— Meus camaradas, com muito
respeito e sinceridade, facultem-me só a documentação!
— Como assim, chefe?! A paz
trouxe a livre circulação de pessoas e bens…
— Os senhores sabem que não se
pode transportar assim um cadáver, como saco de carvão. Há toda uma burocracia
e procedimentos médicos e funerários…
— Sim, mas como vamos só aqui
perto já, chefe… No Kicombo mesmo…
— Ainda mais! Kicombo é
Kwanza-Sul, outra província. Vocês estão detidos! Tentativa de furto de cadáver
não tratado! Até provas em contrário. Eu escolto até na Investigação Criminal
da província. — dito isto, a viatura fez inversão de marcha para Benguela, à
mesma velocidade de trinta e cinco quilómetros horários que o troço aconselhava.
— Chefe, nós até entendemos a
lei. Mas podemos conversar como irmãos. Até porque Kicombo é já aqui perto,
mais longe fica Benguela. — insistiu um deles.
— O vosso caso é grave. Imaginem
o que diriam os colegas da outra província…
— Chefe, tudo se conversa, não
precisa ser assim tão tóxico…
(Gociante
Patissa, in «Não tem pernas o tempo», pág. 96-97. União Dos Escritores
Angolanos, 2013. Luanda)
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