"Tinha a mania de pensar que a poesia nasceu no seu quintal. E por assim ser, tinha todos os dias alguns minutos a dedicar ao mais florido cantinho do quintal. Cruzava as pernas com um livro na mão. Não era um canto qualquer, tratava-se de um com vista privilegiada. Pela janela, via-se do lado de dentro uma estante. O orvalho a escorrer pela vidraça, dava a impressão que os livros andavam muito bem conservados num frigobar. É nessa altura em que lhe vinha à cabeça a alegria de camponês que completa o ciclo com um escoamento eficaz. Nesse instante dava um gole, entornava um pouco para regar o chão, e acreditava que na manhã seguinte estaria a nova poesia a germinar. Talvez no chão, talvez num qualquer pregão. Apenas algo menos bom: era como se fosse inorgânica a poesia que do seu canteiro não nascesse". (Gociante Patissa, crónica em construção 15.11.12. Benguela).
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