Em 2008, um oficial da Polícia de Viação e Trânsito disse durante, um debate por mim moderado, que "quatro em cada 10 acidentes
envolvem um kupapata (taxi motorizada)
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Acompanho
e apoio o compromisso das autoridades no combate à sinistralidade rodoviária. Já
quanto às estratégias para se lá chegar, sinto-me no direito de questionar a
pertinência destas quando a consciência assim o manda.
Resido
na cidade de Benguela, que é das que registam em maior escala o serviço de
mototáxi, vulgarmente conhecido como “kupapata” (motorizadas de marca Delop, 50 cmᵌ). E como observador, acrescento que a estrada que leva ao meu bairro é das
que mais acidentes registam, acabando em perda de vidas humanas, quase que
mensalmente. Refiro-me ao perímetro que vai do CRM ao aeroporto 17 de Setembro.
Relançada
a campanha “Use o Capacete”, vimos acompanhando pela imprensa pronunciamentos
de oficiais da Polícia Nacional alertando para breve o reforço de medidas
coercivas. É bom lembrar que a mais recente polémica sobre a obrigatoriedade do
uso do capacete, não apenas pelo condutor, mas também pelo cliente, data de
2008. A caminho de cinco anos, a questão que se impõe é: que há de
diferente na aplicação de tal medida desta vez e que faltou em ocasiões
anteriores?
Como
automobilista, digo que não é a falta de capacete o problema principal. Longe de
minimizar a importância daquele equipamento de protecção individual, realcemos,
todavia, que há uma sequência de erros e lacunas que levam ao acidente. O que
pretendemos proteger com o capacete é a vida, é certo, mas até chegarmos a esse
ponto, já uma cadeia de conhecimentos, conduta e questões de comunicação foi
quebrada.
Os
“nossos” kupapatas, via de regra, desconhecem a noção de eixo da via. Sobre a
rotunda, ocupam a faixa de dentro, quando desejam seguir adiante, logo a seguir
mudam de faixa, sem considerar os sinais luminosos; andam cada vez mais fora de
mão, por vezes desrespeitando o semáforo; retiram os retrovisores de suas
morotizadas, o que os coloca em risco, pois calculam mal nas ultrapassagens o
espaço entre veículos em movimento; não priorizam os travões, mesmo dentro das
localidades, protegidos que se julgam pelo abuso das buzinas. Resumindo, os “nossos”
kupapatas dão poucas garantias de dominarem noções elementares do código de
estrada. Comprada a motorizada, basta-lhes saber que o polícia é azul e que a
estrada é preta, creio.
Compreendo
a necessidade que a Polícia Nacional e o governo de modo mais alargado sentem
no sentido de controlar a situação. Mas penso que outras abordagens devem
caminhar ao lado destas medidas coercivas, sob pena de continuarem sem efeito.
Como
é feita a atribuição de licenças de condução? O que faz a Amotrang (que podia promover
sessões de capacitação dos seus membros, enquanto interlocutora perante o
governo)? Como será feita essa apreensão, tendo em conta a propensão que o
kupapata tem de esquivar o polícia de trânsito? E para os outros, filhos de
gente endinheirada, que vivem de “rachas”, “chutos” e “colagens”, haverá brigada
especial?
Julgo
que a sinistralidade rodoviária é reflexo da fraca moralidade social que assola
o país, onde o desconhecimento e negligência andam abraçados. Há que reforçar,
não só a prevenção e a punição, mas também o aprimoramento dos mecanismos de capacitação.
Gociante
Patissa, Benguela, 28.11.12
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A educação no trânsito, tanto dos condutores de veículos quanto dos pedestres (destes, as crianças merecem a maior atenção) é fundamental para reverter os índices de acidentes. É claro que o capacete é importante, mas, antes de tudo, é preciso formar condutores que respeitem as leis de trânsito. Sua preocupação é pertinente. Aqui, no Brasil, já temos uma legislação razoável e bons centros de formação de condutores, todavia ainda temos um alto índice de infrações e de mortes no trânsito.
Grato pelo contributo, caro Luiz Filho de Oliveira. Volte sempre e receba um abraço angolano
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