Passei ontem uns dez minutos numa das farmácias que ficam na rua do hospital central de Benguela. Eram 22 horas mais ou menos. Procurava gotas para o ouvido por causa de umas “dores de avião” que de tempo em tempo me chateiam. Estava uma senhora a ser atendida antes de mim. Alta e forte, acima dos 30 natais comemorados. Pediu alguns medicamentos e no final disse abertamente: “preservativos!”. O farmacêutico trouxe um pacotinho de “Legal”. E ela, de testa franzida, indagou se não havia “Suave”. Não. Foi a resposta do atendedor. E a contragosto, lá estava a senhora a mexer na carteira para pagar. Entra de imediato um jovem, que cumprimenta e pede alguns antibióticos. Ainda tentei lançar um olhar de “exercício da cidadania”, mas notei que o rapaz, de cuecas acima dos calções, não estava minimamente preocupado com a noção de atendimento por ordem de chegada. E pede também preservativos. E também reclama por só haver “Legal”. Não aceita mesmo a marca e abandona a farmácia. Obrigado pela cedência de prioridade, digo eu, de mim para mim. Foi então que pedi as gotas para o ouvido. E antes mesmo de deixar a farmácia, um outro jovem surgiu atrás de preservativos. Enquanto eu tentava especular que influência teria no acto sexual uma marca de camisinha, não evitei um sorriso de satisfação. Para alguma coisa estão a valer as sinergias na luta contra a SIDA. Quem, como eu, alguma vez participou em campanhas de mobilização interpessoal pelos “três barcos de salvação (abstinência, fidelidade e uso da camisinha)" recorda bem a resistência dos cidadãos abordados. E olhe que as camisinhas eram gratuitamente distribuídas. Se hoje, em 10 minutos numa farmácia, temos a oportunidade de observar três almas que querem comprar camisinha, chegando mesmo a ter preferências por uma marca, estamos num caminho encorajador. Sempre defendi que “A Cidadania é Resultado de um Exercício Permanente de Educação e Comunicação”.
Gociante Patissa
Gociante Patissa
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