Estava deitado, como que a “comemorar” a chegada do serviço (um pouco mais cedo do que o habitual). E para aumentar ainda mais a preguiça, vinha aquela sensação de estar papado, que toma conta da gente depois de uma boa feijoada ao almoço…! Nada me tiraria da cama, e ponto final!
A porta já andava fechada para despistar a possibilidade de me darem cabo da tarde de relaxe. Estava em posse de um DVD (pirata, confesso, porque é impossível achar o original) sobre a história de Che Guevara. Com isso, uma ambivalência instalava-se: DVD ou seria melhor ver o jogo amistoso de futebol entre Angola Vs Cabo-Verde?
E antes mesmo que me decidisse pela prioridade, iniciou a vibrar na cama o telemóvel. Número desconhecido. “Caramba!, não o desliguei só porquê?! Agora, atendo ou não? Atendo só já, vamos fazer mais como?!”
- Tá sim, boa tarde.
- Sim, boa tarde. É o Patissa?
- Sim, quem fala?
- Aqui fala o vizinho do anexo do outro lado.
Era a ligação mais distante que podia esperar. Há quinze meses que cada um de nós ocupa um anexo de uma mesma senhoria, sem que tivéssemos tido a mínima oportunidade de conversar. Sei que é um moço magro e alto (não é difícil lembrar-se desse detalhe, que é cópia da minha estatura afinal). Bom, mas como lhe foi possível conhecer o meu nome, se a vizinha acha que me chamo Manuel? Por outra, de onde terá conseguido o meu número? Até agora não sei.
A chamada era para alertar que, na minha ausência, a senhoria costuma abrir a janela do anexo em que moro para mostrar o interior aos eventuais interessados (uma vez que já não renovo o contrato de arrendamento, que termina dentro de três meses).
Num misto de conselho e culpabilização, o “irmão” recomendou-me a trancar (mesmo!) a janela quando for a sair, a não ser que tenha autorizado a espreitarem o meu beco. Infelizmente, a fechadura da janela não está lá muito bem, só encosta “com segurança”, o que facilita tal gesto de "desespero" (é claro que não contei este detalhe).
A sorte é que já encontrei um outro anexo (ligeiramente maior até). Brevemente termina a reabilitação e mal posso esperar pela primeira noite! Melhor era voltar ao Lobito (mais perto de amigos e família), mas com a escola à noite e o trabalho, Benguela é a opção mais certa.
Com os preços do arrendamento a atingirem o cume do absurdo, não ficando para trás os terrenos, está instalada uma ravina na esperança dos jovens. Ou as políticas de habitação económica aumentam em número e em eficiência, ou continuaremos sujeitos a tudo.
Gociante Patissa, 25 Mar. 09
A porta já andava fechada para despistar a possibilidade de me darem cabo da tarde de relaxe. Estava em posse de um DVD (pirata, confesso, porque é impossível achar o original) sobre a história de Che Guevara. Com isso, uma ambivalência instalava-se: DVD ou seria melhor ver o jogo amistoso de futebol entre Angola Vs Cabo-Verde?
E antes mesmo que me decidisse pela prioridade, iniciou a vibrar na cama o telemóvel. Número desconhecido. “Caramba!, não o desliguei só porquê?! Agora, atendo ou não? Atendo só já, vamos fazer mais como?!”
- Tá sim, boa tarde.
- Sim, boa tarde. É o Patissa?
- Sim, quem fala?
- Aqui fala o vizinho do anexo do outro lado.
Era a ligação mais distante que podia esperar. Há quinze meses que cada um de nós ocupa um anexo de uma mesma senhoria, sem que tivéssemos tido a mínima oportunidade de conversar. Sei que é um moço magro e alto (não é difícil lembrar-se desse detalhe, que é cópia da minha estatura afinal). Bom, mas como lhe foi possível conhecer o meu nome, se a vizinha acha que me chamo Manuel? Por outra, de onde terá conseguido o meu número? Até agora não sei.
A chamada era para alertar que, na minha ausência, a senhoria costuma abrir a janela do anexo em que moro para mostrar o interior aos eventuais interessados (uma vez que já não renovo o contrato de arrendamento, que termina dentro de três meses).
Num misto de conselho e culpabilização, o “irmão” recomendou-me a trancar (mesmo!) a janela quando for a sair, a não ser que tenha autorizado a espreitarem o meu beco. Infelizmente, a fechadura da janela não está lá muito bem, só encosta “com segurança”, o que facilita tal gesto de "desespero" (é claro que não contei este detalhe).
A sorte é que já encontrei um outro anexo (ligeiramente maior até). Brevemente termina a reabilitação e mal posso esperar pela primeira noite! Melhor era voltar ao Lobito (mais perto de amigos e família), mas com a escola à noite e o trabalho, Benguela é a opção mais certa.
Com os preços do arrendamento a atingirem o cume do absurdo, não ficando para trás os terrenos, está instalada uma ravina na esperança dos jovens. Ou as políticas de habitação económica aumentam em número e em eficiência, ou continuaremos sujeitos a tudo.
Gociante Patissa, 25 Mar. 09
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E ainda não estás casado...
...Hoje em dia quem se casa xixila pra ter casa, mesmo com skema bué forte, é preciso muita sorte!... (SIC E. Paim)
Tens razão, Canhanga.
Ontem mesmo, antes de sair para o serviço, e com a senhoria e respectiva família presente, dei o troco. Depois de saudar.... Fui à janela, abria-a do lado de fora, como presumo que têm feito. voltei a fechá-la. Agarrei num prego e numa pedra, e lá estava eu no pú, pú, pú, a bloquear a janela. Agora é assim, quero ver mais quem me abre a janela às escondidas. Tão a gozar ou quê???!!!
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