Descobrimos no bairro do Setenta, em Benguela, um homem de 41 anos, cuja história de vida merece homenagem. Chama-se Júlio André. Quanto à profissão, isto, depende do local em que se encontrar. Se em Benguela é marceneiro, no Bocoio é professor.
Muito jovem ainda, Júlio teve de abandonar os estudos. «Eu estive a fazer a sexta classe em 1996 mas, para fazer os exames, fui obrigado a trazer o recenseamento militar. Isso impediu-me, porque não tive recenseamento, não tive adiamento. Então, depois de parar de estudar, já que não fui admitido a fazer as provas, isto obrigou-me a procurar um mano que fazia o trabalho de malas e estofava também cadeirões», contou.
As malas artesanais, vulgo "de chapa", eram a única fonte de sobrevivência. «As malas, que fazíamos, levávamos ao [armazém] “Fonseca & Irmão”. Fazíamos o câmbio com fuba [farinha de milho] e vendíamos a fuba. Por cada mala, nós recebíamos dois sacos [100 kg]».
E chegou o tempo em que as malas já não tinham saída. Mais uma crise a vencer. «Quase em 1991, paramos. Então, o dono da carpintaria tinha um camião. Metemo-nos na via, fazíamos viagens, Benguela-Sumbe, Benguela-Huambo, Benguela-Lubango. Depois disso, quando consegui a minha esposa, a responsabilidade tornou-se maior. Logo, começamos a pesquisar outros meios. E vimos que havia a necessidade de fazermos esse trabalho de marcenaria», revelou.
E como se dá o salto de marceneiro para professor? «Graças a alguns amigos – disse – que me incentivaram bastante [para] que pudesse continuar os meus estudos. Porque eu parei em 1986. Em 1992, depois da pequena paz, eu fiz ainda algum esforço, me matriculei. Mas, em 1993, depois dos confrontos, todos os documentos na escola foram roubados, e logo, perdi vontade de estudar. Até que um amigo apareceu tantas vezes aqui em minha casa para que eu continuasse a estudar», Júlio recorda, transparecendo gratidão no semblante.
Muito jovem ainda, Júlio teve de abandonar os estudos. «Eu estive a fazer a sexta classe em 1996 mas, para fazer os exames, fui obrigado a trazer o recenseamento militar. Isso impediu-me, porque não tive recenseamento, não tive adiamento. Então, depois de parar de estudar, já que não fui admitido a fazer as provas, isto obrigou-me a procurar um mano que fazia o trabalho de malas e estofava também cadeirões», contou.
As malas artesanais, vulgo "de chapa", eram a única fonte de sobrevivência. «As malas, que fazíamos, levávamos ao [armazém] “Fonseca & Irmão”. Fazíamos o câmbio com fuba [farinha de milho] e vendíamos a fuba. Por cada mala, nós recebíamos dois sacos [100 kg]».
E chegou o tempo em que as malas já não tinham saída. Mais uma crise a vencer. «Quase em 1991, paramos. Então, o dono da carpintaria tinha um camião. Metemo-nos na via, fazíamos viagens, Benguela-Sumbe, Benguela-Huambo, Benguela-Lubango. Depois disso, quando consegui a minha esposa, a responsabilidade tornou-se maior. Logo, começamos a pesquisar outros meios. E vimos que havia a necessidade de fazermos esse trabalho de marcenaria», revelou.
E como se dá o salto de marceneiro para professor? «Graças a alguns amigos – disse – que me incentivaram bastante [para] que pudesse continuar os meus estudos. Porque eu parei em 1986. Em 1992, depois da pequena paz, eu fiz ainda algum esforço, me matriculei. Mas, em 1993, depois dos confrontos, todos os documentos na escola foram roubados, e logo, perdi vontade de estudar. Até que um amigo apareceu tantas vezes aqui em minha casa para que eu continuasse a estudar», Júlio recorda, transparecendo gratidão no semblante.
.
Júlio dá aulas na localidade de Ngóa, comuna do Passe, no município do Bocoio. Tem a oitava classe feita e tem recebido superação pedagógica. Mas carrega ainda uma dor, a de não estudar. «A essa altura, a minha preocupação número um é encontrar alguém, que me ajude a sair na área em que estou a trabalhar, para que eu venha numa área onde pelo menos haja ensino médio – sustentou o compatriota – para ver se consigo concluir o ensino médio e, quem sabe, futuramente, para ver se conseguimos ir mais longe».
Ele tem quase pronta a sua própria casa de construção definitiva. Mas, confessa, é difícil trabalhar a centenas de quilómetros longe da família. Ou não ficassem aproximadamente 200 Km entre a cidade de Benguela e a povoação de Ngóa. «Tem havido entendimento na família. Porque às vezes eu passo o fim-de-semana lá, quando não tiver passagem de regresso, mas, quando tiver, vou na segunda-feira e na sexta sou obrigado a vir para me avistar um bocadinho com a família», esclareceu.
Quem cresceu sem os pais, sabe o que transmitir aos filhos. É o caso do marceneiro e professor, Júlio André. «Tenho estado a transmitir o espírito de que eles deviam estudar para terem uma formação, de maneira que amanhã, ainda que o pai ou a mãe não estiverem presentes, eles podiam conseguir se virar», sustentou.
Júlio dá aulas na localidade de Ngóa, comuna do Passe, no município do Bocoio. Tem a oitava classe feita e tem recebido superação pedagógica. Mas carrega ainda uma dor, a de não estudar. «A essa altura, a minha preocupação número um é encontrar alguém, que me ajude a sair na área em que estou a trabalhar, para que eu venha numa área onde pelo menos haja ensino médio – sustentou o compatriota – para ver se consigo concluir o ensino médio e, quem sabe, futuramente, para ver se conseguimos ir mais longe».
Ele tem quase pronta a sua própria casa de construção definitiva. Mas, confessa, é difícil trabalhar a centenas de quilómetros longe da família. Ou não ficassem aproximadamente 200 Km entre a cidade de Benguela e a povoação de Ngóa. «Tem havido entendimento na família. Porque às vezes eu passo o fim-de-semana lá, quando não tiver passagem de regresso, mas, quando tiver, vou na segunda-feira e na sexta sou obrigado a vir para me avistar um bocadinho com a família», esclareceu.
Quem cresceu sem os pais, sabe o que transmitir aos filhos. É o caso do marceneiro e professor, Júlio André. «Tenho estado a transmitir o espírito de que eles deviam estudar para terem uma formação, de maneira que amanhã, ainda que o pai ou a mãe não estiverem presentes, eles podiam conseguir se virar», sustentou.
.....................
Refira-se que a rubrica “Nossa Homenagem” é oferta do programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), às terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta.
Refira-se que a rubrica “Nossa Homenagem” é oferta do programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), às terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta.
..... AJS – “A cidadania é resultado de um exercício permanente de Educação e Comunicação”.
1 Deixe o seu comentário:
Meu percurso:
Caro Patissa,
Se um dia fores a Luanda e perguntares a senhores acima dos trinta anos o que é/foi sabão cocó, certamente encontres alguém que te explique.
Sabão cocó, eram restos da fábrica Induve, em Luanda, que os populares apanhavam, acrescentavam mais água e soda e desta mistura obtinham uma espécie de detergente líquido, mas bastante agressivo para a pele. Este produto eu comprei e vendi com os meus 10/11 anos. Era tempo difícil, tal como conto nas peripécias vividas pela minha mãe. Depois vivi em casa de um primo alfaiate (Gonçalves Manuel Carlos) e com ele aprendi a arte de talhar tecidos a costurar. Sou/fui alfaiate de 1987/90. Depois fiz um curso de electricidade em 1991/92 em Luanda e trabalhei como electricista de baixa tensão por algum tempo... Em 1992 fiz a minha estreia como professor primário. Primeiro dando aulas de superação (explicação) e depois no ensino público. Até emprego a amigos já dei na minha improvisada escola de superação. Em 1997, terminado o médio de jornalismo, comecei a trabalhar como jornalista na LAC e hoje já são tantas as publicações em que tenho impressão digital ou vocal. Hoje estou aqui como responsável da área de comunicação institucional de uma grade empresa (risos), pelo caminho fiu estudando e parando, mas sempre pensando no avanço. Parar é morrer.Tenho duas licenciaturas por defender; uma no ISCED e outra na UPRA mas se houver vida uma delas conseguirei.
Tal como o teu entrevistado, sempre defendi que filho de pobre tem apenas duas saídas: aprender profissão/ões e aumentar o nível técnico/académico.
Deus e o meu esforço permitiram com que homens de boa vontade me pudessem ajudar (mantendo=me empregado), mas tal como diz um ditado popular da nossa região, "quem se afoga deve ajudar o socorrista".
Um abraço.
Luciano Canhanga
Enviar um comentário