As filas do banco são um acontecimento em si. Adoro-as ao
menos pela sua sinceridade. No final ou princípio de cada mês, é a altura mais
aconselhável para as observações, ainda que venham logo de imediato a ser
engolidas pelo silêncio do politicamente correcto. Algumas agências instalaram
dispositivos, mesmo já como forma de minimizar os efeitos da subjectividade
humana. Até porque, trazendo para a conversa a lógica de ordenamento do trânsito,
o semáforo é sempre preferível ao critério do agente de apito à boca. O que gosto de ver nos
bancos é como a tecnologia assume o papel de presépio, porquanto as enchentes
enchem de graça a casa. Só assim se explica que haja apenas um caixa, quando tantas
senhas sofrem de húmidas na mão que aguarda atendimento. Enquanto isso, como
que em ultrapassagem à direita, vêm uns e vão outros. Entram com cara de susto,
não se dão à maçada de premir o botão que imprime a senha da ordem de chegada e
saem pouco depois. Os critérios? Uma barba branca, por vezes, uma gestação
(aqui nada discutível), ou na maior parte dos casos um sorriso eloquente, um
sobrenome elegante ou a pele mais clara. E todo o resto se cala com receio de
ser rotulado... porque somos uma nação que reprova o preconceito, exceptuando
circunstâncias particulares em que ele, o preconceito, revestido de silêncios,
nos beneficia e faz regra.
Gociante Patissa, Benguela, 7 Abril 2014
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