comunicação nas altas rubricas do seu orçamento.
E
nessa coisa de ir dando entrevistas a este ou àquele órgão de imprensa, onde o pretexto
é o livro ou qualquer coisa entre o exercício da cidadania e a arte, cruzamos
com perguntas passíveis de dar ignição a introspecções com algo de autobiográfico.
Já
falei mais. Em pequeno, na adolescência, diria que falava «muito». Hoje, já me calo mais. Consigo passar dois dias sem falar com ninguém, se entender que preciso
disso. Revelei isso mesmo em plena mesa-redonda numa rádio cá de Benguela. Mas ao
ouvir a gravação – tenho sempre a preocupação de gravar as bocas que mando,
como se diz na gíria jornalística, vai-se lá saber se pela tal «cultura do medo»
ou por involuntária vaidade de ouvir a própria voz –, repreendi-me a mim mesmo:
ouve lá, isso não é bem verdade. Conseguiria por acaso um vivente do século 21
isolar-se em realista redoma?
Sendo
editor de dois blogues (um sobre tradição oral Umbundu e outro generalista), dono
de conta no Facebook por manter «higiénica», e com tanto que exige a produção enquanto
escritor… não se pode bem dizer que consiga passar dias sem falar. Sou afinal o
mesmo activo falador, mas por outras vias. Tenho um bom computador portátil, um
telefone top de gama, que permite estar nas redes sociais, enviar e receber
e-mails, bastando para o efeito um pouco de saldo ou acesso à Internet sem
fios. Há que celebrar: estamos irremediavelmente no século da comunicação! O que
mais falta?
Ora,
na procura do que falta, mais não somos do que uma conta no Google, Hotmail, Yahoo,
Tweeter, facebook, um ponto no GPS, enfim, seres catalogados por satélite.
Gociante
Patissa, Benguela, 24 Abril 2014 (Foto de autor desconhecido)
terça-feira, 22 de abril de 2014
"OCINIMBU WATETA KONYOHÃ OCO COVE" (adágio Umbundu)
"ocinimbu wateta konyohã oco cove" (adágio Umbundu) - o pedaço que cortares da cobra é que é teu. Enquadramento: sendo a cobra o bicho perigoso que é, devemos dar-nos por satisfeitos, por muito pequeno que seja o pedaço que lhe conseguirmos arrancar. Em rara oportunidade, o pouco serve.
A PROPÓSITO DO CURSO DE FOTOGRAFIA QUE TERMINOU
HOJE, MAIS CEDO DO QUE PREVISTO... como se diz em inglês, "too good, to
last" (bom demais, para durar). Ainda assim, prefiro o Umbundu da questão.
Divagações: SOBRE O ADVÉRBIO DE LUGAR NO PORTUGUÊS “DE CÁ”
Cruzei há
dias, no mundo digital, com uma questão aparentemente simples, se vista nos
termos normativos da língua portuguesa: qual é a diferença entre “Onde” e
“Aonde”?
Conjecturando que a intenção era corrigir e apontar caminho, resolver-se-ia reafirmando que “onde” é usado para indicar lugar estático, ao passo que“aonde” enuncia movimento em relação a um local (para onde). Logo, dir-se-ia, pela bitola simplista muito mediatizada entre nós, que os angolanos usam errada e frequentemente o “aonde”. Mas porquê? Sendo infinito o inventário de causas, partilho a tese de que, em contexto bilingue, os erros, muito mais do que as coincidências tidas como correctas, nos podem abrir as portas à compreensão da coabitação do português com as outras línguas nacionais de matriz africana, na lógica de que os idiomas veiculam culturas.
É certo que a confusão entre “onde” e “aonde” não tem propriamente uma nacionalidade, o que não nos impede de analisar pequenos contextos e circunstâncias. Quanto à construção frásica, na minha língua materna, Umbundu, no mais das vezes, o complemento circunstancial de lugar fica no fim. “Ove okasi pi?” (estás onde?) Ora, temos aqui um som pouco musical, talvez por isso mesmo tenha sido "ajeitado" pela linguagem popular como em “Wenda pi?” (vais aonde?). Julgo morar aqui a origem do uso indiferenciado do “onde” e “aonde” na linguagem informal. Como hipótese, podíamos dizer que se trata de uma interferência que se passa de geração em geração.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
Crónica: COMO SE JÁ TIVESSE LIDO GARCIA MARQUEZ
“Cada alma é um caminho ao serviço do universo. E
quando conhecemos outras localidades, pelos próprios pés ou pelos livros,
passamos a ser estradas com mais de um sentido. Nunca mais somos os mesmos a cada ciclo de viagem que se completa. Viajar é, por isso
mesmo, elevar-se à altura do tempo” (escrevi eu mesmo no livro Não Tem Pernas o
Tempo, pág. 32, UEA - União dos Escritores Angolanos, 2013).
O fenómeno linguístico representa um manancial de surpresas, onde as margens entre culturas são cada vez mais e somente imaginárias. Por coincidência, sobre isso mesmo escrevi hoje, em resposta ao questionário de um importante jornal a respeito da morte do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez (1927-2014), nas linhas que se seguem.
Sabe que a grandeza de um escritor é sempre algo de relativo, tendo em conta o poder do lobby editoras-imprensa-academia e a tendência das elites em impor modelos. Ou seguimos a onda dos "cânones", ou nos arriscamos ao politicamente incorrecto, ainda mais em alturas melindrosas como o pós-morte. Felizmente, há algo de tangível a apontar na primeira pessoa.
Num dos convívios na UEA, certo confrade (julgo ter sido João Tala) que tinha lido o meu livro de contos, A Última Ouvinte (UEA, 2010), disse-me em saudável tom de mais-velho ter achado alguma influência latina naquela obra minha. Daí ter questionado quais os autores latino-americanos que eu tinha lido ou em cuja obra me revisse.
Não sei descrever a minha emoção no momento, mas adianto que positiva não foi, pois eu me identifico como recolector de tradição oral africana, um Bantu com vivência rural na infância, portanto mais inclinado para um José Samwila Kakweji, Roderick Nehone, Uanhênga Xitu, Manuel Rui Monteiro, José Luandino Vieira (que muito li já com fim de pesquisas para o apuramento estético do manuscrito antes de o submeter ao confrade Adriano Botelho de Vasconcelos, meu editor).
De Portugal, tinha gostado de crónicas de Lobo Antunes. Mais conversa, menos conversa, repeti-lhe a convicção de ser um ecléctico, que lê tudo de todos, não tendo como tal ídolos. Veio dali a sugestão de ler Memória de Minhas Putas Tristes, o qual consumi com imenso agrado na versão electrónica PDF. A isso, seguiu-se a leitura de umas tantas recensões e resumos.
Confesso que, como linguista e poliglota, é sempre com apreensão que leio obras traduzidas, já que "alguma poesia é perdida na tradução". Acabou sendo uma experiência memorável, "conviver" com o velho em conflito entre o "apetite sexual" e a moral, pois a rapariga tinha idade para ser sua neta, pelo que vai adiando a oportunidade do tal envolvimento até que, por fim, tenta... mas ela deixara de ser virgem neste intervalo. Gabriel Garcia Marquez, pelo menos neste único livro que li dele, consegue usar a trilogia do jornalismo: claro, correcto e conciso. É das coisas que mais aprecio, a capacidade de ser profundo sem se exceder no floreado ou em quilométricos fios narrativos. Gostei da trama, frontalidade, sentido de observação, da estética.
Lido o livro de Gabo, e quando rebusco a interpretação do confrade que julgava
haver nos meus textos (de auto-didacta) uma influência latina, prevalece um...
Ainda bem!
Gociante Patissa, Benguela, 20 Abril 2014 (Foto de autor desconhecido)
Convite
O poemário "Rua da Insónia", do escritor João Tala, será lançado na sede
da UEA (União dos Escritores Angolanos), Largo das Escolas, Luanda, no dia 25/04/14, às 17:30 h
sábado, 19 de abril de 2014
Neusa Sessa vence "Benguela Gentes & Músicas" 2014
Neusa Sessa, 18 anos, conquistou ontem (18/04) o primeiro lugar da
terceira edição do concurso "Benguela Gentes & Músicas", ao
interpretar o tema “Ngetchenu”, afrojazz da autoria de Gabriel Tchiema e
cantado na língua Cokwe. O concurso é uma iniciativa anual da Rádio Nacional de
Angola nesta província, levando ao palco dez novos talentos e temas inéditos,
podendo ser de sua autoria ou cedidos, com suporte musical da Banda FM. O
espectáculo, que durou aproximadamente três horas, trouxe a Benguela consagradas
vozes da capital do país, designadamente Ézio, autor do retrato social “Dadão”,
Kyaku Kyadaff, promissora voz da trova, embora tenha interpretado semba e
quizomba apenas, ficando o ponto mais alto a cargo de Yuri da Cunha, que fez
jus ao título de showman, desfilando entre sucessos seus e rapsódia. Da Guiné
Bissau, veio Roger, autor de “calor pessoal”, para a nostalgia de amantes da
música do criolo português em África, consumida na transição entre os séculos
20 e 21. No mês do seu aniversário, Neusa Sessa, natural de Benguela e
estudante do Instituto Médio Industrial, passa a ter motivos de sobra para uma
dupla comemoração.
Gociante Patissa
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Diário
Entre a negação categórica e a afirmação
dedutiva, vai-se o tempo, indagam-se certezas. É como se nunca houvesse outros
cruzamentos
"Osanji yomeke yipayela evi vilya" (adágio Umbundu)
"Osanji yomeke yipayela evi vilya"
(adágio Umbundu) - Galinha cega debica para as que vêm.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
MAIS UMA FOTO NOSSA EM JORNAL. Na pág. 30 do Jornal Nova Gazeta, 10 Abril 2014, matéria sobre músicos na e fora da ribalta, a foto de Caboo Snoop é a que lhe tirei no Brasil, durante a nossa participação na 6ª Bienal de Jovens Criadores da CPLP em Dezembro 2013. Publiquei-a no meu blogue Angodebates e mural Facebook. Para não dar a ideia de constante auto-vitimização, decidi parar de partilhar fotos. Custa-me, mas é o melhor para todas as partes
quarta-feira, 16 de abril de 2014
"A DOR PROFUNDA DO MEU CORAÇÃO", alguém se lembra deste texto do manual "Textos africanos" (5ª e 6ª classes, até 1993)?
A história destacava o personagem Simão,
operário, que queria, ainda no primeiro dia de aulas, aprender já a ler e
escrever, tal era a motivação intrínseca. É como me senti, hoje, na primeira
aula do cursinho básico de fotografia hahahaha
terça-feira, 15 de abril de 2014
Gostei de ver no Jornal de Angola notícia sobre Tony Do Fumo Júnior, ilustrada por uma foto que lhe tirei no Brasil, durante a nossa participação na 6ª Bienal de Jovens Criadores da CPLP em Dezembro 2013
Manuel Albano|, 15 de Abril, 2014
“Mona mbiji”, título do primeiro disco de Tony do Fumo Filho,
que é posto à venda em Junho, tem quatro temas inéditos de sua autoria e nove
versões de canções do pai, já falecido.
Os temas do disco, boleros, rumas e sembas, uma homenagem ao
progenitor, cujo título em português significa “Filho de Peixe”, são
interpretados em quimbundo e português.
O disco, gravado nos Estúdios da B-Max e na Rádio Vial, tem produção musical de Dulce Trindade e de elementos dos Kiezos, Jovens do Prenda e Banda Maravilha. Os arranjos são de Joãozinho Morgado, Chico Santos, Inácio do Fumo, Didi da Mãe Preta, Brando, Miqueias, Boto Trindade, Zé Mueleputo, Juca Vicente, Neto, Tony Samba, Prisilha, Fausto Fonseca, Abana Maior, Raúl Tulinga, Rufino, Paulino, Hélio Cruz, bem como, Isaú, Moreira Filho e Marito.
“Gingololo”, com a participação de Dom Caetano, “Kikola”, “Kazolas do Prenda” e “Eu Não Fiz Nada”, em dueto com Didi Murras, são as canções promocionais, também apresentadas em videoclipes.
Tony do Fumo Filho, de seu nome verdadeiro António Pedro Manuel,
nasceu em 7 de Setembro de 1984, em Luanda. Começou a carreira em 1995, na
Rádio Nacional de Angola, no programa Piô Piô. Desde muito que interpreta temas
do pai.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Gostei de ler (no Jornal Cultura de 14-27 Abril 2014, pág. 14, edição 54) a fina ironia com que termina um artigo inicialmente ensaísta, da autoria de Alberto Sebastião, que rebate a perspectiva normativa (mais uma voz contra a aludida intransigência) presente no livro Ensaboado & Enxaguado, de Carlos Almeida
«E saber que todos os angolanos
que querem falar e escrever correctamente a nossa língua estão obrigados a
seguir o que o autor do Ensaboado
& Enxaguado – Língua Portuguesa e Etiqueta decide! Sabem como me sinto? Eu me sinto como aquele recruta que,
disciplinado, segue rigorosamente o seu comandante em direcção a um abismo, para
suicidar-se…»
domingo, 13 de abril de 2014
sábado, 12 de abril de 2014
um mesmo guião
A estrada é o próprio paradeiro. Partir, como
chegar, é detalhe. Talvez tenha faltado um megafone. Tu vives a intensidade
silente dos afectos, a esquina narra multiplicadas fantasias de calendário por
cumprir, como se fosse cada alma peça de um mesmo guião.
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Diário de um turista incompreendido
Miradouro da Lua |
“Vocês
têm quarto?”
“Sim,
temos.”
“O
mais barato que tiverem.”
“Quatro
mil.”
“Pode
ser este mesmo."
“Para
quantas horas?”
“Para
sair amanhã.”
“Ah,
não é esse preço.”
“Então
quanto é?”
“Pensei
que é só para horas.”
“Não,
vou sair amanhã, como disse.”
“São
14 mil kwanzas, incluindo o pequeno-almoço."
“Pronto,
seja como for.”
“Pode
pôr o carro na esplanada, é onde estão os quartos.”
“Vou
pagar para ir de uma vez.”
“Ah,
o senhor está acompanhado e não quer que a gente veja a dama, né?”
“Não,
por acaso não estou.”
“E
vem mesmo dormir sozinho no Hotel?”
“Sim.”
“Está
a trabalhar?”
“Não,
sou turista. Vou dormir e penso seguir amanhã para o Bengo e depois Uíge.”
“Fulana,
ouve essa. O senhor está a mentir. Quem vai dormir num hotel, hoje mesmo, DIA
14, dos namorados, sozinho?”
“Estou
a dizer.”
“Mas
vai fazer o quê no Uíge, terra dos meus pais?”
“Vou
conhecer. Minha missão é visitar lugares, fotografar e divulgar.”
“Então,
é trabalho, não?”
“Quer
dizer, eu tenho um emprego onde recebo salário, mas gosto e posso fazer outras
coisas, sem ser por dinheiro”.
“Então,
é um trabalho espiritual, tipo da igreja, né?”
“Pronto,
agora posso ver o quarto?”
“Sim, mas aqui é raro. Esses quartos todos mesmo, é gente que vem curtir. Há clientes que nem vêm no refeitório, escondem, deve ser mulher alheia. O senhor é o primeiro que ocupa quarto, sozinho, não vem curtir nem trabalhar, é só mesmo tirar fotografias.”
“Sim, mas aqui é raro. Esses quartos todos mesmo, é gente que vem curtir. Há clientes que nem vêm no refeitório, escondem, deve ser mulher alheia. O senhor é o primeiro que ocupa quarto, sozinho, não vem curtir nem trabalhar, é só mesmo tirar fotografias.”
Com USD 600 em mãos, tive que escolher entre comprar o iphone, a máquina fotográfica semi-profissional ou o computador portátil
Fiquei pelo computador, claro!, tendo em conta a missão de criar de textos, e contentei-me em afagar máquinas fotográficas alheias hahahaha
(nacionalidades na foto a contar da esq: Angola, Zimbabwe, Cambodja, Cipre,
Vietname e, mais ao fundo, América. EUA, Janeiro 2010)
Visitei a sede dessa mega instituição de pesquisas em Washington Dc, em 2010...
longe de imaginar que,
quatro anos depois, viria a ser contratado pontualmente como revisor (Port/Ing)
de um instrumento de pesquisa levada a cabo em Moçambique. A vida dá voltas
hahah
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Arquivo: Ilidio Pinto, jornalista emprestado à agronomia
(Benguela, Maio de 2008, aquando do lançamento do meu livro
de estreia, Consulado do Vazio, cerimónia especialmente amparada pelo programa
Aiué, Sábado, no quintal da Rádio Morena Comercial, gentileza do director José Lopes Júnior
Junior e sua
equipa)
quarta-feira, 9 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
Chegou-me um e-mail que seria bom demais se não tivesse as condições todas de fraude informática. é verdade que já concorri para vagas na chevron, mas não estou a ver tal multinacional a usar hotmail
«ATENÇÃO: Desejamos informá-lo de que suas
qualificações e experiência que você enviou em um site de procura de emprego
foram considerados adequados para os requisitos da Chevron. Para verificação e
triagem que são obrigados a enviar o seu currículo mais recente através do
nosso e-mail: chevronusa@hotmail.com . Está prevista para
especificar seu salário atual e esperada.»
Na orla do teu corpo
Há algo invisível
Que me atrai ao caminho da tua encosta.
Qual Posídon em secreta paixão
Embalo-me nas brumas da tua canção como um chamamento!
Costuro um acontecer que não existe!
Num instante cheio de instantes
Escalo a montanha
Desço contigo
Abro a porta da minha boca
Vogar na tua orla,
Já não é mais mistério!
Entre Kuvale (Cubal) e Kaibambu (Caimbambo)
Canon PowerShot A470- f/9; 1/250; ISO 80, 25/02/2009
Passei mal neste troço em 2006, enquanto 2ª pessoa na Handicap International, projecto de Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC), quando ainda não havia asfalto. O motorista era dado a velocidades, ainda por cima em "chefe máquina" de bancos corridos e as náuseas que se imaginam. Hoje, com asfalto, até é terapêutico o mesmo pedaço de chão ao volante.