quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Opinião: Uso obrigatório de capacete, é por aí que devíamos atacar?

Em 2008, um oficial da Polícia de Viação e Trânsito disse durante,
um debate por mim moderado, que "quatro em cada 
10 acidentes
 envolvem um kupapata (taxi motorizada)

Acompanho e apoio o compromisso das autoridades no combate à sinistralidade rodoviária. Já quanto às estratégias para se lá chegar, sinto-me no direito de questionar a pertinência destas quando a consciência assim o manda.

Resido na cidade de Benguela, que é das que registam em maior escala o serviço de mototáxi, vulgarmente conhecido como “kupapata” (motorizadas de marca Delop, 50 cmᵌ). E como observador, acrescento que a estrada que leva ao meu bairro é das que mais acidentes registam, acabando em perda de vidas humanas, quase que mensalmente. Refiro-me ao perímetro que vai do CRM ao aeroporto 17 de Setembro.

Relançada a campanha “Use o Capacete”, vimos acompanhando pela imprensa pronunciamentos de oficiais da Polícia Nacional alertando para breve o reforço de medidas coercivas. É bom lembrar que a mais recente polémica sobre a obrigatoriedade do uso do capacete, não apenas pelo condutor, mas também pelo cliente, data de 2008. A caminho de cinco anos, a questão que se impõe é: que há de diferente na aplicação de tal medida desta vez e que faltou em ocasiões anteriores?

Como automobilista, digo que não é a falta de capacete o problema principal. Longe de minimizar a importância daquele equipamento de protecção individual, realcemos, todavia, que há uma sequência de erros e lacunas que levam ao acidente. O que pretendemos proteger com o capacete é a vida, é certo, mas até chegarmos a esse ponto, já uma cadeia de conhecimentos, conduta e questões de comunicação foi quebrada.

Os “nossos” kupapatas, via de regra, desconhecem a noção de eixo da via. Sobre a rotunda, ocupam a faixa de dentro, quando desejam seguir adiante, logo a seguir mudam de faixa, sem considerar os sinais luminosos; andam cada vez mais fora de mão, por vezes desrespeitando o semáforo; retiram os retrovisores de suas morotizadas, o que os coloca em risco, pois calculam mal nas ultrapassagens o espaço entre veículos em movimento; não priorizam os travões, mesmo dentro das localidades, protegidos que se julgam pelo abuso das buzinas. Resumindo, os “nossos” kupapatas dão poucas garantias de dominarem noções elementares do código de estrada. Comprada a motorizada, basta-lhes saber que o polícia é azul e que a estrada é preta, creio.

Compreendo a necessidade que a Polícia Nacional e o governo de modo mais alargado sentem no sentido de controlar a situação. Mas penso que outras abordagens devem caminhar ao lado destas medidas coercivas, sob pena de continuarem sem efeito.

Como é feita a atribuição de licenças de condução? O que faz a Amotrang (que podia promover sessões de capacitação dos seus membros, enquanto interlocutora perante o governo)? Como será feita essa apreensão, tendo em conta a propensão que o kupapata tem de esquivar o polícia de trânsito? E para os outros, filhos de gente endinheirada, que vivem de “rachas”, “chutos” e “colagens”, haverá brigada especial?

Julgo que a sinistralidade rodoviária é reflexo da fraca moralidade social que assola o país, onde o desconhecimento e negligência andam abraçados. Há que reforçar, não só a prevenção e a punição, mas também o aprimoramento dos mecanismos de capacitação.

Gociante Patissa, Benguela, 28.11.12
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2 Deixe o seu comentário:

Luiz Filho de Oliveira disse...

A educação no trânsito, tanto dos condutores de veículos quanto dos pedestres (destes, as crianças merecem a maior atenção) é fundamental para reverter os índices de acidentes. É claro que o capacete é importante, mas, antes de tudo, é preciso formar condutores que respeitem as leis de trânsito. Sua preocupação é pertinente. Aqui, no Brasil, já temos uma legislação razoável e bons centros de formação de condutores, todavia ainda temos um alto índice de infrações e de mortes no trânsito.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Grato pelo contributo, caro Luiz Filho de Oliveira. Volte sempre e receba um abraço angolano

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